O monstro e a Fada

Foi necessário cruzar a fronteira da escuridão para saber que eu era guiado pela luz de uma bela fada.

Foi necessário me debruçar em lágrimas, perdido vagando por entre as bosques e perigosos vilarejos, para saber que o que preenchia minha alma e o que movia meu coração eram seus sorrisos, eram os seus cuidados, minha doce fada.

Fui um monstro além da aparência só pensei em mim, agi sem pensar estava armado e com ódio, a única certeza é, não era de você, eu sempre tive compreensão, um colo, uma verdadeira amizade sempre tive tudo que eu sempre precisei, estava o tempo todo a minha frente mas eu não pude enxergar, eras a minha fada!

Hoje sei o que perdi, provei das minhas próprias garras afiadas e a vida me fez entender que não poderia existir lugar mais seguro do que ao lado de uma encantadora, amorosa e cuidadosa fada.

Fui o teu inferno enquanto você apenas estava sendo o meu paraíso, fui o seu fogo enquanto você só queria curar minhas feridas.

Eu, o monstro, destruí as asas da minha fada, quebrei sua varinha de condão, e a deixei jogada sem forças.

Hoje eu entendo que cada um tem o que merece ter, mas até quando? Irei pagar pelos erros do passado? Até quando vou ficar com o gosto do meu próprio sangue cruzado na garganta? Dormir com a vontade de nunca mais acordar até que eu possa segurar suas mãos novamente?

Até quando terei fôlego para gritar ao mundo...

" Fada Eu me arrependo, oh eu me arrependo.."

Não consigo mais fixar os olhos no céu e enxergar o teu rosto, vivi muito tempo na escuridão e a luz ofusca minha visão, não consigo mais olhar para o meu rosto no espelho e enxergar o reflexo de um monstro perdedor, a sua luz me deixava mais bonito, mais seguro... Você era a minha força!

Que você possa oh minha fada ter o que nunca pude te dar, que possas sorrir sem medo de ser feliz, que eu não tenha trancado teu coração da mesma forma que o fiz sangrar.

Eu voltaria no tempo sim eu voltaria, só para fazer tudo diferente, só para me ferir quando queria gritar, só para me jogar contra rochas quando sentia vontade de explodir o mundo.

Perdoe-me se não fui capaz de enxergar a felicidade quando ela realmente estava ao meu lado, tudo o que eu via eram minhas dores e machucados quando me achou, eu era um monstro jogado no bosque, ferido por moradores da aldeia, fui ferido por pessoas que detestavam monstros, me bateram, me apedrejaram, me esfaquearam e me apunhalaram com lanças afiadas.

Ali fiquei jogado para morrer, se afastaram de mim quando me fiz de morto, minhas feridas iriam putrificar.

Mas alguém me enxergou além da aparência grotesca, me viu jogado naquele bosque para a morte, abraçou-me, com sua varinha de condão tocou-me, curou-me as feridas, cuidou de mim e me levou para si.

E tudo que eu conseguia sentir era ódio, ódio das pessoas daquela aldeia, eram só lembranças e mais lembranças, pesadelos e flashes daquelas pessoas me ferindo.

Foi quando esqueci que a minha fada estava ali, e em um ato inconsequente a feri.

Arrependido e escondido em uma caverna distante esse mesmo monstro deixa pegadas e pistas, quem sabe um dia sua fada não volte?