Tumor de amor.

Hoje o dia não tinha se iniciado muito prazeroso pra ela. Acabara de sair do consultório médico. Com exame na mão havia descoberto que estava com câncer, era um tumor raro que se encontrava alojado em seu coração, os médicos o denominava de: Mixoma.

Saiu dali cabisbaixa, não sabia o que fazer ou simplesmente para quem contar. Estava desamparada e com razão, nessa vida a pobre Joana não tinha ninguém como amigo. Era órfã, sua vida se resumia em trabalho.

Caminhando pela rua teve a maliciosa ideia de se jogar de frente a um carro e acabar com todo aquele sofrimento ali mesmo. Não tinha que dar satisfação da sua vida pra ninguém. Não tinha filhos nem nada, coisa que fez com que sua vontade aumentasse. Pensou bem e antes de tomar qualquer atitude resolveu tomar uma xícara de café, resolveu parar e respirar um pouco.

Entrou em uma cafeteria qualquer e não sabia que ali a sua vida tomaria um rumo bem diferente.

Joana estava aflita, olhava fixamente para rua e para os carros que ali passavam. Aquela ideia tinha se impregnado em sua mente, martelava e a perturbava ainda mais, estava tão angustiada que nem percebia que ao seu lado um rapaz estava dizendo algo.

-Moça? Moça?

-Ah sim, oi?- Ele era um homem bem vestido, alto, cabelos pretos tinha uma beleza estranha em si. Os olhos de Joana brilharam e a dor em seu peito ficou cada vez mais intensa.

-Precisa de ajuda?- Disse o rapaz sendo gentil.

-Oi? Perdão não entendi a sua pergunta, estou meio avoada hoje. - Joana ficou pálida, estava se perguntando se a sua doença estava tão exposta assim, para as pessoas estarem lhe perguntando se estava bem, se precisava de ajuda.

-Olha é que no nosso café as próprias pessoas se servem. Percebi que você chegou e se sentou aqui... então é só isso.- Joana deixou escapar um sorriso meio aliviado.

-Ah sim, muito obrigada!- O rapaz sorriu e se virou.

Joana levantou e pegou o café mais forte que tinha no estabelecimento, comparava o gosto com o próprio sabor daquela manhã; amargo! Era assim que ela iria denominar a sua vida daqui pra frente, amarga.

Voltou para sua mesa e continuou a fitar a rua e os carros. Logo atrás no balcão o rapaz também à fitava, ele havia percebido o brilho nos olhos negros da bela jovem, e havia gostado daquilo. Talvez tivesse se encantado por ela ou talvez fosse só coisa de momento e pensou que nunca saberia definir.

Passou alguns minutos e Joana pediu a conta, o rapaz ficou aborrecido não queria que ela se fosse assim, sem ele nem ao menos saber o seu nome, rabiscou um papel qualquer e foi ao encontro dela para lhe entregar.

-Moço, espera!- Disse Joana. Ele se virou e disse:

-Sim?

-É que acho que o senhor se confundiu, aqui tem um número e não o preço do café.- Isso deixou o rapaz constrangido, por sorte o café estava vazio. Meio avermelhado ele respondeu a ela:

-O café hoje é por conta da casa e antes que você pergunte sobre o número- Deu uma risada meio sem jeito- é o meu, caso algum dia queira sair e não tenha companhia ou alguma coisa do tipo, estou me oferecendo.- Joana achou a atitude do rapaz um tanto atrevida, mas ela gostou daquilo e isso a fez pensar se ela realmente se jogaria em frente a um carro logo que saísse dali. Ela sorriu.

-Ah sim, muito obrigada!- Se levantou e foi em direção à porta. Olhando nos olhos do rapaz se despediu, e ele ficou lá na incerteza se ela realmente um dia ligaria.

O tempo se passou e em um dia nublado o moço recebeu um telefonema, abriu um sorriso de orelha a orelha, era ela. Marcaram de sair naquele noite mesmo. Ele passou o dia todo ansioso, finalmente saberia o nome da bela garota.

A hora chegou e por fim eles se encontraram, a moça ainda meia abatida com a sua doença, e o moço? Ah o que dizer do moço, ele estava bobo sorria pra qualquer coisa. Disseram-se os nomes ,que aliás o dele era Henrique.

Com o tempo Joana foi se abrindo e chegou a um momento em que ela se abriu demais, sem querer deixou escapulir que estava doente, Henrique a olhou com uma cara de pena, o que a deixou um pouco intimidada. Ela não queria começar um relacionamento por piedade ou que alguém se prendesse a ela por dó. Ela queria conquistar e no fundo a moça sabia que ainda era capaz disso.

Henrique a olhou profundamente em seus olhos e ali teve a certeza que se apaixonara ainda mais por aquele ser frágil. Ao perceber que ela já estava começando a se sentir incomodada, ele sorriu e disse:

-Calma, porque que você está assim tão tensa? Por um acaso acha que eu vou me levantar e sair correndo só pelo simples fato de você ter essa doença boba no coração? Não, eu jamais faria isso! Sabe desde o primeiro dia que você entrou naquele café a minha vida não foi mais a mesma. Eu senti uma vibração tão boa entre nos dois, e quando você saiu por aquela porta eu fiquei tão triste mas ao mesmo tempo tão esperançoso, algo dentro de mim me dizia que você pensaria muito e talvez um dia me ligaria. E quando você ligou...ah eu fui a outro mundo, eu não comi, eu não bebi, eu não fiz nada direito hoje, só esperando te encontrar...resumindo, as pessoas dizem que esses são sintomas da paixão, então pra ser mais claro eu estou apaixonado.- Joana fico sem reação nenhuma, nunca na sua vida ela esperava que isso à acontecesse, mas ela não podia se permitir, estava com os “seus dias contados” e queria evitar fazer com que mais pessoas sofressem, já bastava todo o seu sofrimento.

-Henrique calma, acho que você está se precipitando demais, eu estou doente e a qualquer momento- ela fez silêncio, respirou profundamente, não estava ainda preparada- você sabe. Então antes que você comece a fazer planos...- Ele a interrompeu.

-Joana não me interessa o dia de amanhã, o que me interessa é o hoje e o agora. E sabe o que eu quero agora? Você! Quero cuidar de você, e por favor não me diga não, me dá uma chance, deixa eu te ajudar, deixa eu te mostrar que apesar de todo o sofrimento você ainda é capaz de sorrir...- Ela simplesmente o olhou nos olhos e abriu os lábios, Henrique sábia o que aquele sorriso queria dizer.

Enfim eles viveram muito tempo felizes e Joana descobriu que não era o tal Mixoma que à afetava; era uma doença ainda pior, uma doença que ela vivera muito tempo com, e que agora encontrara a sua cura em Henrique. Sabe qual era essa doença?... A falta de amor.