Amor impossível

Parte I

Ele me olhava de longe, com aqueles olhos azuis, que me faziam arder como se me queimasse por dentro. Eu estava naquela festa de aniversário sentada ao lado das minhas melhores amigas: Claudia, ALexia, Lorena e Rose. Elas falavam sem parar e riam muito, mas meus olhos e minha mente estavam voltados para ele. Eu ria junto a elas, mas na verdade não sabia do que elas estavam falando, de tempos em tempos meus olhos voltavam-se para ele. Ah! Meu Deus, como ele podia me prender tanto assim? Parecia hipnose... Minhas amigas chamaram minha atenção dizendo: _ Luiza, Luiza, está no mundo da lua? Vamos ao banheiro? Mas, apreciá-lo era tão bom que eu disse: _Vão vocês, eu espero aqui.

Para minha surpresa, ele começou a caminhar em minha direção, pensei que fosse passar perto de mim apenas, destilando aquele delicioso perfume, mas ele fez mais, ele puxou a cadeira e sentou-se ao meu lado. Eu comecei a tremer inexplicavelmente, pois não esperava aquela reação dele.

_Boa noite, Luiza!

_... Boa noite, Henrique!

_Posso falar com você um minuto?

_Cla...Claro - Que vergonha! eu estava gaguejando de tanta emoção, e olha que tentava me controlar ao máximo, mas ele era muito lindo, meu amor platônico há 5 anos. Aquele momento era demais para mim.

_Sabe Luiza, há tempo que eu queria te falar uma coisa... é que... Ah! vou ser direto: Eu não consigo parar de pensar em você, eu te admiro muito: sua inteligência, sua beleza, seu caráter, tudo em você me atrai.

Ele então passou a mão naqueles cabelos loiros num movimento quase mágico, que me hipnotizou totalmente. Não sabia o que dizer, parecia um sonho se realizando, e eu precisava falar alguma coisa, mas estava sem palavras. Então, as meninas voltaram do banheiro, quando viram ele do meu lado, pararam, cochicharam entre si e saíram rindo como sempre. Estava tão estupefata, não sabia o que fazer, apenas sorri. Ele entendeu meu estado de êxtase, que me olhou e devagar colocou sua mão quente sobre a minha - o mundo desapareceu para mim, só estávamos eu e ele. Para completar, ele disse:

_Eu gosto muito de você Luiza! Foi então que eu ouvi:

_Luiza! LUIZA ACORDA, você vai perder o ônibus para a escola! - Ah! que péssimo era só um sonho.

Parte II

Me arrumei bem, estava mais animada que o comum aquela manhã. Adorava aquele uniforme da escola - a blusa branca com o emblema azul e a saia num tom azul escuro - mas as demais colegas usavam calça ou bermuda, acho que só 1% das alunas usavam saia por serem evangélicas como eu. Odeio me sentir diferente. As vezes só quero me sentir igual a todo mundo, mas penso numa frase que nunca vou esquecer: "Tenho direito de ser igual quando a diferença me inferioriza. Tenho direito de ser diferente quando a igualdade me descaracteriza”. (Boaventura de Souza Santos). E além disso me alegro muito em saber que faço isso por amor ao meu Deus. Ao chegar na Escola foi até engraçado, parecia que minhas colegas adivinharam o que eu havia pensado durante a manhã, vieram me interrogando:

_Luiza, por que você usa saia? - Eu respondi logo, pois esse assunto estava fresquinho em minha mente.

_Por que é uma prova de amor que eu faço a Deus! Tenho muita fé no meu Deus, tenho plena consciência que tudo o que eu tenho e o que sou provém Dele, então como prova de amor procuro dedicar minha vida a Ele, seguindo os ensinamentos que Ele deixou na Bíblia.

_Mas para quê você vai abdicar de tantas coisas - como ir a festas, beber, dançar, namorar, usar qualquer roupa - por causa de um Deus que você nem sabe se existe?

_Eu tenho plena certeza que meu Deus existe! É uma experiência individual que eu vivi com Deus. Você só entenderá quando viver uma experiência única, e tiver intimidade com Deus. Ninguém me obriga a nada. Eu faço por amor ao meu Deus. Ele tem me abençoado e falado muito comigo, depois te conto com calma, vamos para a sala pois o sinal já tocou.

