O amor está de volta (II parte)

Laura suspirou fundo. Como conseguiu se lembrar de tudo em tão pouco tempo. Ou não foi tão pouco tempo assim? Passou a mão suavemente pela aliança que nunca tirara do dedo, depois a levou aos lábios. Parecia sentir ainda o frescor dos beijos de Pietro.

_ Pietro! Por que tinha de aparecer agora depois de tantos anos. Vinte e seis anos! Não tiveram nenhuma notícia dele, nem mesmo a filha, que o procurou por anos. E de repente, ele ali, bem ali no jardim ao alcance de seus olhos.

Laura olhou o relógio. Onze horas. Teria de voltar à sala e chamou por Adriana que a levou de volta. Carulina tinha preparado o almoço e dava comida na boca da pequena Milla quando Laura entrou na sala de jantar.

_ Desculpe-me minha filha, mas tive que me recolher um pouco. Pode me explicar agora como encontrou seu pai, e por que ele está aqui?

_ Mamãe, há mais de um ano que venho tentado encontrar meu pai. Dessa vez eu estava decidida, sentia que ele estava precisando de mim, então pedi ajuda ao site Good Angels que ajuda encontrar pessoas desaparecidas. Repassei a eles todas as fotos e os dados que tinha da época do desaparecimento dele. Até já havia me esquecido, quando ainda essa semana eles me retornaram dizendo que haviam encontrado meu pai em Blumenau. Marcaram de me levar até ele e esse foi o motivo de minha viagem de ontem.

Laura deu uma pausa e recomeçou a narrativa de seu encontro com Pietro.

_ Mamãe a senhora não queira imaginar em que condições eu encontrei meu pai. Ele estava mesmo precisando de minha ajuda. Mas como ele mesmo disse, não tinha coragem de nos procurar, tinha muita vergonha de tudo que nos fez. Estava um trapo humano, vivendo num quartinho de fundos, fazendo serviço de rua num escritório de amigos apenas para cobri despesas de aluguel e comida. Contou-me que aquela mulher o depenou. Vendeu a casa, o carro, as ações, tudo. Obrigou-o a vender até a parceria no escritório de advocacia. Depois que não tinha mais nada ela foi embora ele ficou perambulando e bebendo até chegar nesse estado lastimável que o encontrei. Os visinhos disseram que ele passava dias bebendo. Sei que o que lhe peço, mãe é um sacrifício enorme, mas preciso muito cuidar de meu pai, pelo menos por algum tempo, quem sabe sob cuidados da família ele não deixa a bebida e até volte a trabalhar. É só até encontrarmos um lugar descente aqui perto para ele morar.

Laura ouviu toda a história sem interromper Carulina. Mas dessa vez falou com voz tremida.

_ Aqui em casa? Nós dois Carulina?

_ Mamãe desde o momento de seu acidente eu a trouxe comigo e passei a cuidar da Senhora e quero fazer isso enquanto viver. Mas por favor, não me tire essa chance de cuidar de meu pai, de conviver com ele e deixar que Mila e Rodrigo o conheçam e convivam com o avô.

_ Carulina minha filha, isso não vai dar certo. Não vai!

_ Mamãe, eu te imploro. Olha, é só por uns tempos.

Laura ficou pensativa por alguns minutos. Carulina estava mesmo decidida, além do mais, conhecia muito bem sua filha.

_ Tudo bem filha ele pode ficar, mas eu não vou ter de falar com ele, não é.

Carulina abraçou efusivamente a mãe e ambas choraram.

Passaram-se muitos dias. Vez ou outra Laura e Pietro se esbarravam no jardim onde ele assumira de vez os cuidados com as azaléias, as preferida de Laura. Outrora se cruzavam na cozinha onde ele ia pegar alguma ferramenta ou tomar um copo d’agua. Trocavam poucas palavras e Laura. Ele era tímido, sabia que estava invadindo sua privacidade, e Laura sempre respondia rispidamente, mantendo distância. Pietro convivia com os netos efusivamente. Haviam adaptado uma aconchegante sala com TV e jogos nas dependências da piscina, onde os netos passavam horas na companhia do avô. Pietro ainda bebia, mas somente à noite e às escondidas de Carulina, não que ela não soubesse, pois o via acordar de olhos inchados e restos de bebidas escondidas no seu quarto. Tinha dotes da culinária italiana e de vez em quando se aventurava fazer algum prato na cozinha. Um domingo quando todos almoçavam Laura elogiou a comida.

_ Hummm que delícia desse macarrão me lembra as massas que seu pai preparava.

Carulina então, contou à mãe que o pai estava ajudando-a na cozinha.

_ Mamãe, esse macarrão foi o papai que fez, ele tem me ajudado algumas vezes.

_ É mesmo, e por que não convida seu pai para almoçar com a gente aqui na mesa?

É pra já mamãe, e espero que ele aceite.

Nesse domingo e nos seguintes, sempre que a família estivesse reunida, Pietro estava presente. Ele auxiliava em pequenos serviços da casa e ajudava a cuidar dos netos. Ofereceu-se para ir com Laura nas cessões de fisioterapia, pois sabia das dificuldades que Carulina enfrentava tendo de sair mais cedo do emprego duas vezes por semana para acompanhá-la. No inicio Laura resistiu, mas por fim concordou, pois já estavam amigos e já conversavam sem mágoas.

Até parece que o destino os unia novamente. Durante os exercícios, havia sempre algum momento em que era necessário auxiliar de forma física ou mesmo de estímulo moral. Esses se tornaram momentos especiais para a aproximação de Pietro e Laura. As conversas se estendiam para uma prosa e as respostas de Laura já não eram ríspidas nem curtas. Passavam longas horas no jardim apreciando o calor do verão. Pietro parou definitivamente com a bebida e já se aventurava a abrir um novo escritório de advocacia. A família, agora sempre se reunia nas refeições e Pietro brincava com os netos antes de irem dormir. Numa noite Laura pediu a Carulina.

_ Carulina traga as coisas do seu pai para o quarto de hóspedes.

Todos se olharam e sorriram. Pietro fitou os olhos azuis de Laura e ela viu que ele estava feliz.

Obs: Esse continua em sequencia de mais uma parte...