Se puder leia...

TODA VIDA É UMA HISTÓRIA

MAS ALGUMAS VIDAS TÊM HISTÓRIAS TÃO MARAVILHOSAS

ATÉ MESMO ESTÃO ENVOLTAS EM MISTÉRIOS

SENDO ASSIM, ALGUMAS VIDAS DA GOSTO DE SEREM LIDAS...

Este fato se deu no ano de 1996, que pretendo relatar este episódio com minha mãe,

Ela, D.ª Maria Vitória, 16 filhos, naquela época deste relato estavam 12 filhos vivos, dos 4 filhos que faleceram apenas uma partiu com 14 anos, os outros partiram ainda criancinhas. Minha mãe foi uma guerreira nata.

De minha casa a observo, sentada naquela sua cadeira habitual. Noto pelo seu semblante uma alta capacidade de contemplação, reflexão. Lembro que tinha de continuar a escrever sua biografia, a qual já havia começado. Aproximei dela ansioso para que ela tivesse disposição de continuar relatando suas história que ela sabia fazer muito bem, aliás, ela era uma autêntica contadora de histórias, como eu já havia escrito algumas vezes.

Então aproximo tentando uma leve descontração dizendo:

--- Minha mãe, como vai sua força, disposição para continuar?

--- É lógico que precisamos continuar. Estou muito bem! Acho que você é que está com indisposição, (sua franqueza era no ato) sabe meu filho, eu praticamente não tive infância, fui obrigada a casar com apenas 14 anos. Eu um pouco insistente a interrompo bruscamente:

--- Nossa! Conta como foi isso?

--- Deixa eu continuar, Me interrompa só quando for preciso!!! (ela fala bem séria, depois volta a relatar cheia de detalhes)

--- Um dia sua vó chega em casa e me diz:

--- Maria, você vai casar, já está tudo acertado, o Luiz é um rapaz bom, trabalhador.

Eu completamente atordoada falo:

--- Mas mãe, eu não quero casar.

--- Nada disso, você vai casar e pronto. Estou pensando no seu futuro.

Estava atento com o relato de minha mãe, mas faço mais uma brincadeira dizendo:

--- O papai estava de olho na senhora, não é!!!

--- Ah! Que nada, o coitado estava tão assustado quanto eu, apesar de que ele tinha 18 anos.

Então o casamento foi realizado (ela continuava, parecia que estava vivendo o que contava)

--- Depois foi só alegria, não é mãe?

--- Alegria?! Foi os períodos mais tristes de minha vida. Não que seu pai fosse ruim, ao contrário era uma excelente pessoa reconhecidamente por todos que o conheciam.

Os primeiros anos de casada foram cruciais, não havia entrosamento entre nós, as discussões eram quase diárias. Parecia que o mundo desabava só no meu lar...

Depois veio as crianças, as dificuldades de nossa relação aumentavam.

Eu arrisco mais um puxão de orelha, digo:

--- Nossa! Mãe, e ainda assim foram 16 filhos!!!

--- Foram 16 filhos... mas espere eu concluir o que pretendo dizer (ela responde com semblante mais calmo e uma leve tristeza) hoje em dia as pessoas namoram, vem o noivado, às vezes foram feitos um para o outro, como diz o ditado popular, entretanto, quantos casais separam num piscar de olhos, por coisas banais.

Por isso Lourenço, o que vou te contar tem tudo a ver com minha experiência religiosa e o mais importante, minha fé.

Eu estava desesperada com a situação de minha vida no meu lar. Um dia eu conversei com meu confessor Padre Washington, um Monsenhor que dava assistência religiosa no nosso povoado. Expus a minha situação, ele com toda sua sabedoria me disse:

---Filha, não existe mar de rosas, não existem paraísos se não trabalharmos para isso. A felicidade pode estar em qualquer lugar. Vamos analisar, por exemplo, o teu caso as brigas continuam a todo vapor e se você procurar ver principalmente o lado positivo de teu marido, tentar isolar o lado negativo que todo ser humano tem.

Fiz exatamente isto, (continua minha mãe, o seu modo de contar era tão preciso que parecia estar presenciando no passado aqueles fatos de sua vida) foi como se uma luz maravilhosa iluminasse meu caminho que estava nas trevas. Não quero dizer que nunca mais houve brigas entre mim e seu pai, só que foram diferentes, sempre vinha o perdão. Pude sentir o quanto seu pai era bondoso, carinhoso.

Aí termina esta história, noto os olhos de minha mãe marejados de lágrimas de pura emoção...

Eu lembrava de meu pai, apesar dele ter morrido há mais de 50 anos e eu tinha mais ou menos 13 anos, meu pai era realmente calmo, humilde e bondoso, minha mãe, enérgica e muitas vezes autoritária por causa de sua franqueza e espírito de liderança nata, mas sabia ser bondosa e amorosa com todos, pois foi uma catequista e sempre dizia que a legião de seus alunos do catecismo os considerava filhos indicados pelo Nosso Senhor, o seu Mestre e Salvador.

Mas, trocando em miúdos, esta história entre tantas que estão na biografia de minha mãe, que faleceu em 2010 com quase 100 anos. Depois deste relato outros meus irmãos faleceram até mesmo antes do falecimento de minha mãe.

Ah! Mas isto são outras histórias...