Crepúsculo - Parte IV (Final): Não É Impossivel

Meu coração bate rápido enquanto desço as escadas. Tão rápido e forte que tenho a impressão de que vai sair pulando de meu peito, e sair por minha boca se eu não me cuidar. Felicidade é uma palavra muito simples para descrever o que sinto. Não consigo parar de sorrir.

No fim das escadas, me espera a pessoa que mais amo no mundo. E agora posso chamá-lo de meu namorado. Oficialmente. Seu sorriso encantador me aguarda, enquanto desço rapidamente, seu rosto divino tão iluminado quanto possível, considerando o que aconteceu há cinco semanas. Seus olhos coloridos reluzem como diamantes, e a felicidade transborda deles. Imagino o que ele pensa ao me ver. Sei que meu sorriso vai de ponta a ponta, de orelha á orelha, e que meus olhos brilham. Sinto-me bem – bem melhor do que há tempos – agora que ele me ama, que quer ficar comigo.

Aquele dia jamais sairá de minha memória. Era um dia claro, e era quase crepúsculo. O ar era fresco e tinha cheiro de salvia. Inspirei fundo. Estávamos, ele e eu, na sacada de seu quarto. Uma leve brisa passou a soprar, acariciando a nós dois. Só por aquele momento eu já estava feliz. Tudo acontecera há três semanas. O que eu achei que seria um inferno interminável, acabou-se rapidamente. Quando pensei que as lágrimas cairiam eternamente, elas cessaram. O conhecimento de que aquilo que fiz – acabar com uma relação tão perfeita por meu egoísmo - não pode ser mudado era unânime, então simplesmente aceitamos o futuro, relutantes, porém receptivos. E era o que ele nos oferecia. Ainda que a dor estivesse lá, era um segundo plano. Não era a parte principal de nossos pensamentos, mas ainda estava lá. Então, enquanto deixávamos o suave vento nos envolver. Até o aquele momento, estávamos separados, nenhuma parte de nossos corpos se tocava, e ele pegou minha mão. Olhei para aquela conexão. Éramos quase um. Olhei novamente para seu rosto. Parecia ainda mais belo sob a lânguida luz do fim da tarde. Porém, a vermelhidão em seu rosto não era efeito da luz. Franzi o cenho.

- O que houve? – perguntei, interessada. Ele desviou o olhar e engoliu seco. Comecei a ficar preocupada.

- Eu... Quero dizer, nós... Ér... – ele parecia perdido. Franzi o cenho, mas sorri. Ele tentou mais duas vezes, ainda se enrolando, mas, finalmente, conseguiu vencer a gagueira. Ele respirou fundo, se agachou, ficando apoiado no joelho direito, pegou minha mão e falou. – Só queria dizer que você é a pessoa que mais amo, em toda a minha vida. Quero que fiquemos juntos, e quero que você me prometa isso. – antes que eu tivesse tempo para pensar, ele tirou seu colar. Lá, havia duas alianças, ambas de um cinza-metálico – prata, disse eu em minha mente. Meus olhos se encheram de lágrimas – exatamente como agora, e toda vez que me lembro do momento –, mas eram lágrimas de felicidade. Meu coração batia tão rápido que mal o sentia. Ele colocou a aliança em meu dedo anelar direito. Então voltou a falar. Entretanto, eu diria sim antes que ele pudesse terminar de falar. Sim para sempre. Jamais diria não a ele. – Quer se casar comigo? – perguntou. Voltei a sentir meu coração. Ele batia forte em meu peito, martelando as paredes da caixa torácica, incapaz de bater para outros lados, incapaz de parar. Entretanto, quando voltei a sentir meu coração, esqueci-me de meus pulmões, então me esqueci de respirar. Fiquei lá, parada, aturdida, maravilhada, incapaz de mover, incapaz de fazer nada, além de sorrir e chorar. Ele se levantou, e beijou de leve meus lábios. Este beijo me despertou, fez o tempo voltar a caminhar sua trilha lenta e constante. Compreendi que precisava dizer algo. Mas não podia. Então, como resposta, o abracei, com muita força. Com toda a minha força. Beijei ternamente seus lábios. Foi tão mais doce do que antes, que perdi a vontade de fazer outra coisa. Meu, disse minha mente. Verdade. Meu. Completamente meu. E agora eu era sua. Sua, e de mais ninguém.

