O DEUS POETA

PRECE

Senhor, a noite veio e a alma é vil.

Tanta foi a tormenta e a vontade!

Restam-nos hoje, no silêncio hostil,

O mar universal e a saudade.

Mas a chama, que a vida em nós criou,

Se ainda há vida ainda não é finda.

O frio morto em cinzas a ocultou:

A mão do vento pode erguê-la ainda.

Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia -,

Com que a chama do esforço se remoça,

E outra vez conquistemos a Distância –

Do mar ou outra, mas que seja nossa!

(Fernando Pessoa)

PRÓLOGO

Nove horas. Poderia ser uma manhã qualquer de inverno, mas não era. A chuva havia cessado há meia hora, um vento frio invadia o lugar, o sol aparecia timidamente entre as nuvens, sua luz contrastava com a escuridão que dominava todos que ali estavam. As flores tentavam adornar, mas não havia beleza alguma; lírios, cravos, margaridas, rosas e jasmins não exalavam o perfume da vida, o olor sentido trazia apenas o peso da morte.

No canto da sala jazia um homem destroçado, imóvel, ainda vivo, mas distante deste mundo. Seus olhos perderam o brilho, sua boca a voz imponente de outrora, sua face pálida e gélida competia com a dos cadáveres velados. As dores causadas pelos hematomas na face, cortes nos braços e perna quebrada foram anestesiadas pelo vazio que existia naquela alma. Fitava os corpos, antes quentes, que o abraçavam com amor e o faziam sentir-se o homem mais feliz do universo. Nunca mais os teria em seus braços, nunca mais seria recebido após o trabalho com amor, aos beijos, vendo o sorriso em seus rostos, ouvindo-os chamá-lo de “amor” e “papai”.

Todos os pêsames recebidos, palavras de consolo, incentivo e apoio, mensagens de fé e confiança em Deus eram inertes, sem efeito algum para ele. Nada que dissessem ou fizessem naquele momento o traria conforto e aliviaria sua dor. O medo e o desespero do futuro tão próximo, quando os caixões fossem fechados e os corpos enterrados, o dominaram. Chorava por dentro. Uma tempestade o consumia como se a chuva afogasse seu espírito e raios e trovões o rasgassem da cabeça aos pés. Porém, uma gota sequer de lágrima caía dos seus olhos secos e agonizantes. Pensou que sua vida não teria mais sentido; desejou ter morrido com a família, mas algo ou alguém desconhecido não permitira que ele percorresse o mesmo trajeto dos seus amores. Desmoronou ao ouvir o toque da marcha fúnebre no saxofone.

Paulo sentiu-se como a cidade de Macondo, do épico que tanto gostava: Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez, quando o autor narra que “o céu desmoronou-se em tempestades de estrupício e o Norte mandava furacões que destelhavam as casas, derrubavam as paredes e arrancavam pela raiz os últimos talos das plantações.” A alma desse pobre homem não refletia mais que as palavras extraídas do romance. Assim ele estava: com a mente e o coração despedaçados, sem esperança de sobrevida; não existia mais raiz que o prendesse a este mundo.

CAPÍTULO 1 – A DÚVIDA

Mexia-se de um lado ao outro da cama, inquieto como nunca. Balbuciou algo incompreensível, fez esforço, mas aquele pesadelo onde o monstro o aguardava no fim do precipício com a boca aberta, enquanto ele caía, não o deixava acordar espontaneamente, prendia-o ao seu inconsciente. Paulo ouviu algumas vozes distantes, sem identificar de quem seriam; brigou com o sonho, até que acordou assustado, cheio de beijos e com uma bela cesta de café da manhã no quarto. Era seu aniversário de 42 anos; sua esposa Priscila e seus filhos Lucas e Sara não deixariam a tradição de acordar o amado herói da família com festa.

--- Feliz aniversário, papai! Parabéns! Parabéns! – gritavam as crianças, em desordem, pulando na cama.

--- Obrigado, meus amores. Foi o melhor presente que o papai podia receber. – disse Paulo, antes de puxar cada um e dar-lhes um beijo no rosto.

--- Agora é minha vez de beijar meu amor. Feliz aniversário! Que Deus lhe dê muitos anos de vida! – falou Priscila ao marido, antes de dá-lo um selinho na boca.

Paulo era um advogado criminalista muito conceituado no estado; advogava há mais de 15 anos, e nesse período conseguiu credibilidade entre os clientes e prestígio no meio jurídico pela sua competência, chegando a presidir, inclusive, a Comissão de Advogados Criminalistas da OAB/AL. Possuía em seu currículo um leque de casos polêmicos, com grande repercussão dos júris mirabolantes, e isso possibilitou a valorização dos honorários, que lhe rendiam um excelente padrão de vida. Paulo era um homem por volta de 1,80 m, pouco acima do peso, em virtude de muito trabalho e do sedentarismo habitual. Possuía feições não tão agradáveis, mas era vaidoso e tinha muita firmeza nas atitudes, atrativos que o favoreciam na profissão e com as mulheres.

