Parte 1

Na primeira aula daquele livro seu olhar se prendeu naquele menino que não lhe era estranho. Ela já tinha o visto antes, mas ele tinha mudado. Não era mais tão magro e o cabelo que antes era longo foi cortado – e ele não estava mais usando o uniforme do colégio. Isso, ele era o menino que andava na frente dela todas as manhãs. Ela também o via na sua rua constantemente. Quanto tempo tinha passado desde a última vez que ela o avistou. Nunca tinha trocado uma palavra com ele antes, realmente só se conheciam de vista. Com o passar das aulas ela tinha a necessidade de fazer com que ele a percebesse – tocava toda hora sobre algo do colégio que ele não mais estudava, mas ela sim. Ela mesmo achava estranho essa necessidade que ela sentia. Por que eu quero que ele me note? Será que ele lembra de mim? Por que ele não me olha? Um dia voltando pra casa a amiga dela decidiu ir andando, e como era a noite e ele ia na mesma direção que elas, os três foram juntos para casa. A conversa pelo caminho foi legal, mas claro que a amiga dela, como boa pavão que era, quase não permitiu uma conversa longa entre os dois, mas mesmo assim ela estava animada por ter falado com ele oficialmente. A partir daí toda terça e quinta os três voltavam pra casa juntos. Um dia no início do caminho o ônibus da amiga dela passou e ela decidiu pegar, e pela primeira vez os dois ficaram a sós. Medo e excitação brotaram juntos dentro dela. E agora, sobre o que a gente vai conversar? Começaram com o único assunto em comum – o colégio onde ela estudava e ele estudou. Quando chegaram em frente ao prédio dela a conversa tinha tomado um rumo completamente diferente, e eles ficaram quase uma hora no portão do prédio conversando. Acho que foi com essa primeira conversa a sós que ela realmente começou a gostar dele. Ela se sentia de um jeito diferente, como nunca antes. Ela já tinha ficado com outros meninos, mas nenhum deles despertou um terço do que ELE despertou. E quando ela percebeu, contava os minutos pra ir pra aula – eram quase dois dias inteiros de espera. Um dos dias ele disse que estava esperando um amigo que ia voltar pra casa com ele. Ela ficou arrasada por não poderem voltar juntos, mas em uma intervenção divina ele perguntou se ela não podia esperar porque o amigo dele já estava chegando. Obviamente ela aceitou esperar, afinal dividir a atenção dele com alguém era melhor do que nada. E quanto mais o tempo passava, mais os sentimentos dela afloravam. Em uma conversa em particular ele foi se aproximando dela até ela ficar encostada na parede e ficou falando o mais próximo possível sem tocá-la. Era agoniante, pois todas as células de seu corpo estavam gritando pelo toque dele. A boca seca clamando pelo beijo dele. Mas nada aconteceu. Eles trocaram telefone e passaram a se falar todos os dias por mensagem. Uma mensagem em particular foi a melhor coisa que aconteceu na vida dela – ele a chamou para um encontro.

Fim da parte 1!