-Eu sou sua – disse eu. Voltamos a nos beijar, e dessa vez ele perdeu a noção do tempo. Quando, enfim, retornamos à realidade, ele voltou a falar. Sua declaração fez meu coração saltar. Um sentimento que jamais havia experimentado se apoderou de mim. Era simplesmente indescritível, extraordinário demais para explicar com palavras.

-Para sempre – prometeu.

Quando termino de descer as escadas, ele me pega nos braços e me beija. Hoje, nos reuniremos com nossos amigos – o pessoal da escola – e alguns parentes, e contaremos nossa decisão. Diremos em alto e bom tom que estamos noivos, que nos amamos, e que, em pouco tempo, iremos nos casar. Obviamente, alguns pensarão que estamos nos casando pelos motivos errados – sei perfeitamente o que eles pensarão, principalmente sobre por quantos meses eu conseguiria esconder isso –, mas é exatamente para isso que serve esta reunião: para esclarecer nossa real intenção. Não somente desejo físico. Amor real.

-Está pronta mesmo? – pergunta ele. – Quero dizer, podemos esperar mais algum tempo, se você quiser.

-Não. É o que eu quero. Entretanto, você tem a mesma possibilidade em aberto. – ofereço eu a ele. Claro que sei sua resposta – ele dirá que não devemos esperar mais nenhum minuto sequer, que já devíamos ter feito isso, e que não há nada neste mundo, a não ser eu, que possa dissuadi-lo –, mas pergunto mesmo assim, por educação.

-Contudo eu quero. Já devíamos ter feito isso. Cada minuto a mais que eu passo sem que as pessoas saibam o quanto te amo, é uma tortura. Eu te amo, e eles tem de saber.

-Só não se esqueça de qual é nosso objetivo primário para esta reunião. – digo, lembrando-o. Sei que se eu não o lembrasse disso, ele com certeza faria um discurso sobre o quanto me ama.

-Claro, claro – confirma ele, depois dá uma risadinha. Ele pega minha mão. Seu toque é quente, e me causa um leve formigamento. É tão bom, sentir seu toque. Eu poderia ficar o resto da eternidade em seus braços, sentindo seu calor, e lhe dando meu calor. – Acho que chegou a hora, não é? – aquiesço. Essa perspectiva faz um calafrio correr por minha espinha dorsal. Não estou com medo. Somente preocupada com uma possível reação negativa por parte de meus pais.

Claro, meu pais sabem que estou namorando ele. Sabem o quanto o amo, e tudo o mais, porém nem passa por suas cabeças que estou noiva, já há duas semanas. Meu pai, principalmente. Além de superprotetor, ele há teve, em um passado não comentado por nós, um casamento que acabou em divórcio. Fora seu primeiro casamento, e ele tinha somente dezenove anos quando disse seus votos – claro, os motivos foram diferentes dos meus para me casar com meu namorado, e foi um casamento um pouco mais forçado que desejado, mas ainda assim foi válido. Não fora deste casamento que eu fu fruto, porém. Entretanto, o divórcio veio menos de um ano depois. Incompatíveis, meu pai e sua ex-esposa eram incompatíveis com relação a seu gênio, e não se aguentaram. É dele, pois, que sinto medo. Minha mão casou-se somente com meu pai – que foi um de seus primeiros namorados –, então imagino que ela acredite em primeiro amor. E, mesmo se não, ela, com certeza, irá me apoiar.

As pessoas para quem contaremos sobre nossa decisão estão na sala de jantar, todos reunidos, esperando pelos dois jovens que guardam uma misteriosa surpresa – nós. Dentre eles, estão meus pais, os pais de – de meu namorado –, pelo menos uma dúzia de amigos da escola, meus tios e os avós dele. Todos esperam.

Em frente à porta, nossos corações batendo freneticamente, entretanto compassados, em um único ritmo, encaramos nosso futuro.

-Vai dar tudo certo – diz ele. Sou dominada pela verdade de suas palavras, pela veracidade que estas quatro dizem. Nada dará errado. Não há a mínima chance. – Eu te amo –sussurra ele para mim.

-Para sempre – completo eu.

Fim

Agradecimentos:

Agradeço àqueles que tornaram possível esta série de contos: obrigado leitores.

Preciso dizer que, se não fosse a mais-que-perfeita música da cantora Christina Perri, eu jamais teria iniciado a série.

Bruno R Montozo
Enviado por Bruno R Montozo em 01/05/2014
Reeditado em 09/06/2014
Código do texto: T4790089
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