Casara-se com Priscila há 12 anos, e juntos tiveram Davi, de 9 anos, e Sara, de 7 anos. Embora na família fosse considerado um bom marido e pai, no meio profissional, com exceção do seu prestígio, era visto como um mercenário, austero e arrogante advogado, de poucas palavras, muito poucos amigos e alguns inimigos declarados nos tribunais, entre juízes e promotores de justiça. Sabia separar perfeitamente as pessoas com quem trabalhava do dinheiro que podia extrair delas.

Um dos poucos passatempos de Paulo era a literatura; gostava de romances a poesias; lia com avidez, e de vez em quando se arriscava com alguns poemas e outros escritos amadores. Autodenomina-se ateu, embora não fosse completamente convencido da inexistência de Deus. Venerava Machado de Assis, e tinha decorado, desde a adolescência, um parágrafo da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, o qual muito se identificava:

“Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de “menino-diabo”; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso. Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de côco que estava fazendo, e não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce “por pirraça”; e eu tinha apenas seis anos.”

Priscila era uma dentista especialista em ortodontia infantil, que trabalhava na área há mais de 10 anos, muito conceituada no meio e adorada por seus pacientes. Uma mulher doce e meiga, profissional dedicada e querida por todos; não fazia acepção de pessoas e não idolatrava o dinheiro; era o oposto da personalidade do esposo. Com 35 anos, era uma linda mulher: loira, altura mediana, cabelos ondulados, olhos castanhos e um sorriso perfeito. Conheceu Paulo num aniversário de seu primo Thiago, também advogado e um dos poucos amigos dele. Casou-se muito jovem, quando ainda estava na faculdade, e Paulo a ajudou a montar seu consultório após a formatura, uma vez que ele já estava estabilizado na profissão.

Mesmo com a grande diferença de personalidades, Priscila mantinha uma relação saudável com o esposo, baseada no respeito e com muito amor. Nunca tiveram problemas sérios durante os anos de casados, com exceção da cobrança de mais atenção para ela e os filhos ao marido, viciado em trabalho. Constituíram uma família típica da classe média, aparentemente feliz. Priscila dizia-se católica não praticante; não frequentava a igreja por implicância de Paulo. Anos atrás, com muito esforço, conseguiu casar-se numa bela cerimônia religiosa, mesmo com a relutância do noivo. Esse demonstrou ser um bom ator junto ao padre e convidados; a arte de representar o traria benefícios profissionais mais tarde, principalmente nas sessões de júri.

Pouco tempo depois de terminarem o café da manhã, enquanto Paulo descansava um pouco mais na cama e as crianças brincavam no jardim, Priscila começou os preparativos da viagem que fariam à tarde. Iniciou arrumando as malas dos filhos, passando para as de Paulo e sua; na cozinha, a empregada preparava o almoço com capricho, a pedido da matriarca. Era sexta-feira. Os quatro passariam o fim de semana num Hotel Fazenda no interior do estado, onde aproveitariam alguns dias do recesso das crianças, descansariam da correia cotidiana e comemorariam oficialmente o aniversário de Paulo, já que o mesmo não gostava de festas.

Com as malas prontas, após o almoço e alguns minutos de descanso, o casal arrumou as bagagens no carro; colocaram também isopores, redes de pesca e alguns brinquedos das crianças (vídeo-game, patins e jogos). Entraram no carro e seguiram a viagem que levaria aproximadamente 1 hora e 30 minutos. Saíram de casa por volta das 14 horas com a felicidade transbordando em seus rostos; há tempos não faziam um programa em família como esse. Não poderiam imaginar que a felicidade daquela tarde não duraria muito tempo e que jamais voltariam para casa.

O céu estava nublado, anunciava-se chuva no horizonte, no rádio tocava uma música qualquer de sertanejo universitário, enquanto Priscila e as crianças cantavam alegremente. Passaram por algumas plantações de cana; mais a frente avistaram gados pastando nas montanhas, uma sintonia perfeita da paisagem. Paulo suava frio, não entendia o porquê, pressentia algo não muito bom que estava por vir. À medida que avançavam na estrada, o suor descia com mais intensidade pela testa de dele, mesmo com o ar-condicionado na intensidade máxima. Priscila percebeu algo estranho com o marido e perguntou:

--- Amor, você está bem? Se quiser eu posso continuar dirigindo.

