Meu doce pecado (part. VII)

Capítulo 8

O embrulho

Quando abri seu guarda-roupa, notei que em um dos lados da porta havia uma folha com horários e dias das semanas, algumas datas estavam marcadas com um “X” vermelho enorme. Indicando coisas que eu ainda não sabia. Procurei seu casaco cinza- escuro, mas não o encontrei, revirei as roupas e nada. Fora isso, tudo aparentemente normal no interior do guarda-roupa. Não tinha muito tempo, então abri a gaveta da mesinha que ficava ao lado de sua cama, vi vários envelopes e quando os peguei, ouvi Alexander gritar:

-Sarah? Está tudo bem? Quer que eu vá até ai?

E enquanto devolvia os envelopes à mesinha, respondi:

-Não, já estou descendo. Espere.

Quando fechei a gaveta, notei algo debaixo de seu travesseiro, a cama era velha como todos os móveis daquela casa e tinha uma colcha desbotada na cor azul marinho. Levantei o travesseiro, e vi um livro cujo título era: A arte de matar.

Pronto, agora eu havia ligado às coisas, a folha com as datas marcadas na porta de seu guarda-roupa eram os dias dos assassinatos, e o livro provavelmente ensinava alguma técnica estranha que ainda iria descobrir. Devolvi o travesseiro ao seu devido lugar, tentei localizar algum cesto com roupa suja, mas não havia nada, fechei a porta e desci. Alexander estava me aguardando no sofá, com duas taças de vinho.

A minha intenção era ir embora, mas ele iria desconfiar de que certamente havia encontrado alguma coisa lá em cima, então eu resolvi esperar um pouco. Meio assustada e confusa, falei:

-Desculpe pela demora, sabe como é mulher né? Arruma daqui, arruma dali.

-Você está perfeita Srtª Williams, não precisar arrumar nada. Sente aqui do meu lado e vamos terminar de beber esse vinho maravilhoso, que por sinal foi muito caro.

Alexander disse aquilo com uma tremenda modéstia e cara de pau. Eu ri. Mas não parava de pensar no que tinha encontrado em seu quarto.

Ele me contou várias histórias engraçadas, mas não falou de seu passado nem de família. Conversa vai, conversa vem, a garrafa de vinho secou e ele já tinha bebido demais, eu não bebi nada, não tinha costume, dei só uns pequenos goles para enganá-lo. O deixei no sofá, peguei a garrafa e disse:

- Acho que já chega de bebida por hoje né? Aonde ponho isso? Falei apontando para garrafa. Ele respondeu:

-Sarah, ali fora vai encontrar um lixeiro cheio, eu não tive tempo de me desfazer daquilo tudo não repare.

Fui até cozinha e não vi nenhum lixeiro. Abri a porta e no pequeno quintal vi uma lata grande cheia de lixo acumulado de vários dias provavelmente, joguei a garrafa lá e antes de voltar um embrulho debaixo da lavandeira me chamou a atenção, estava jogado em meio a tantas outras coisas que Alexander não queria mais. Peguei o pacote e desembrulhei, era uma roupa, o casaco provavelmente. Não dava pra comparar o pedaço de tecido que encontrei com aquele casaco, porque estava todo repicado e queimado. Devolvi o embrulho imediatamente e sai dali. Lavei minhas mãos na pia. E fui até a sala, já era hora da despedida. O relógio marcava 23:28, era tarde, precisava voltar para casa.

- Bom, já é tarde Alexander, está na minha hora. Preciso ir. O jantar estava ótimo, a macarronada, o vinho, a música foi excelente, me convide mais vezes.

Disse com um sorriso sem graça. Ele se levantou e falou ao meu pé do ouvido:

- Minha querida Sarah Williams, não haverá mais vezes. Você me ganhou na insistência, nada disso era para ter acontecido. Mas já que aconteceu foi ótimo, maravilhoso.

Ele me deu um leve beijo no pescoço e me acompanhou até a porta.

Está ok, agora além de assassino ele é um louco. O que me atraia em Alexander era o fato de ser misterioso, pois em alguns momentos me dava a entender que era assassino, que não servia para mim e que não queria aproximação de minha parte, e em outros ele se mostrava um homem engraçado, despojado, e até interessado em mim. Isso bagunça meus pensamentos, transforma minha cabeça em um labirinto. Ele me dizia que não queria nada, mas ao mesmo tempo dava a entender que queria muita coisa.

Ele me acompanhou até a porta, então resolvi ligar para o mesmo taxista que me trouxe. Dentre os minutos que fiquei aguardando o táxi chegar, Alexander me lembrava do quanto eu estava bonita e cheirosa. Ele sentou na pequena escada que dava acesso a porta de entrada e resolvi sentar ao seu lado. Ele colocou seu braço em volta do meu pescoço e disse:

- Esqueça o que lhe falei, não quero nada com você eu quero tudo. Faça do meu corpo o seu ponto de felicidade. Você é misteriosa, atraente e insistente. Não havia encontrado ninguém assim. Por favor, acha mesmo que já está na hora de ir embora?

Antes que eu pudesse responder o taxista chegou, levantei e disse:

-Adeus, Alexander até mais. Qualquer dia desses continuamos nossa conversa, ele puxou do bolso um pequeno pedaço de papel e disse:

- Adoro trocar mensagens, porque não me manda uma quando chegar em casa?

Eu ri, e apenas balancei a cabeça. Ele me abraçou e novamente indagou: - Acha mesmo que já está na hora de ir?

-Sim, por favor. Nos falamos depois. Desci as escadas e entrei no táxi.

Isabela Dantas
Enviado por Isabela Dantas em 15/10/2014
Código do texto: T5000386
Classificação de conteúdo: seguro