Depois na sala de aula todas as meninas estavam com uma revistinha adolescente ensinando como beijar. Até tinha um teste bem idiota de passar o batom na boca e beijar a revista. Dependendo do espaço entre os lábios tinha uma pontuação. As meninas morreram de rir pois eu disse que sou BV (boca virgem) e elas que já estão "cansadas" de beijar os garotos tiraram uma pontuação menor que a minha. Todas começaram a rir e dizer:

_ (risos)... Não acredito que a Luiza que é BV tirou 10 no teste da revista e a gente tirou menos!

_ Já eu não acredito é que você é BV Luiza.

_ Sou sim Paula! Nunca beijei ninguém.

_ Mas já estamos na 8ª série, temos 14 anos e você nunca beijou? Fala sério! Tira onda de crente, mas já deve ter beijado muito.

_ Eu não preciso provar nada para você Paula. E não tiro onda de crente não. Eu sou uma serva de Deus, e Ele tem me abençoado muito. Dá licença. - Eu sai e deixei a Paula lá, senti que ela estava me insultando. Duas colegas ficaram lá com ela e depois de certo tempo fomos fazer trabalho nas mesas do pátio da escola. Eu gostava muito daquele espaço, com aquelas mesas de mármore claro, compridas, com bancos já construídos, junto ao chão, aliás gostava muito de estudar naquela escola. Foi então que a Juqueli, a colega que havia ficado junto com a Paula aproximou-se de mim e disse:

_Luiza, tenho um babado para te contar: a Paula disse que está com raiva de você e por isso quer ficar com o Henrique, só por que você gosta dele. Ela disse ainda que você é a maior idiota do planeta. Ela te chamou até de "anta do agreste" por que você não tem coragem de falar com o Henrique que gosta dele. Ela disse que vai fazer de tudo para ficar com o Henrique.

Nossa! Meu mundo caiu naquele momento. Meu amor de tanto tempo ameaçado por aquela menina que se dizia minha amiga, mas me recuperei e disse:

_Tenho certeza que ele não vai aceitar ficar com ela! - Na verdade não tinha certeza de nada, mas precisava responder aquela provocação... A aula terminou e fui para casa um tanto decepcionada. Eu nem tinha como vê-lo de longe para confortar meu coração, pois ele estudava no 1º ano do Ensino Médio, a noite. Mas, tudo bem. Cheguei em casa e depois de fazer o serviço e as atividades escolares, escrevi muito na minha agenda, então tive um pouco mais de esperança, pois escrever sempre aquece meu coração e endireita os pensamentos. No fim das contas estava feliz.

Parte III

Fui a igreja na noite seguinte, me arrumei animada com a esperança de vê-lo ao menos de longe. Ah que amor! Não consigo esquecê-lo e nem sequer nunca falei com ele. Mas as vezes penso que ele sente o mesmo por mim. É a forma como ele me olha, parece sair fogo do olhar dele...

Estava lá na igreja, rindo com as colegas,dizendo que estava sentindo um monte de perfume de "véio" misturado. As meninas riam tanto, quando de repente eu senti minhas costas queimando, como se alguém estivesse me observando, senti fisicamente mesmo, então instintivamente me virei e deparei-me com ele me olhando fixamente, com aqueles olhos azuis que me tiravam do chão. Notei que ele sorria, então naturalmente olhei para trás para ver se ele estava sorrindo para outra pessoa que estivesse atrás de mim. Senti-me uma boba por fazer isso, pois só estava eu, só eu, naquela direção em que ele sorria lindamente, por um minuto tive a certeza de que ele gosta de mim, senti tanta vontade de falar com ele, mas as circunstâncias nunca permitiram. O culto terminou e todos saíram. Eu ainda pensei em esperar para tentar falar com ele, mas os colegas dele o chamaram para ir e minha mãe também já me chamava para irmos para casa. Senti meu coração apertado, com vontade de declarar meu amor a ele...

Ao chegar em casa, minha mãe pediu que eu fizesse um suco de manga, e quando fui bater no liquidificador, gritei em meio ao barulho: _"Eu amo Henrique!!!" Depois morri de rir e fiquei preocupada se alguém ouviu a minha declaração de amor desesperada.

Acordei bem cedo aquela manhã e fui para a escola muito feliz pelo sorriso de Henrique. As vezes me sinto uma boba como se vivesse algo irreal, mas penso bem e tenho certeza de que é tudo real, Henrique é real, aquele sorriso foi real e sinto que um dia estaremos juntos, viveremos uma linda história de amor. Sinto que com ele, será perfeito, como não poderá ser com ninguém, só com ele, pois ele foi escolhido pelo meu coração, tenho certeza de que ele é o amor da minha vida! Já estávamos na última aula quando ouvi em meio aos meus pensamentos:

_ Luiza, Luiza!!! Você não vai acreditar no que eu tenho para te contar! Corre aqui menina!