--- Nada demais, só uma dorzinha de barriga, mas dá para esperar até chegar no hotel. – respondeu Paulo.

Duzentos metros depois, uma buzina de caminhão desconcentrou Paulo e ele desviou o carro para a direita, temendo uma colisão. Sem perceber, perdeu o controle do veículo na pista esburacada e rompeu uma cerca de arame farpado a poucos metros da estrada. Gritos de susto e pavor dominaram todos. Em milésimos de segundo, o carro despencou pela ribanceira, capotando sem parar até cair virado dentro de um açude.

A água entrou rapidamente e todos, ainda conscientes, se desesperaram. Estavam presos no carro, se afogando, vendo a morte chegar. Paulo ainda viu o rosto de pânico da esposa e dos filhos. Ninguém conseguiu se soltar, o sistema elétrico acionou os air-bags e travou todas as portas. Paulo soltou o cinto de segurança, mas não conseguiu abrir sua porta. Em segundos, todos os outros já estavam inconscientes. Paulo bateu no vidro com toda a força; após vários socos quebrou o vidro lateral e conseguiu abrir a porta do motorista por fora. O sangue se misturou à água. Paulo saiu para respirar, ganhou fôlego e voltou em segundos ao carro, abriu a porta com muito esforço e tentou arrastar Davi, que estava do mesmo lado que ele, mas não conseguiu soltar o cinto de segurança que o prendia. O veículo afundava mais. Paulo nadou até o outro lado do carro, mas também não conseguiu tirar Priscila e Sara. O sentimento de impotência o angustiava.

A chuva começou devagar. Em pânico, Paulo subiu à superfície e nadou até a margem do açude. Ensanguentado e puxando de uma perna, olhou para a estrada no alto e começou a gritar por socorro. Naquele momento, o pobre homem refletia o sentimento de uma criança perdida dos pais numa floresta, pronta para ser devorada por lobos famintos. Algumas pessoas que presenciaram o acidente desceram a ribanceira para ajudá-los, mas, em fração de segundos, nada mais podia ser feito, as vítimas já estavam sem vida.

Paulo não enxergava mais nada, apenas o rosto de sua família agonizando até fechar os olhos para este mundo; só ouvia os próprios gritos de desespero ecoando em sua mente. As lágrimas se misturavam à chuva. Antes da ambulância e do resgate dos corpos chegarem, desmaiou nos braços de um estranho, acordando horas depois no leito do hospital, e com a mesma sensação de pânico de horas atrás. Paulo entrou em desespero, gritando como louco e tentando sair da maca; a equipe médica se apressou e lhe deu uma dose pesada de tranquilizante. O homem dormiu o sono dos desamparados e acordou no dia que seria o pior de sua vida: o do enterro da família. Essa mesma vida, em poucas horas tornou-se seca. Sonhou com Sinhá Vitória, do romance que ele tanto gostava:

“Apesar de ter boa ponta de língua sentia um aperto na garganta e não poderia explicar-se. Mas achava-se desamparada e miúda na solidão, necessitava um apoio, alguém que lhe desse coragem. Indispensável qualquer som. A manhã, sem pássaros, sem folhas e sem vento, progredia num silêncio de morte. A faixa vermelha desaparecera, diluíra-se no azul que enchia o céu.” (Vidas Secas – Graciliano Ramos)

Os ponteiros do relógio não pararam de funcionar, mas as horas após o enterro não fizeram sua evolução normal. O tempo parou, a vida se esvaiu do seu mundo. Paulo não mais vivia, estava em estado de choque, vegetativo, inanimado, vazio. Os dias subsequentes pareciam meses, anos, séculos; perdeu a noção de tempo, de espaço, de tudo. Por meses ficou recluso em casa, cheirando as roupas, apalpando os objetos deixados, recordando, sofrendo, se culpando, definhando, evitando pessoas, morrendo.

A polícia não atribuiu qualquer parcela de culpa a Paulo na ocorrência que exterminou sua família. Aquele trecho da estrada possuía um alto índice de acidentes; as testemunhas afirmaram que ele vinha dentro da velocidade permitida e provavelmente se assustou com o caminhão. Contudo, isso não o confortara em nada, trouxe até mais incômodo ao infeliz; talvez uma condenação criminal o eximisse da culpa por ter permanecido vivo. Sentia-se lançado ao espaço sideral e abandonado anos-luz de distância da Terra.

Paulo ainda não entendia o que acontecera, cada lembrança do momento era uma flechada em sua alma; a dor aumentava a cada dia, como uma cratera se abrindo em seu peito, rasgando-o de dentro para fora. Ninguém poderia trazer o antídoto do sofrimento vivido. Os artifícios de advogado aprendidos ao longo dos anos para convencer os jurados eram inúteis; seu prestígio profissional e polpuda conta bancária valiam tanto quanto o sargaço nas areias da praia. Sua vida transformou-se numa poesia melancólica bem ao estilo dos poetas do Mal-do-Século, repleta de angústia.

