Sob a luz do cais

Depois daquela noite, passei a ir sempre ao cais.

Tão pouca luz, tantos sinais e muitos mortais

Andei, olhei em volta vi a todos e ninguém me viu.

Talvez fosse o poder da lua que nos esconde no meio da rua.

Então lhe vi, passos largos roupa branca, cabelos longos...

Resplandeceu na rua qual um pássaro diurno.

Me viu, passou e voltou a olhar.

Eu, altiva, muita maquiagem para esconder as olheiras e algumas rugas.

Olhei por baixo das pestanas, com olhos castanhos e brilhantes.

Se encantou, aproximou-se e fitou-me de cima a baixo

Eu perguntei com voz macia, queres de baixo a cima?

Você me respondeu: não só quero te olhar, quanto tenho que pagar?

-Para olhar siga-me, então quero conhecer seu coração.

Fomos a um quarto sujo, mas de lençóis limpos.

Perguntei se queria minha roupa no chão.

Me respondeu rapidamente que não.

Conversamos ali, você despido e olhar vago.

Foi um desabafo, um monólogo longo e cansativo.

Soube de sua vida, de seus amores e de suas aventuras frustradas.

Sem dizer nada, só ouvi e vi suas lágrimas rolarem até o chão.

Soube de sua paixão desenfreada, por uma mulher que amou demais.

Também me disse que foi há algum tempo atrás.

Lembrei-me como eram seus beijos, seu gosto, seu rosto apaixonado.

Depois de algum tempo, parou olhou-me dizendo:

Perdoe-me, por favor me deixe te amar de novo.

Dê-me a chance de te dar a chance e te fazer feliz.

Prometo nunca mais te abandonar, senti-me inseguro eu era imaturo.

Olhei para aquela figura prostrada, calada, morta de todos os prazeres.

Levantei-me, fui até a pia quase limpa.

Retirei os cílios postiços, retirei com papel o batom vermelho

Molhei os cabelos, amarei-os com minha meia de seda

já há muito tempo rasgada, olhei para mim e não vi mais nada.

O que vi foi uma mulher, ainda quase uma moça.

Sem graça, sem vida, sem encanto algum.

Somente um ser amassado pelo pouco tempo.

Enganado e escorraçado, sem brilho no olhar.

Segurei seu rosto, deixei que uma lágrima saísse de meus olhos.

Mostrei-lhe o que o tempo me fez.

Seguramos nossas mãos e saímos calados.

O que guardo até hoje ainda é a lembrança do seu pedido.

Portanto estou aqui para lhe dizer o que nunca te disse em vida.

"Eu sempre te amei e sempre vou te amar "

Joaquina Affonso
Enviado por Joaquina Affonso em 04/02/2015
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