Confesso que tomei um susto, com aquela gritaria. Era minha amiga Juqueli dizendo:

_Você não imagina o que eu ouvi os meninos falando ali no portão da escola.

_O quê? Fala logo. Você está me matando de curiosidade.

_Sabe quem vai se mudar? Vai embora dessa cidade?

_ Quem? - Meu coração gelou, não podia ser ele, não antes que me declarasse.

_ É o Henrique, ele mesmo! - Aquilo soou como uma facada em meu coração. Me segurei para não chorar na frente dela... Ela notou minha decepção e disse:

_ Eu sinto muito Luiza.

Fiquei desnorteada e disse:

_ Eu já vou. Tchau.

Ao chegar em casa só joguei a mochila de lado, achei um canto próximo a cômoda do quarto da minha mãe, sentei-me no chão, com as mãos sobre os joelhos e chorei, chorei, me debulhei em lágrimas. Meu amor estava indo embora. O que será de mim?

Não sabia o que pensar, tudo aquilo era demais para mim. Não tinha nem com quem falar sobre isso. Minha irmã era mais nova e não entenderia meu estado, minha mãe menos ainda, então apenas chorei por horas a fio. Me perguntei inúmeras vezes porque eu não falei com ele enquanto tive oportunidade, enquanto ele ainda estava aqui. Espere: _Talvez ele ainda esteja aqui. Talvez eu ainda possa falar com ele. Já sei! Vou agora até a casa dele. Vou declarar todo meu amor. Vou dizer que espero ele o tempo que for preciso. Ah! Meu Deus! Será que tenho coragem suficiente? Não sei, mas vou agora, antes que seja tarde demais. - Então corri, me arrumei, enxuguei as lágrimas e fui. Deparei-me andando rápido, quase correndo, aliás corri alguns metros. A adrenalina invadiu todo meu corpo. Meu coração nunca estivera tão acelerado como naquele momento. Mas, será agora! EU VOU DIZER A ELE O QUANTO O AMO!... Já me aproximava da casa dele quando, comecei a reduzir a velocidade dos passos. Meu coração parecia que ia sair pela boca. Quando de repente... Ah! Que decepção! Foi inevitável chorar. As lágrimas corriam pela minha face com tanta força e muito rápido, pois a casa estava fechada. O quintal estava vazio. Tudo tão escuro, frio, vazio. Apenas chorei. Já não era possível mais dizer ao Henrique o quanto o amava. E agora? Para onde ele foi? Ele foi embora e eu não sabia nem sequer a cidade. O que será de mim? Não posso suportar tanta dor. Queria morrer. Até chegar em casa, caminhei devagar, chorando, soluçando sem conseguir me conter, sem conseguir parar. Ao chegar em casa a única coisa que me veio a mente foi orar a Deus e pedir forças para suportar esse momento. Coloquei meus joelhos no chão e orei ao meu Deus com toda minha alma, pedindo que Ele trouxesse meu amado de volta!

Parte IV

Conversei com algumas pessoas próximas a ele na tentativa de descobrir onde ele foi morar, e então descobri que era numa cidade que fica a 2 horas daqui de Alegre onde moro desde que nasci, chama-se "São José dos Calçados". Inicialmente pensei em de alguma forma ir atrás dele, mas depois de certo tempo cai em mim e entendi que não era possível. Tive uma infância pobre, minha casa é de madeira, não tinha dinheiro para viajar, tinha o suficiente para a comida, nunca tive certos luxos. Se dissesse para minha mãe que queria dinheiro para viajar em busca do meu amor, era capaz de receber uma surra. Estava destroçada, não sabia o que fazer. Já havia pensado em desistir de tudo e tentar esquecê-lo, mas meu coração não permitia...

