O tipo

Desculpa o meu atrevimento. Só queria dizer que você é a mulher mais charmosa e deslumbrante que já vi circular neste local. Precisava falar... – disse ele, sorriu e voltou para o lugar de onde veio. Assim: direto! Curto e definitivo!

Ela, por sua vez, nunca tinha reparado nele e, se fosse para ser sincera, diria que ele não fazia muito o seu tipo. Entretanto, pelo simples fato de ouvir aqueles elogios... – e ouvir elogios era algo tão comum em seu dia a dia, já que era realmente atraente; mas não aqueles, tão diferentes, de forma tão gentil e segura. E aquelas palavras... Ah, as palavras... As palavras fugiram do lugar-comum, usual, igual, sexual; fugiram da previsibilidade do homem natural cotidiano que ela estava acostumada a descrever como a um animal de zoológico antes mesmo que abrisse a boca. Ele não faria o seu tipo, mas as palavras... E foram três: charmosa... deslumbrante... e o sorriso – porque certos sorrisos também são palavras. E ela nem teve tempo de agradecer. Ele não esperava algo em troca para aqueles elogios: como ensinou o poeta, foram pura doação. Quando ela disse “obrigada” ele já estava caminhando e só virou o rosto rapidamente com um sorriso no canto da boca. Ele não faria o seu tipo, mas ela queria que ele tivesse visto que ela tinha sorrido e que talvez estivesse vermelha. Não faria o seu tipo, mas devia ter perguntado o seu nome. Talvez aceitasse tomar um café com ele mais tarde. Quem sabe que palavras ele seria capaz de dizer com mais tempo num café ou jantar? Não faria o seu tipo, mas o amaria apenas pela capacidade de dizer belas palavras em momentos surpreendentes. Mas ele só disse aquelas, sorriu e voltou para o lugar de onde veio.