Nesse momento, um “ateu” começou a se revoltar contra o Deus que ele não admitia existir, jogando em Suas mãos a responsabilidade pelo seu infortúnio. Paulo questionou a benevolência e autoridade do Senhor ao afirmar que Ele é mau e perverso, o oposto do que afirmam os cristãos. Para ele, se Deus fosse bom, não permitiria que uma mulher e duas crianças inocentes morressem daquela forma. Paulo conseguiu um bode expiatório para a causa dos seus males, e nesse caso coube a Deus, o Pai da Eternidade, Maravilhoso Conselheiro e Príncipe da Paz a função de algoz. Não sabia Paulo que há milênios Deus houve a mesma história de lamentações.

CAPÍTULO 2 – O CAMINHO

Alguns meses se passaram. Mesmo operando lentamente, o cronômetro de Paulo neste mundo se negou a parar. Ao seu redor, muitos perderam, enquanto outros ganharam vida. Nos cemitérios o choro de dor, nas maternidades as lágrimas de alegria; nos parques e praças os sorrisos das crianças se confundiam com a beleza da natureza, o barulho delas com o canto dos pássaros. Deus se fazia presente em todos os lugares, em cada cor e som ao redor, embora aquele homem ainda não pudesse enxergá-Lo.

Paulo martirizava-se com as recordações de sua vida de pouco tempo atrás. Sentia uma saudade avassaladora dos filhos e da esposa, dos momentos em família, dos passeios, dos aniversários das crianças, das saídas ao cinema com a amada, dos sorrisos, dos beijos, dos abraços, dos choros dos filhos castigados após cometer alguma traquinagem, das reclamações da mulher por ele não baixar a tampa do vaso sanitário. Cada canção ouvida, refeição solitária, comercial de margarina, parente, vizinho ou amigo feliz, tudo o angustiava; foram incontáveis noites sem dormir. Por vezes, dormia e sonhava que sua família tinha feito uma viagem, mas quando ele acordasse todos estariam esperando-o para um café da manhã na cama. Ao despertar, e constatar que aquele sonho não era sua realidade, entrava em desespero. Mesmo após várias tentativas, recusara os convites para morar com os pais ou irmãos, pois queria estar só, lembrando-se dos momentos felizes e sofrendo com a memória dos seus amados. As perguntas que não saíam de sua mente repetiam-se ao longo do dia: “Por que comigo? Para que sobrevivi? Por que eles morreram?”.

A terapia e os antidepressivos ajudaram Paulo nesse processo de recomeço de vida, bem como a presença constante, mas sutil, dos parentes e poucos amigos que ele possuía. Voltou a trabalhar e tentava conduzir sua vida com uma aparente normalidade; os meses afastados fizeram-no perder muitos clientes, mas aos poucos as coisas se reorganizaram. A mudança da casa para um pequeno apartamento também colaborou para diminuir as lembranças que tanto o faziam sofrer. Com o tempo, jogou toda sua descarga emocional no trabalho, passando a produzir como um louco para ocupar todas as horas do seu dia.

Paulo sentia-se como um fantasma perambulando no mundo cruel que tragou sua esposa e filhos, deixando-o órfão. Pairava nos tribunais da vida, defendia criminosos, mas não podia fazer sua autodefesa. Sua sentença foi condenatória e a pena seria paga por toda vida neste mundo, pois não acreditava na eternidade. Não se considerava digno de morrer, nunca tentou suicídio, ficar vivo seria a penitência. Carregava toda a culpa do trágico acidente; às vezes a atribuía a Deus, mas no final, sempre voltava para si todo ódio do mundo. O vazio de sua alma era tão grande que apenas o Deus renegado poderia preenchê-lo, mas para isso ele teria que conhecê-Lo.

Na tarde de um fim de semana qualquer, passeando pela orla da praia de Pajuçara, algo que não fazia há tempos, Paulo sentou-se na Praça Multieventos e começou a observar. Enquanto o vento tocava seu rosto anunciando que ali ainda havia vida, observou as pessoas caminhando, os filhos brincando com os pais, os cães com seus donos, os carros passando em frente, os adolescentes em seus skates, os ciclistas pedalando, as jangadas no mar e na areia; constatou que o mundo vivia. Pela primeira vez, após muito tempo, sentiu o cheiro da maresia, dos frutos do mar e das amêndoas inebriando sua alma. Sua vida era como uma flor que perdera o cheiro; lembrou-se do romance O Perfume, de Patrick Süskind:

“Tudo isso ele poderia fazer, bastava querer. Tinha poder para tanto. Segurava-o na mão. Um poder que era mais forte que o poder do dinheiro, do terror ou da morte: o insuperável poder de fazer as pessoas o amarem. Só uma coisa esse poder não podia: não podia fazer com que ele mesmo cheirasse para si próprio. E ainda que chegasse a aparecer diante do mundo, através do perfume, como um Deus – se ele não podia cheirar a si mesmo e, por isso, jamais saberia quem ele era, - nada disso importava, não importava o mundo, ele próprio, o seu perfume.”

