Exempli gratia

Temos várias versões, como por exemplo:

- Eu o conheci quando ele tinha 14 anos, mas ainda é uma pessoa ruim como quando desda primeira vez que nos vimos.

Ela pergunta - Como o conheceu, afinal?

Respiro. Escrevo.

Eu nunca consegui gostar de ninguém, você me conhece há um tempo. Nunca até esse tempo de vida. Mas a história começa assim: conheci um cara, o qual não posso denominar por motivo óbvios, e que vivia perturbando para termos um relacionamento. No meio de tanta insistência, ficamos juntos, e continuamos juntos. Decidimos namorar, mas quando estava me acostumando com a ideia de uma relação descobri que ele namorava com outra pessoa, só que pela internet.

"Ai você começou a conversar com o namorado do seu namorado?"

"Não atropele!"

O Jonas (vamos assim o chamar, pois ele é parte pricípal), o rapaz, continuou namorando com ele, mas eu dei fim a relação. Passando-se algum tempo, de repente ele começou à conversar comigo. Eu que já não tinha nada a ver com a história dos dois, só respondia as tentativas de uma conversa. Mas o assunto já não era mais o mesmo rapaz, e sim outro. Ele queria fazer ciúmes nesse outro rapa, em que ele acreditava estar apaixonado. Me pediu ajuda. Eu ajudei, porque até então, eu poderia passar algum tempo tentando entender algumas lacunas que ficaram nessa confusão toda. E eu me sentia um pouco culpado, pois na realidade eu havia caído no meio da história dos dois, mesmo que sem culpa. Então mandei umas mensagens para ele, pro cara ficar com ciúmes. Mas, segundo o Jonas, ele começou a querer que tudo o que eu dizia, fiticiamente, para ele, se torna-se então verdade. Aos poucos ele foi cultivando e transformando nossas conversas em paixão.

Durante semanas ele tentou transformar, o que caminhava para uma possível amizade, em paixão reciproca. Mas eu não levei muita fé, até porque não acreditava nesse tipo de relação, à distância. Mas se passaram uns meses, e o Jonas continuava tentando. Quando foi perto do meu aniversário, e eu estava bêbado numa festa, ele me ligou e ficamos conversando quase o tempo todo que a festa durou. Eu lembro que me escondi num canto, bem no fim do salão. Meus amigos me procuraram por horas. Eu não sentia vontade de sair dali, de parar de ouvir aquela voz, de saber da existência daqueles olhos, do sorriso, da vida dele. Me cobri de ideias. Mas coloquei uma em prática, eu disse que se ele gostasse de mim mesmo, que era pra ele vir para a minha cidade, no meu aniversário. E ele veio. Não demorou muito, e ele veio. Foram de oito a dez semanas. Juntos.

Eu não sabia como achá-lo no meio de tantas pessoas na rodoviária. Nunca nem tinha ido para a rodoviário sozinho. Esperei durante quatro horas o ônibus que se atrasou. Mas finalmente o ônibus entrava pelos portões da rodoviária. Era o ônibus dele? Será que ele vai gostar de mim? - eram os meus pensamentos. Eu já tinha acabado com duas caixas de chiclete de menta. A minha roupa já estava toda amaçada. Eu quase já não sentia o meu corpo, e eu não tinha dormido desda hora que você me ligou dizendo que já estava no ônibus. Eu suava, e me sentia como uma cachoeira. Já não tinha mais um cheiro próprio.

Eu tinha 18 anos quando ele desceu do ônibus. Nos reconhecemos no olhar, no sorriso. Ele pediu que eu esperasse, e voltou para dentro do ônibus. Eu morri e vivi, quando ele desceu novamente. Ele tinha voltado para ajudar uma senhora com umas caixas. A caixa parecia estar pesada. Ele caminhava em minha direção. Tinha duas malas. Duas malas que pareciam querer expulsar as coisas que conviviam juntas, apertadas durante quinze horas. ele se aproxima. Ele deixa as malas no chão e me abraça. Ele sorri infinitamente. E eu tremo por dentro e por fora. Nos abraçamos por cerca de nove minutos. Eu contei. Contei cada segundo, e na verdade, conto até hoje. Quantos segundos são cinco anos? São 157.788.000 segundos. E continuo contando.

Pego uma das malas. Te levo para o ponto do ônibus. A cidade é grande. Não tenho dinheiro suficiente para o táxi. Não consigo parar de te olhar, e ao mesmo tempo peço, em pensamento, para que você não me olhe. Tento esconder os meus erros físicos. Você é tão bonito... Mas você me olha como eu te olho. Na verdade, pensando bem, hoje, eu sei que você já podia ler a minha mente. Você já sabia que eu me sentia inferior à tanta beleza.

Você disse que precisava me contar uma coisa. Não! Na verdade, você disse que precisava me entregar uma coisa. Eu insisti demasiadamente para que você o fizesse ali. Você teimosamente recusava, mas cedeu. Eram duas alianças. Eu, você. Você e eu, na margem do Rio Leopoldina, na zona norte do Rio de Janeiro. Eu vesti meu dedo com aquela aliança. Nunca me senti tão feliz em toda a minha vida. Você apenas sorria. Quando finalmente disse algo, disse que aquelas alianças significam o nosso compromisso, até então, eterno. Eu não conseguia dizer uma si quer palavra. Pegamos o ônibus que percorreu o caminho mais longo. Eu sabia que aquele ônibus daria volta em quase toda a cidade. Mas eu não conseguia mais ficar onde estávamos. Eu precisava sair, eu precisava fazer algo. Finalmente chegamos numa praça próximo da minha casa. Liguei para o meu 'pai', e ele foi nos buscar. Nos sentamos no banco de trás, e dividimos espaço com suas malas, e nossas mãos entre elas. E eu ainda não conseguia tirar os olhos de você.

Finalmente chegamos na minha casa. Você conheceu toda a minha família. Te levei pelas escadas, te apresentei os cômodos, mas foi o meu quarto que você escolheu para ficar. Você jogou as malas num canto, assim que eu fechei aporta, e não conseguiu se conter. Você me beijou. E você foi retribuído. Eu não conseguia parar de te beijar, e você parecia também não conseguir o mesmo. Mas precisávamos encontrar alguns dos meus amigos, por que afinal, era o meu aniversário de 19 anos.

As oito semanas correram. Fomos quase felizes. Muita coisa aconteceu depois de varar madrugas esperando por nada. E cinco anos depois, somos quase infelizes.

- Mas como você lida com isso? - ela indaga.

Respondo - Como por exemplo...

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 05/03/2015
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