Três anos depois...

Marina vinha pela rua e apenas sentia os pingos da chuva cair em seu rosto, quando se pegou olhando para um rapaz debaixo de um toldo se protegendo da chuva. A primeira visão que teve era um pouco embaçada, mas já sentiu aquele velho frio na espinha. Firmou os olhos e a imagem que tanto temia se concretizou. Era Ricardo. Um pouco mais velho, com menos cabelos, mais magro, mas ainda o mesmo olhar perdido. Pensou em atravessar a rua para não ter que cumprimentá-lo, mas enquanto pensava em atitude tomaria, seus olhos foram recebidos por Ricardo com um grande sorriso. Não havia mais jeito, Marina teria que ir até ele e ter aquela conversa, constrangedora e sem graça, que todo casal que se amou demais tem medo que ela um dia ocorra. Beijaram-se no rosto e Marina sentiu aquele mesmo perfume de tanto tempo, pensou em comentar sobre o assunto, mas achou melhor não. Ricardo quebrou o gelo: Quanto tempo! O que faz por estas bandas? Marina pensou em responder dizendo que fazia tempo, pois o amor nela nunca morreu, então decidiu fugir de qualquer coisa que o lembrasse, indo para aquele lado da cidade, o qual sabia que ele odiava. Mas só respondeu: Muito tempo mesmo! Mudei-me pra cá há alguns anos. Ricardo aparentava certo nervosismo, mas Marina não percebia, só via em sua frente aquele homem que amou por tanto tempo e que ainda mexia com seus pensamentos. Conversaram coisas triviais em sem nenhuma intimidade e por dentro Marina queria perguntar se ele havia refeito sua vida, se casado, se teria tido filhos, mas achou melhor se calar. Quando o assunto acabou, veio o inevitável silêncio, despediram-se com as mesmas formalidades de antes. Quando Ricardo beijou a face de Marina, por um instante ela pensou em pedir para vê-lo novamente. Mas, mais uma vez recuou. Olharam-se pela última vez, sorriram sem graça e tomaram mais uma vez cada um seu caminho. Enquanto caminhava, Marina sentia as lágrimas caírem em seu rosto e já não sentia mais os pingos da chuva, que ficava cada vez mais forte.