A alguns metros da escadaria da praça, embaixo de uma amendoeira, um homem numa cadeira de rodas, sem companhia alguma, olhava para o mar com um semblante de felicidade sem igual. Aquilo instigou a curiosidade de Paulo, que o observou por mais de meia hora, na mesma posição e com a mesma expressão facial. Com um incômodo nunca sentido antes, Paulo não se conteve, levantou-se da escadaria da praça e se aproximou daquele homem. Chegando devagar para não assustá-lo, parou ao seu lado, verificou que ele não possuía as pernas e tinha uma grande cicatriz no rosto. Paulo ficou em silêncio por alguns minutos e calmamente falou:

--- Senhor, desculpe-me pela indelicadeza, mas eu estava ali na praça e não pude deixar de observá-lo, sem ninguém, parado, olhando para o mar. O Senhor precisa de alguma ajuda para sair daqui?

--- Não, meu jovem, muito obrigado, mas estou bem e consigo sair sozinho. Meus braços ainda estão fortes. – respondeu o homem.

--- Perdão, não quis ofendê-lo.

--- Não tem por que se desculpar. Venho aqui todos os dias, e quando não venho adoeço. – continuou o homem, ainda olhando para o mar.

--- E quem o trás? – perguntou Paulo.

--- Venho só. Moro na Ponta da Terra, e não é muito distante daqui. Tem sempre uns probleminhas nas ruas, mas com o tempo aprendi a me virar e sempre chego.

--- Me chamo Barnabé, e o senhor? – perguntou o homem com um sorriso banguela no rosto e erguendo a mão em direção a Paulo.

--- Paulo. Muito prazer. – falou, correspondendo com um aperto de mão.

Um grande silêncio pairou entre eles. Barnabé continuava olhando a ermo, para o mar, numa expressão contemplativa; seus olhos brilhavam, esboçava um pequeno sorriso no canto da boca. Aquela felicidade inquietava Paulo. Como um homem humilde, aleijado das duas pernas, com uma grande cicatriz no rosto, sem ninguém para acompanhá-lo poderia estar feliz? Não se conteve e perguntou:

--- Senhor, mais uma vez me perdoe, mas por que está olhando para o mar tão feliz?

--- E há motivo para tristeza estando vivo, respirando e vendo as maravilhas que Deus criou? – respondeu Barnabé.

Atônito com a resposta, Paulo silenciou; não acreditava em Deus, mas nada falou. Para quebrar o constrangimento visível no rosto de Paulo, Barnabé abriu o coração àquele desconhecido:

--- Há 15 anos sofri um grave acidente no barco de pesca em que trabalhava. Sair para o alto mar era o que eu mais gostava na vida. Foi uma noite horrível, enfrentamos uma terrível tempestade. Éramos eu e mais 3 homens no barco em busca de peixes e lagostas.

Barnabé deu uma pausa, respirou profundamente e continuou:

--- O barco foi destruído, e dos homens apenas eu sobrevivi. Fui dado como morto e só me encontraram 2 dias depois, flutuando num pedaço de destroço, há 10 quilômetros do local acidente. Sobrevivi por um milagre e lutei para viver. Estava muito ferido e bastante desidratado. Minhas pernas gangrenaram e tiveram que ser amputadas, meu rosto levou 30 pontos. Passei 3 meses internado antes de receber alta do hospital. Parece uma história triste, não acha?

Paulo não respondeu, contudo, na mesma hora, veio à mente o fatídico acidente em que perdeu sua família. Todavia, não quis compartilhar sua história; a ferida ainda não estava cicatrizada, e era extremamente doloroso para ele reviver os fatos e constatar as perdas. Era muito mais fácil ouvir os outros, esconder seus traumas e permanecer sofrendo por dentro.

--- Como o senhor ainda consegue sorrir? – perguntou Paulo, profundamente tocado com o que ouvira.

Barnabé respondeu com outro sorriso no rosto:

--- Eu tive um amigo que me acompanhou, cuidou e deu forças a mim e a minha família em todos os momentos: durante o acidente, na internação e recuperação. Esse amigo me ajuda e faz tudo para alegrar minha vida até hoje. Devo minha felicidade a Ele. No leito do hospital fiz um juramento que enquanto estivesse neste mundo, viveria junto dEle e faria tudo que quisesse. Minha dívida é eterna.

