Quando a estrela volta

Nesse momento nós estamos deitados. Nós sempre estamos deitados quando você tem algo para dizer. Lá fora nada existe, mas aqui dentro desse quarto eu nada sou. Não como se nada importasse, tudo importa, mas é mais complicado que isso. Lá fora existem luzes, sons, pessoas que se importariam com o que você pensa, ou eu. Mas você não está preparado para deixar esse lugar, nem a mim. Esse tipo de coisa existe entre nós. Você me olha com esses olhos verdes, confusos sobre o que você pensa, e todas as coisas deixam de existir. Eu não me preocupo com o seu discurso, porque eu sei que nada do que você disser aqui, agora, vai ser mantido. Você ocupa todo o espaço que espera, e eu crio teorias sobre como você deve se comportar. As coisas são assim entre nós. Tudo fica tarde demais ou compulsoriamente cedo quando estamos juntos. Todo mundo diz que nunca vamos nos importar com o que tem ao redor, e que você não vai ligar se eu estiver cansado, porque é o que você quer. Então, quando você entrar naquele avião, você dirá para si mesmo que nunca mais voltará para mim.

Eu entendo que uma palavra com quatro letras facilite tudo. Porque as pessoas precisam de um estepe para sobreviver além das linhas do que compreendem ser certo e errado. Nada é importante o suficiente para você. Eu sei... Eu sei que esses últimos anos, desde que nos conhecemos, nós não sabemos mais nada. Tudo parou, e quando nós tentamos recomeçar da onde nós embolamos nossas linhas, tudo pareceu perdido. Eu estava acostumado a pensar fora do Complexo de Cinderela. Mas depois que tudo pareceu normal demais eu só tive muito medo. Eu sei que você sabe sobre todas essas coisas. Tudo já foi dito em situações infinitamente mais críticas. Você costumava escrever no seu caderninho de medo, procurando vantagens de ser abordado por um pensamento estranho, mas que você pudesse controlar com a sua nostalgia de menino isolado. Eu não quero deixar nada claro, e espero não transferir nenhuma culpa, porque não existe culpa, e ao mesmo tempo cada um tem sua parcela de existência.

Depois desse quarto, desse mundo existencial para você eu, se passaram o máximo de tempo possível. Eu sei que vou poder buscar o seu nome em qualquer lugar, sem querer saber, sem ter vontade, me mantendo em um desejo oculto. E você pensará que quando tudo parecer minúsculo para você, quando você não puder mais reagir sobre mil vontades, então vai pensar que eu serei indispensável. Apesar de tudo, eu vou ouvir a sua voz, e vou sentir meu estômago queimar. Vou sentir náuseas, e eu vou queimar por dentro. Será uma reação destruidora. Vou recarregar minhas pilhas nesse momento. Não vou entender o por que apesar de acreditar nunca mais querer te ver, te ter, ainda assim, vou querer te manter por perto, ali furando mais uma ferida desesperadora. Não... Na verdade eu é quem estarei furando essa ferida. Você não irá se importar em ser mantido, apesar de ser sentir um pouco fora do controle.

Mesmo se você não voltar, então você terá um plano alternativo improvisado. E você não liga que o mundo te odeie, desde que você tenha aquilo que quer. eu não sei se me importo mais com isso. Eu só sei que em alguns momentos tudo parecerá um pouco confuso e desconfortante. Eu vou enlouquecer um pouco nesse momento, vou gravar um discurso simples para você entender sobre como é sentir dor. E você não terá imediatamente aquilo que deseja, e isso te fará por em prática seu plano alternativo, estará no controle novamente, porque eu não sei reagir sobre pressão. Mas você sabe de tudo isso, certo?

Eu acho que decidi esquecer desse momento frio e calculista em que eu faço parte e sei me encaixar bem. Não vou pensar sobre quanto tempo essa palavra de quatro letras vai estar gravada na parte mais reprimida do meu cérebro.

Chego mais perto de você. Te beijo. Desejo que nunca se vá. Realmente... Nada importa fora daqui.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 12/05/2014
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