A ROSA BRANCA CAPÍTULO 2

Por alguns instantes o silêncio tomou conta do ambiento deixando-me, mas aflita, quebrando-se em seguida com a respiração ofegante de meu pai, que não hesitou esconder seu descontentamento, seu olhar estava falando por ele, não conseguindo encara-lo, abaixei a cabeça pronta para ouvir a sentença. Não demorou muito e escutei da boca dele o que jamais imaginei escutar, sua voz foi bem ríspida: (você tem até amanhã de manhã, arrume as suas coisas, e, por favor, encontre outro lugar para ficar. Eu te aconselho pedir ajuda ao pai dessa criança e não volte mais aqui, esqueça-se dessa família). Fiquei em estado de choque, quando meu pai acabou de falar minha mãe colocou uma bolsa de viagem sobre a minha cama sem olhar para mim, enquanto que meus olhos cheios de lagrimas percorreram todo o meu quarto em frações de segundos, escutei as últimas palavras da boca de minha mãe que exprimiram muita frieza dizendo para pegar o que eu quisesse, mas não eram aquelas palavras que eu gostaria de ter ouvido naquele momento, era minha mãe, tinha o dever me ajudar, perguntei-me em pensamento onde teria ido parar o amor que eles diziam sentir por mim? Eu tinha nascido naquela casa, crescido ali, eu só tinha apenas dezesseis anos de idade, mesmo tendo meu corpo bem desenvolvido eu era ainda uma criança, não tinha total noção de meus atos, mas naquele instante tive de ser forte como um adulto, não contive minhas lagrimas e com minhas mãos tremulas comecei a pegar algumas peças de roupas e colocar na bolsa, peguei o necessário, somente o necessário e não dormi naquela noite e quando amanheceu sentei-me sobre minha cama e comecei a despedir-se do meu quarto. Com as paredes pintadas de rosa e uma mobília de madeira escura combinando com a cama, a cortina branca cobrindo a janela, um tapete colorido batido enfeitando o piso de taco, testemunhava a dor que eu estava sentindo por dentro, olhei para os meus livros e conclui que não seriam necessários, pois não teria tempo de cuidar de uma criança e estudar. Desci a escada devagar registrando em minha mente aquele lugar, que eu achava que mim pertencia, ou melhor, que eu pertencia a ele, imaginei os meus pais me esperando na sala, com a esperança de que eles tivessem mudado de ideia durante a noite, mas o que encontrei foi vazio completado com o silêncio, olhei uma última vez e finalmente ultrapassei a porta, era verão, mas eu senti tanto frio, um frio que tocou minha alma, olhei para os lados e só enxerguei mato seco castigado pelo calor do verão, eu morava no campo, numa casa deixada pelos meus avós, pais do meu pai, que já eram falecidos. E ali, pela primeira vez, senti na pele o que é estar sem rumo, não sabia se ia para sul ou para norte, eu não sabia o que fazer daquele momento em diante. Veio em minha mente procurar o pai da criança que eu estava esperando, que se chamava Pedro, mas sabia que seria inútil ele era novo como eu, apenas um garoto, porém foi o que eu fiz.

Mere Bottura
Enviado por Mere Bottura em 20/05/2015
Reeditado em 20/05/2015
Código do texto: T5247993
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