Sinceramente comovido, com um tom de voz amigável, Paulo falou:

--- Deve ser muito bom ter um amigo assim. O senhor é um felizardo. A maioria das minhas amizades é por interesse. Como é o nome dele? Também é pescador?

Com os olhos radiantes, Barnabé respondeu:

--- Jesus Cristo, o Deus vivo, pescador de almas. Ele prometeu que meu sofrimento nesse mundo é passageiro e que minha vida é uma preparação para a eternidade. Quando olho para o mar vejo sua face e sinto sua presença no vento. Todos os dias me convenço do seu amor por mim e pelo mundo.

Repentinamente, Paulo se inquietou, aumentou o tom de voz e quase transtornado disse:

--- Não acredito nisso. Como o senhor pode acreditar num Deus que permite que pessoas inocentes sofram e morram, que vê tanta miséria no mundo e finge que não enxerga? Desculpe-me, mas acho que o senhor não gira bem da cabeça. Deus não existe; se ele existisse, todos poderiam vê-lo.

Com muita paciência e amor, Barnabé tirou um pequeno livro da lateral de sua cadeira de rodas e perguntou a Paulo se poderia ler para ele. Paulo se negou a ouvi-lo, pois reconhecera a Bíblia. Aquele homem que se dizia ateu não acreditava nas Escrituras, e muito menos no discurso de um crente. Porém, ao mesmo tempo em que o nome Jesus Cristo o revoltava, o hipnotizava.

Barnabé insistiu, porque sabia que aquela alma clamava pelo consolo de Deus, mas precisava ser confrontada. Percebendo que Paulo se acalmara um pouco e silenciara, estando ainda ao seu lado, abriu a Bíblia no livro de Jó e vagarosamente o leu:

“Depois disto, o SENHOR, do meio do redemoinho, respondeu a Jó: Quem é este que escurece os meus desígnios com palavras sem conhecimento? Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? Diz-me se tem entendimento. Quem lhe pôs as medidas, se é que o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel?” (Jó 38.1-5)

“Então, respondeu Jó ao SENHOR: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.” (Jó 42.1-7)

Ao terminar de ouvir aqueles versículos, Paulo estava com o coração apertado e os olhos cheios de lágrimas. Deus batia à porta de sua vida, através de um mensageiro, mas ele se recusava a abri-la. Tentou disfarçar a agonia, passou a mão no rosto, virou-se e saiu apressadamente, sem dar ao menos um até logo a Barnabé. Seus pensamentos estavam desconexos, quase foi atropelado por uma bicicleta e mordido por um cachorro.

Agora era Barnabé quem o observava se afastando atordoado dali. Em seu relacionamento de intimidade com o Senhor, sentia claramente o agir de Deus, através dele, na vida daquele homem. Paulo era mais um na multidão querendo entender seu lugar neste mundo e a razão do sofrimento ao seu redor, mas a resposta para suas dúvidas não viriam facilmente.

No caminho de volta para casa, Paulo sofria com as palavras de Barnabé, da sua história de sofrimento, fé e esperança aos relatos bíblicos. Inquietou-lhe a segurança com a qual ele falara sobre Deus, do amor de Cristo, do propósito de sua vida neste mundo, instigava-lhe a certeza que ele tinha de dias melhores por vir, com a promessa da eternidade. Barnabé tinha convicção que era apenas um passageiro, um estrangeiro na Terra, que ainda não tinha chegado ao seu destino, mas enquanto aqui estivesse, aproveitaria cada segundo de vida concedido por Deus, e faria o impossível para abençoar quem estivesse ao seu redor, pois era apenas um transmissor da graça divina.

Tudo isso era extremamente difícil de aceitar e entender, mas a alma de Paulo ansiava pela mesma certeza de Barnabé. Como um homem com uma história tão sofrida, ou até mais dolorosa que a sua, podia ser feliz? Lembrou-se de um romance que lera ainda na faculdade, do contraste entre a leveza e o peso da vida, levantado pelo autor, reverberando que:

“A vida humana só acontece uma vez e não podemos jamais verificar qual seria a boa ou a má decisão, porque, em todas as situações, só podemos decidir uma vez. Não nos é dada uma segunda, uma terceira, uma quarta vida para que possamos comparar decisões diferentes.” (A Insustentável Leveza do Ser – Milan Kundera)

Cogitou a possibilidade de conhecer uma igreja, de saber mais sobre esse Deus que despertava sua curiosidade, que o incomodava. Iria a um culto apenas como um crítico, para comprovar que tudo aquilo era ilusão, uma farsa. Mesmo não tendo essa percepção ainda, Paulo era tão atraído por Jesus Cristo quanto uma barra de ferro por um ímã. Na verdade, ele só queria se sentir acolhido e amado, queria entender o propósito de estar vivo, de sobreviver à morte de sua família. Tinha ânsia de encontrar seu lugar no mundo, algo que o dinheiro e o prestígio nunca comprariam.

