O REENCONTRO

(...)     Continuação             

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               Joaninha começou a folhear uma lista telefônica da cidade onde estava residindo. De repente se deparou com um nome que era o mesmo do seu antigo namorado. Ficou olhando, lendo, relendo e lembrando o tempo de criança e sua adolescência. Pediu ao filho que ligasse para aquele número. Ela mesma não teve coragem. O moço ligou. Perguntou se o Sr. Manuel se encontrava. A mulher que atendeu nem perguntou quem era nem de onde. Disse que ele estava no trabalho e em seguida passou o número da fábrica de móveis.
 
            Uma semana havia se passado. A mulher queria ligar, mas não tinha coragem. Esperou mais três semanas. Tremendo, pegou o telefone e ligou. Reconheceu a voz. Era o próprio quem atendeu.
 
            - É você Manuel? – Disse ela nervosa.
            - Sim, sou eu mesmo. Em que posso ajudá-la? – Respondeu o homem.
            - Primeiro, adivinhe quem é... Nezinho...
            - Não é possível! Joana!
            - Então, vou ligar outra hora pra conversarmos. Pode ser? Tantos anos...
            - Claro que sim. Se puder, liga mesmo.
 
            Joaninha desligou o telefone. Manuel ficou pasmo, tremendo. Pensou se aquilo era real ou um sonho.
            Depois de duas semanas a professora voltou a ligar. Já estava aposentada, mas dava aulas como voluntária na alfabetização de pessoas adultas. Também trabalhava em obras sociais.
 
            Enfim, houve o encontro de Joana e Manuel. Ambos com a idade um pouco avançada. Foram num bar amplo. Sentaram numa mesa no canto e naquele local abriram o coração um para com o outro. Colocaram em dias as conversas que haviam sido interrompidas há muitos anos.
 
            O próximo encontro demorou aproximadamente três meses. Dessa feita foram para um local discreto, entre quatro paredes.
 
            Manuel, homem casado. Uma filha casada e dois netos. Os encontros continuaram. Ele não quis ou não teve coragem de largar um casamento de mais de trinta anos.  Por mais que não vivesse bem, Joaninha entendia a situação e não forçou nada dele, para qualquer decisão.
 
            Quase todos os dias um ligava para o outro. O amor havia aflorado novamente tão forte como há muitos anos atrás. Voltaram ser como dois adolescentes.
 
            Passaram três dias. Ele não ligou. Ela por diversas vezes tentou ligar, mas ninguém atendia. O filho sabia de tudo. Embora contrariado, ligou para a fábrica de móveis de propriedade do homem. Ninguém atendia. Ligou mais tarde. Atendeu o filho de Manuel.
            - Alô. Pois não?  Quem fala?
            - Aqui é o Paulo. - mentiu. Gostaria de falar com Sr. Manuel.
            - Paulo? Você não soube nada?
            - Não. Do quê?
            Meu pai hoje faz sete dias que faleceu. Acabei de chegar da missa do sétimo dia.
 
            - Por favor, desculpe-me. Eu não sabia. Meus pêsames.
 

               O filho da professora ficou estarrecido. Sem palavras. Desligou o telefone preocupado como daria a notícia para a sua mãe...
 
            Joaninha ficou definitivamente sem o grande amor da sua vida.
 
(Christiano Nunes)