Cartas

Queria escrever uma carta. Mas o que escrever? Como escrever? Eu que não tinha nenhuma habilidade para tal. Passava horas e horas pensando no que dizer, e como escrever. Escrevia, apagava. Escrevia, apagava. E foi assim por uns 40 minutos ou mais. Não era falta de inspiração. Faltavam-me as palavras, o modo correto de falar. Era até engraçado. Tinha tanta facilidade para rimar, mas cartas nunca foram meu forte. Então resolvi escrever algumas histórias e enviar à garota que gostava. Em umas eu falava de meus amores passados, e das tristezas que passei ao tentar fazê-las feliz e elas nem se importavam comigo. Mas também falei dos amores que deram certo, que havia amizade, amor, entendimento. Era estranho. Eu ali contando tudo a ela, e nem ao menos podendo ver a cara dela ao ler aquelas palavras. Um dia tomei coragem e contei a ela dos sonhos que tive. Sonhos dos mais variados tipos, que só tinham um algo em comum: ela. Por tantas noites fui deitar pensando nela e demorava pegar no sono. Pensava demais. Sempre fui assim. Contei a ela dos sonhos no parque, no clube, no cinema. Em algumas palavras consegui expressar como me sentia no sonho, e como ela respondia. Consegui detalhar o sorriso lindo dela, o olhar tão brilhante que me fez apaixonar. Falei das cartas que já tentei escrevê-la, das vezes que peguei o celular para ligá-la e não consegui. Disse isso tudo em muitas, muitas cartas. Mas em nenhuma delas eu tive resposta. Porém continuei escrevendo. Em algumas coloquei meu amor pela escrita, dizendo que as palavras aliviavam meu coração e a vontade imensa de estar cada segundo ao lado dela. Ela chorava ao ler minhas cartas. Não conseguia me responder, com aquela timidez que a deixava sem ideias e sem forças para me dizer algo a respeito. Era estranho para ela ver que eu escrevia tão bem, mas ela não conseguia expressar seus sentimentos verdadeiros através de um pedaço de papel. Pensei, seriamente, em desistir. Um dia, ao chegar em casa, encontrei um envelope pequeno embaixo da porta. E tinha o nome dela e o meu. Ali estava escrito: ''Posso te ver?''. Então me arrumei rapidinho e fui à casa dela, mesmo com o rosto tão cansado daquele dia de trabalho. Ao entrar, logo vi que todas as minhas cartas estavam no chão da sala. Ela estava em lágrimas. Naquele instante pensei em tanta coisa, em tudo que já havia dito a ela. Pensei em abraçá-la forte. Mas foi ela quem me abraçou. Não conseguiu me dizer nada. Nem um sussurro. Eu apenas senti o cheiro dela. E ela, beijou o homem que a amava

Deivide Douglas
Enviado por Deivide Douglas em 14/04/2015
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