EPÍLOGO

Alguns dias se passaram após o encontro com Barnabé. Nunca havia entrado numa igreja evangélica. Fugia daquele lugar como o louco de um hospício, evitando o doloroso tratamento a ser aplicado; até então não queria ser medicado, mas sua alma clamava por ajuda. Na verdade, Paulo generalizava e achava todos os cristãos um bando de alienados ou charlatões; Jesus Cristo era apenas o captador de doações de dinheiro para enriquecer o bolso de poucos. Aquela teologia da prosperidade e saúde, erroneamente promovida por muitas denominações religiosas, não poderia ser aplicada à sua vida. Mas, as palavras de Barnabé ainda ecoavam em sua mente. Paulo não enxergava ainda, mas como grande parte dos que ali estavam, buscava um tratamento de terapia intensiva que só o Senhor poderia ministrar.

O encontro marcado com Cristo não tardaria a acontecer. No canto esquerdo da igreja, próximo à porta de saída, sentado no meio da multidão, solitariamente, aparentemente despercebido, estava Paulo. Enquanto os hinos e canções eram entoados, Deus sendo louvado e exaltado, as lágrimas caíam de seus olhos e uma sensação de fogo ardia por todo o corpo. Era algo inconsciente, nem ele mesmo entendia o que se passava em sua mente e coração naquele momento. O que estava fazendo ali? O que buscava? O Senhor sabia: o propósito de sua vida. Pela primeira vez, Paulo sentia Deus.

Há alguns anos, Paulo lera um romance narrado na Turquia que relatava a esperança em meio ao sofrimento, riquíssimo em poesia: Neve, de Ohan Pamuk. Enquanto o pastor pediu para orarem, como ele não sabia o que fazer, personificou mentalmente o protagonista da história, e viveu o trecho do livro:

“Depois de ter olhado a enciclopédia, Ka enfiou a mão no bolso e, como um estudante que se senta para fazer a lição de casa, sacou o caderno. Começou a escrever um poema, o décimo que lhe viera à mente desde que chegara a Kars. Nos primeiros versos, ele exaltava a singularidade dos flocos de neve, e em seguida falava se suas lembranças de infância daquela figura de mãe com o filho, que agora ele não encontrara no final do quarto volume da enciclopédia. Nos últimos versos do poema, traçou um diagrama que representava a si mesmo e seu lugar no mundo, seus medos particulares, os atributos que o distinguiam, sua singularidade. O título que deu ao poema foi “Eu,Ka”. ”

No assento da igreja, com os olhos visivelmente marejados de lágrimas, Paulo ouvia atentamente a tudo, aquilo confortava inexplicavelmente sua alma. No púlpito, o pastor iniciou o sermão do dia: “Tempo de Mudança”, com a ideia central em Romanos 12.2: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimente a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.”.

Todas as palavras que saiam da boca daquele ministro do Evangelho, todos os versículos bíblicos e ilustrações citadas foram cravados no coração de Paulo. Não havia dúvidas, Deus dialogava com aquele homem que há pouco tempo negava Sua soberania, e tinha um plano para sua vida. Paulo sentia fome da Palavra, queria conforto, consolação, amor; abriu seu coração, queria ser alvo da misericórdia daquele Deus que até pouco tempo não aceitava. Com o tempo, entenderia o porquê de sua vida.

Chorava copiosamente. Logo após o apelo pastoral, sem perceber, já estava à frente da igreja, seria alvo das orações do pastor e dos irmãos na fé, faria um compromisso com Deus, receberia Jesus em seu coração e o deixaria dominar sua vida, ganharia a vida verdadeira. O piano tocava ao fundo; lembrou-se do nascimento dos filhos, da esposa no altar, dos sorrisos, dos aniversários das crianças, das festas de Natal, dos beijos e abraços, do último café da manhã que tomou em família, deles cantando minutos antes do acidente, do semblante desesperado de todos presos no carro. Naquele momento, a dor e o sofrimento de outrora foram substituídos por uma imensa esperança em seu peito, uma alegria inexprimível o dominou, sentiu as mãos de Deus tocando seu ombro e ouviu Sua voz dizendo: “não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus (...)” (Is. 41.10). Sentiu-se livre como uma águia, sobrevoando mares e montanhas, com o vento da liberdade tocando seu rosto, enxergando e sentindo vida. Sua alma estava incrivelmente leve.