Os dias foram passando e eu tentava ocupar minha mente com os estudos, tentava sem sucesso parar de pensar nele. Estudava tanto que acordava 5:00h da manhã para estudar para provas, apresentações de trabalhos e tinha tudo decorado na memória, só tirava nota 10,0 ou no mínimo 9,5, pois me esforçava ao máximo nos estudos, queria muito ter um futuro melhor. Certo dia estudamos sobre a música "Exagerado" de Cazuza, pensei nele a cada letra que lia. Fiz uma cópia e guardei comigo para entregá-lo, assim que tivesse oportunidade. É! Eu tinha certeza que iria vê-lo de novo. Ah! Aqueles olhos cor do céu, cor do mar... Nunca poderia esquecê-lo. Tudo que eu via, lia e até perfumes que sentia me lembravam ele. E enfim dezembro chegou. As aulas terminaram e eu tinha uma grande esperança de vê-lo. Tínhamos uma tia em comum, éramos meio parentes distantes e essa tia disse que provavelmente ele viria passar as férias aqui. Quase morri de tanta alegria. Era minha chance de me declarar para ele. Naquela tarde tomei um banho caprichado, me arrumei bem e fiquei no portão, olhando o movimento na rua, pois algo me fazia sentir que ele estava perto. Parecia até sobrenatural, mas ele apareceu caminhando lá longe, no início da rua. Eu não sabia o que fazer. Pude contemplar os olhos azuis novamente. Meu coração acelerou de alegria. Eu queria tanto falar com ele, mas ele estava acompanhado com um primo e dois amigos, então não dava para falar naquele momento. Ele passou por mim e minha irmã. Sei que ele olhou para mim de longe, mas quando chegou perto disfarçou. Eu ao menos ganhei tempo para pensar em como poderia falar com ele. Depois que ele passou corri para dentro de casa e localizei minha cópia da música "Exagerado" que queria entregar para ele, pois falava muito dos meus sentimentos... No dia seguinte chamei meu pai, minha família para irmos na casa da tia em que ele estava hospedado passando as férias. Ficou tudo combinado de irmos após o jantar. Papai me perguntou por que coloquei minha melhor roupa. Eu respondi que eu senti vontade de me arrumar melhor. Chegando lá, meus primos e ele estavam jogando baralho, um jogo muito legal em que todos vão contando e cada um joga uma carta. Quando coincide da carta jogada ser o número falado, todos tem que bater. Era muito divertido e quando nos convidaram para participar eu aceitei logo o convite. Era muito bom estar perto dele, conversando, brincando, naturalmente. Pensei em falar logo com ele em particular o que sinto. Em alguns momentos no jogo em que batíamos, a mão dele tocou a minha, ou até ficou sobre a minha. Aquilo estava sendo perfeito para mim até que um primo nosso mais velho, chamou ele dizendo:

_Vamos Henrique!

_ Vamos.

_Vamos ver se pegamos umas gatinhas.

Então, eu olhei para ele com muita decepção no olhar e ele se foi. Fiquei mais uma vez arrasada e não o vi mais, apesar de ter ficado no portão vigiando se ele passasse por ali, mas ele não passou.

Depois de alguns dias fui ao mercado e chegar em casa, encontrei minha mãe, o que não era comum, pois esse horário ela sempre estava trabalhando. Mas, naquele dia ela estava em casa, chorando. Eu perguntei a ela o que estava acontecendo, ela disse que nada. Eu insisti.

_ Mãe, o que aconteceu? O que deixou a senhora dessa forma?

_ Ah Luiza, eu não queria falar nada disso com vocês. Eu queria sofrer sozinha, mas não será possível, isso vai atingir toda nossa família.

_ Mãe, meu Deus, o que está acontecendo?

_ Desculpe filha, mas eu e seu pai vamos nos separar. Não dá mais para continuar com esse casamento. Seu pai bebe muito, acaba se excedendo as vezes. Já não suporto mais.

_ O que? Como eu não sabia de nada?

_ É que eu não quis contar nada. - Pensei em como pude ser tão desligada que não percebi o que acontecia com meus pais.

_ Luiza nós vamos nos mudar para outro estado. Não posso mais continuar aqui, com essa situação. E você e seus irmãos terão que escolher se querem morar comigo ou com seu pai.

Meu mundo caiu. Meus pais se separando, a mudança para outro estado, aí então que eu perderia de uma vez por todas o meu amor.

FINAL

Fiquei totalmente desolada com a separação dos meus pais. Para piorar, a noite meu pai e minha mãe ficaram frente a frente e nos forçaram a escolher com qual dos dois queríamos ficar. Eu sentia como se recebesse uma facada no peito, pois não queria tomar aquela difícil decisão, mas como sou a filha mais velha, de quatro irmãos, tinha que falar primeiro. Levei em conta que naquele momento meu pai era viciado em bebida alcoólica. - Como poderia cuidar de nós assim? - Então, respondi que queria morar com minha mãe, que apresentava maior segurança para conosco. Automaticamente, meus irmãos responderam o mesmo que eu, pois ao menos os irmãos não se separariam nunca. Foi duro demais ver meu pai chorar, implorar, prometer que iria parar de beber para que ficássemos com ele. Mas já havia prometido muitas vezes e nunca havia cumprido. Mesmo chorando nossa decisão foi tomada. Isso implicou imediatamente em nossa mudança para o Rio Grande do Sul, junto aos nossos parentes, e também, eu soube que poderia nunca mais vê-lo.

