À espera

Hoje ela tinha certeza que ele viria encontrá-la. Todos os dias ela se arrumava para esperá-lo. Nunca deu ouvidos às tolices que as pessoas, que se diziam preocupadas com seu bem estar, falavam sobre isso. Tudo delírio, pensava. As pessoas têm mania de colocar suas certezas lógicas acima de tudo e depois ainda reclamam que passam a vida sem viver um grande amor.

Todos os dias era isso. Colocava o vestido que ele mais gostava, ele dizia que ela ficava linda de vestido longo e cabelo preso, então, após se vestir, gastava pelo menos meia hora ajeitando o coque, tinha que estar impecável. Fazia maquiagem de boneca. Atentava-se de forma milimétrica a cada detalhe. Sabia que não seria em vão. Sabia que se ele estava demorando para aparecer certamente tinha uma boa razão, não se aborreceria por isso, quando ele chegasse lhe explicaria.

Talvez estivesse resolvendo algo relacionado aos negócios, ele levava o trabalho muito a sério, costumava dar seu melhor. Poderia ainda está ajudando sua mãe com algo. Ela era viúva e sua saúde já estava debilitada, e como ele era o filho mais próximo, era quem sempre resolvia quase todos os assuntos da mãe. Ou pode até ser que ele esteja me preparando uma surpresa, pensava. Sim, era possível, ele era imprevisível e gostava de agradá-la.

Precisava se apressar. Não gostava de se atrasar. Fazia três anos que ela repetia o mesmo ritual, ia esperá-lo sempre no mesmo horário, no mesmo parque onde eles costumavam se encontrar e nunca se atrasara. Não se perdoaria se atrasasse e justo aquele dia ele aparecesse.

E saiu apressadamente de casa. Como sempre, não deu ouvidos às críticas da mãe, que lhe recriminava num tom preocupado, nem às cantadas dos homens que passavam durante seu percurso. Sinal de que estou bela, pensava, será que ele também iria achar? Perguntava-se ansiosa.

O fato de ela ficar todos os dias, durante horas, naquele parque, sentada em um banco, muitas vezes debaixo de chuva, não a desmotivava. Sua certeza de que ele, cedo ou tarde, acabaria aparecendo era inabalável.

Aproveitava para pensar nos bons momentos daquele romance. Era uma forma de revivê-los. O primeiro beijo, os passeios, jantares, noites juntos em que ele, depois de terem se amado, dormia, e ela, com a cabeça encostada em seu peito, ficava ali durante horas, procurando sentir da forma mais intensa que conseguia todo o encanto daquele momento. Textura da pele, respiração, cheiro, cada detalhe do seu rosto... Achava que era desperdício dormir enquanto estava com ele, mesmo que ele estivesse dormindo. E era assim nos momentos que estavam juntos. Mal participava, ficava observando, maravilhada cada gesto dele.

Lembrava de tudo isso com um sorriso no canto dos lábios, nem via o tempo passar. Quando dava por si, via que já havia se passado horas. E ia embora ansiosa pela chegada do dia seguinte. Não fazia mal, pensava, amanhã ele virá.

E seguia. Sempre com a mesma certeza.

Mas aquele dia havia algo diferente naquela certeza. Por alguma razão, sabia que não passaria daquele dia. Sua certeza a emocionava. Os olhos encheram-se de lágrimas. Aproximou o passo o máximo que pôde. Ao

atravessar a rua, o carro que vinha logo atrás do ônibus que estava parado a pegou em cheio.

Tudo muito rápido. Caída no chão, viu sem entender nada todas aquelas pessoas ao seu redor, olhando-a. Logo aquela imagem foi sumindo...

Finalmente! Era ele! Estava ali diante dela! E como estava lindo! Aquele era o momento mais feliz de sua vida.

Conseguiu ainda balbuciar:

- Eu tinha certeza que você estava vivo e que viria me encontrar...

Luciana Caroli
Enviado por Luciana Caroli em 18/02/2014
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