O Sol Sempre Renascerá

O SOL SEMPRE RENASCERÁ

Caía uma terrível tempestade na Vila das Esmeraldas, e Olívia não conseguia distinguir se a tempestade mais forte era a que acontecia dentro dela, ou a do lado externo. Constantemente ela tinha esse sentimento, de que abrigava uma tormenta dentro de si. Uma tempestade que começou como uma fina garoa, preenchendo os diversos vazios dentro dela. O vazio da perda do pai, o vazio de ser uma simples plebeia, o vazio de um triste futuro como faxineira, o vazio de amar um príncipe com o qual seu único relacionamento seria, com sorte, o de serviçal real e patrão. Conforme os vazios foram aumentando, a garoa se tornou uma forte tempestade, a qual prometia vir a se tornar um feroz tornado. Isso se tudo tivesse continuado do modo como estava.

Como de costume após uma tempestade, os demais plebeus da Vila das Esmeraldas, um ducado do grande Reino Rotschield, perguntavam uns aos outros o que o vento havia lhes trazido, querendo saber dos prejuízos que haviam sofrido. Quando Olívia estava prestes a responder essa pergunta, o vento, ironicamente, começou a soprar com mais intensidade, e ela olhou para a direção de onde ele vinha. Mal pôde acreditar no que via.

Junto de seus guardas reais, entrava na Vila das Esmeraldas seu amado príncipe Bernardo Rotschield. Eles estavam caçando gigantes na Floresta Dellaweare e foram surpreendidos pela tempestade, que os impediu de voltar para o grande Reino. Hospedaram-se, então, no Hotel das Fadas, o que era ao mesmo tempo um motivo de felicidade e infelicidade para Olívia, pois ela e sua mãe eram as faxineiras do local. Ficara feliz com o fato de ter uma oportunidade de se aproximar do príncipe pelo qual sempre fora apaixonada. E infeliz, visto que ele jamais se interessaria por uma plebeia. Pelo menos era o que pensava ela, que optou pela infelicidade, incluindo-a aos seus inúmeros vazios e, enquanto a tempestade externa havia cessado, a de dentro dela passava a ter raios.

Olívia limpava distraidamente um dos corredores do hotel, quando se percebeu chorando. Chorando pelo fato de que o príncipe Bernardo era estupendamente lindo e ela jamais poderia tê-lo. Chorando pelo fato de que passaria a vida presa em corredores como aquele, limpando-os. Quando seus olhos estavam tão embaçados que ela já não conseguia mais enxergar, pôs-se a correr e, ao descer as escadas, não acreditava na pessoa com a qual trombara de frente.

Diante dela, lá estava ele, príncipe Bernardo, examinando-a com olhos cautelosos e preocupados.

- O que lhe faz chorar? – perguntou ele.

- Nada. – resmungou Olívia. – Aliás, tudo. Mas de qualquer forma você jamais entenderia, até porque você é o príncipe Bern...

E então ele surpreendeu-a calando-a com um beijo. Impulso? Talvez. Amor à primeira vista? Quem sabe. Ou, então, ambos.

Após o beijo, ele pediu para levá-la a um lugar que havia acabado de descobrir. Seguiram então, para o terraço do hotel, que quase alcançava as nuvens. De lá, conseguiam enxergar toda a Vila das Esmeraldas, a Floresta Dellaweare e o grande Reino Rotschield. Ele pediu para Olívia chamá-lo apenas de Bernardo, e também para que ela lhe contasse o que a fizera chorar mais cedo.

Espantada e encantada com a confiança que ele lhe passava, ela contou-lhe sobre seus medos e seu inevitável futuro. Bernardo ouviu-a pacientemente e, ao fim do desabafo de Olívia, beijou-a novamente, e aconselhou-a a começar a imaginar um futuro diferente, pois era exatamente o que ele havia feito desde que a beijara nas escadas. Então, algo aconteceu.

Os raios pararam de cair, não se ouviu mais os barulhos dos trovões e as nuvens se dissiparam. A tempestade havia cessado. O Sol brilhava dentro de Olívia. Aquele imenso vazio estava agora preenchido. Pela luz do Sol? Talvez. Pelo amor inesperado e recíproco? Quem sabe. Ou, então, por ambos.

Alguns dias depois, o Sol brilhava tanto dentro de Olívia quanto em toda a Vila das Esmeraldas, o que significava que Bernardo poderia retornar ao Reino Rotschield. Olívia já imaginava as nuvens ressurgindo quando ele partisse. Mas, como sempre, foi surpreendida.

Bernardo, após ter passado esses dias com Olívia, decidiu que ela era a mulher com quem queria casar-se, ignorando completamente o fato de ela ser uma plebeia, e levou-a com ele para o Reino Rotschield. Porém, o sangue não real de Olívia não foi o único problema.

A Rainha Beatrice, mãe do príncipe Bernardo, já havia programado um casamento para o filho, sem que ele soubesse. E a noiva em questão, era a ex-namorada dele, princesa Maria Rosenberg, que já estava instalada no Castelo Rotschield, esperando pelo retorno de Bernardo.

Tudo aconteceu muito rápido. Bernardo e Beatrice discutindo. Maria fingindo chorar. Olívia sem saber o que fazer. Até que Bernardo e sua mãe se retiraram para um local mais reservado, visando resolver a situação. Maria então se virou e falou:

- Olívia, desista. Seu lugar não é aqui. Eu e Bernardo temos uma história juntos, você e ele tiveram apenas alguns dias. Você é uma ninguém e eu sou uma princesa.

Diante disso, o que poderia Olívia responder? Ela correu sem rumo pelo castelo até encontrar uma torre completamente isolada. A tempestade anterior não era nada comparada ao tornado que agora a atormentava. Os vazios de antes eram meros furos de agulha comparados aos abismos que se formavam dentro dela. Olívia se enganara achando que poderia ter um futuro com o príncipe Bernardo. Tudo foi apenas um sonho maravilhoso do qual ela acabara de despertar. Sonhara alto de mais, nem se importara em manter os pés no chão, e agora estava caindo, despencando dos céus, e não havia ninguém para segurá-la.

Em meio a seus devaneios, soluços e lágrimas, não percebera a aproximação da princesa.

- Não quero correr nenhum risco, preciso ter certeza de que Bernardo será só meu. –Gritara Maria, que em seguida começou a empurrar Olívia em direção às janelas da torre.

Primeiro Olívia gritou, mas depois não se incomodou em revidar. Não sentia vontade de viver a infeliz vida que a aguardava, então aceitou o fim que Maria queria lhe dar. Tudo iria finalmente acabar.

De repente Bernardo, Beatrice e os guardas reais entraram correndo na torre. Os gritos foram ouvidos, afinal.

Bernardo tomou Olívia nos braços e segurou-a o mais forte que conseguira, enquanto Maria era levada para apodrecer no calabouço do reino mais distante possível. Dentro de Olívia, o Sol, novamente, renasceu.

Beatrice então autorizou o casamento dos dois, e a cerimônia foi realizada no Jardim das Fadas. Carruagens chegavam de todos os lugares, vestidos rodados e cabelos armados eram vistos em todos os lados, e os plebeus da Vila das Esmeraldas também se faziam presentes. Os gigantes da Floresta Dellaweare foram os seguranças, e os duendes organizavam uma fila de carruagens. A Fada do Amor realizou a cerimônia do casamento.

Então, príncipe Bernardo Rotschield e a agora princesa Olívia Rotschield casaram-se, e viveram. Não necessária e estupidamente “felizes para sempre”. Eles simplesmente viveram.

Milena Farias
Enviado por Milena Farias em 20/11/2014
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