Após sua conversão ao cristianismo, Paulo, já em frente à igreja, andava em direção ao carro. Sentiu-se como o jovem anti-herói Raskólnikov saindo da prisão na Sibéria; sua redenção foi conquistada através da aceitação de Cristo. A caminhada rumo ao Paraíso seria longa, mas tinha a certeza no coração que encontrara seu lugar nesse mundo. Lembrou-se do desfecho do romance:

“Mas aqui começa uma outra história, a da gradual renovação de um homem, da sua regeneração paulatina, da sua passagem progressiva de um mundo para o outro, do seu conhecimento de uma realidade nova, inteiramente ignorada até aquele momento.” (Crime e Castigo – Fiodor Dostoiévski)

Meses se passaram. Cultos de adoração na igreja, estudo bíblico e comunhão com os irmãos em Cristo fizeram parte da rotina do novo homem, impulsionando seu crescimento espiritual; era um aluno aplicado, apaixonado, com sede de Deus, e todos ao seu redor percebiam. As prioridades de Paulo agora eram outras: passou a valorizar pessoas em detrimento do dinheiro, via homens como clientes, e não como números; aproveitava melhor seu tempo, dava mais atenção à saúde; passou a visitar a família e amigos, a participar das atividades da igreja.

Em várias ocasiões, Paulo teve recaídas que o remetiam a sua vida anterior, à sua natureza falha; estava longe de ser um homem santo ou perfeito, mas tentava melhorar diariamente; altos e baixos sempre existiriam em sua vida, como na de todo e qualquer homem. A dor pela perda ainda existia em seu peito, mas a ferida estava cicatrizando aos poucos. Agora, Paulo podia compartilhar seus anseios com um grande amigo, que sempre lhe dava um ombro para chorar e uma mão para ajudar e incentivar na caminhada: Jesus. Sentia paz de espírito, algo que nunca havia encontrado até então.

No crepúsculo, com o sol avermelhado brilhando ao fundo e as ondas do mar dançando em sintonia, a bela paisagem em preto e branco de outrora ganhara cores e vida. Sentado embaixo da mesma árvore onde que aquele homem de felicidade radiante, meses atrás, lhe apresentara Cristo, na acolhedora sombra da amendoeira, enquanto o vento tocava-lhe o rosto e balançava as folhas lá no alto, Paulo se confundia com a terra que lhe sujava a roupa. Inspirava suavemente o cheiro das folhas, das amêndoas e do sal do mar.

Naquele lugar, Paulo conheceu o maior e mais sensível poeta de todos, criador do universo, do tempo, do homem: Deus. Paulo começou a entender que a linguagem de comunicação preferida do Senhor era a poesia, e Ele escrevia com a vida e com a morte, sob os raios do Sol ou na escuridão da noite, no colorido ou em branco, com música ou no silêncio, com cheiro das flores ou do barro, com um beija-flor ou um falcão, com o sorriso ou choro, com uma criança inocente ou um assassino sanguinário, em pouco ou muito tempo; tudo era razão de poesia.

Junto àquela árvore, sentindo a presença de Cristo, para Paulo, seu passado foi sepultado e seu futuro seria promissor, pois a eternidade o aguardava. Inspirado e amado, o novo Paulo imaginou um poema em homenagem àquele que seria seu foco, porque lhe deu uma nova vida. Voou alto nos pensamentos e rabiscou na mente, em poucas palavras, o poema: “O Deus Poeta”.

Porém, o livro da vida de Paulo estava em fase de composição; alguns personagens já passaram pela história do protagonista e outros ainda cruzariam com ela. As páginas subsequentes do romance seriam repletas de emoções, com drama, romance, humor e suspense; acertos e erros seriam cometidos por Paulo, mas a trajetória do herói seria inspirada e inspiraria outras vidas, com o desfecho de final feliz anunciado. Tudo isso reflexo da mente criativa do Grande Escritor, que tem como característica dar intensidade, na medida exata, à vida de cada personagem imaginado.

O POETA

Olhos que recolhem

Só tristeza e adeus

Para que os outros olhem

Com amor os seus.

Mãos que só despejam

Silêncios e dúvidas

Para que outras sejam

Das suas, viúvas.

Lábios que desdenham

Coisas imortais

Para que outros tenham

Seu beijo demais.

Palavras que dizem

Sempre um juramento

Para que precisem

Dele, eternamente.

(Vinicius de Moraes)

Robson Alves Costa

(06/03/2014)

Robson Alves Costa
Enviado por Robson Alves Costa em 06/03/2014
Reeditado em 08/03/2014
Código do texto: T4717487
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