Recaída

Sempre ensaiou aquele encontro, onde diria todas as coisas que a magoaram no relacionamento dos dois. Foram meses contando para si mesma o que faria quando tivesse a chance de encontrá-lo, qual seria a roupa, a maquiagem e, claro, as palavras que usaria para feri-lo, como um dia se sentiu ferida. Por isso, aquele momento era crucial para se libertar de lembranças, que até então, não se dava o direito de esquecer. Seus lábios tremiam juntamente com suas mãos – estava nervosa – a boca seca, e sensação que o coração pararia a qualquer momento. A agonia da espera era maior que a raiva que sentia por ele tê-la deixado. Quando ele entrou pelo salão, sentiu que suas pernas estavam paralisadas, pensou: – Será que estou bonita o suficiente? Ele veio em sua direção, ela tentou disfarçar que não o via, desviou o olhar, brincava com os cabelos, inspecionava a limpeza dos copos na mesa, mas era totalmente impossível não ficar hipnotizada com aquele sorriso. O sorriso pelo qual se apaixonou, que a amanheceu tantas vezes, que foi o começo de tudo. Ele se aproximou, pegou suas mãos e as beijou como fazia nos tempos em que eram “quase um só”. E com o “sorriso” disse: –Senti sua falta! Ela que havia ensaiado durante meses os ataques verbais que entalavam sua garganta, só conseguiu responder: – Eu sinto saudades suas todos os dias.