Como disse um pensador: ..."Não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não para para que você o conserte." Meu coração estava em pedaços, mas eu precisava superar, precisava dar força minha mãe, minha família... E assim fomos para o Rio Grande do Sul. Inicialmente, achei bem diferente do Espírito Santo, mas depois de alguns dias me familiarizei mais. Era difícil acostumar com o frio, mas na vida precisamos nos adaptar as circunstâncias a que somos submetidos. Na verdade, sentia uma dor no intrínseco da minha alma. Como superar isso?

Minha avó saia quase todos os dias a noite, indo para a igreja. Ela me convidou e fui junto com ela algumas vezes até que não faltava nenhum dia mais, pois encontrei algo que sanava a dor da minha alma, algo que falava ao meu coração: a Palavra de Deus! Foi o que me deu forças, o que mudou minha vida ou deu uma nova direção a ela. Sentia-me tão ligada a Deus. Sentia que Ele me ouvia, me aconselhava de alguma forma. Quando os irmãos pregavam na igreja, eu sentia que sempre era para mim. Deus falava comigo, só se entende quando se vive algo assim. Quando Deus fala conosco, sabemos, sentimos, que é real, que é Deus...

Aquele amor impossível ficou no passado e agora Deus era quem tomava conta do meu coração. Pensei em esquecer Henrique de uma vez por todas e parar de sofrer, até que chegou o primeiro dia de aula. Eu estava na 1ª série do Ensino Médio, e quando estava no ponto de ônibus vi do outro lado da rua, um rapaz bonito, mas nem chegava aos pés do Henrique. Não sabia o nome dele, mas foi natural apreciá-lo. Já dentro do ônibus não conseguia parar de olhar para as mãos dele. Eram lindas, nunca havia visto mãos tão lindas assim. Contei para minha irmã ao chegar em casa. O chamava de: rapaz das mãos bonitas. Não foi nada fácil, mas os dias foram passando, passando e cheguei a conclusão de que Henrique não estava mais ao meu alcance, não era real para mim. Alguém chamou no portão pelo meu nome. Fui correndo atender, bem curiosa, pois aquela cidade era nova para nós e quase ninguém nos conhecia. Quando vi quem me chamava, desejei estar arrumada, mas não estava tanto quanto gostaria. Era o rapaz das mãos bonitas. Já sabia o nome dele, era Diogo. Não entendi o que o levou até minha casa.

_ Oi Luiza! Eu sou o Diogo, estudamos juntos e como moro aqui perto resolvi vir até sua casa te trazer esse CD. É que ouvi você comentando com as meninas que gosta desta banda gospel. Então, resolvi trazer para você, espero que goste.

_ Nossa! Muito obrigada Diogo! Eu queria mesmo conseguir esse CD, muito gentil da sua parte. Valeu mesmo.

Ele despediu-se e foi embora e eu entendi naquele momento, que o mais importante é ser recíproco, é ser real, é estar ao alcance, é ver que a pessoa se importa com você nos mínimos detalhes... Ouvi uma vez que um amor vai substituindo o outro até que encontra-se aquele que não é mais substituído: Diogo estava ao meu alcance, era real. Henrique agora parecia uma ilusão, um príncipe encantado que nunca esteve ao meu alcance, nunca esteve disponível para mim. Agora meu coração com a ajuda de Deus estava juntando seus cacos e restituindo-se aos poucos.

Na semana seguinte Diogo enviou-me uma carta em papel cartão vermelho dizendo que me admira, que sou especial para ele, que quer me conhecer melhor... Fiquei muito feliz! Resolvi deixar meu futuro por conta de Deus. Agora morando no Rio Grande do Sul, encontrando um novo amor. Minha família se reorganizando - meu pai sempre esteve presente, mesmo longe - Tudo estava se encaixando novamente.

As vezes o melhor para nós não é aquilo que queremos e sim aquilo que Deus reservou! Diante de tudo encontrei meu melhor amigo: Deus! Meu futuro, minha vida, meu coração estão nas mãos Dele.

W.M.T.