MISSA ÀS QUARTAS

Noite de quarta, aqui estou eu, na igreja que você costuma freqüentar. Estou há algum tempo aqui na porta, observando aflito, as pessoas entrarem. O pipoqueiro me olhou umas trinta vezes, mas eu não quero pipoca, quero te ver, preciso te reencontrar. Nem que seja pra dizer um oi...

Estava martelando uma idéia pra te encontrar, te liguei, mas acho que seu numero não é mais o mesmo, passei pela casa que você morava, mas disseram que você mudou, então me lembrei que você costumava ir toda quarta com sua mãe na igreja... Aqui estou eu!

Criei coragem e adentrei na casa do Senhor.

Você bem sabe que não sou nada religioso, sou um tanto quanto anárquico diante de qualquer religião, mas também não sou ateu... Sou algo totalmente novo...

Me sentei na última fileira, bem no canto. Quase saindo do banco, e me peguei perguntando o que estava fazendo ali?

Claro que com todo respeito para com o Dono da casa, eu respondi mentalmente que era pra te encontrar. Me deu uma saudade danada de você, de tudo que você representava, representa na minha vida e decidi ir atrás, decidi que tinha que encontrá-la.

Quando dei por mim a missa já havia começado e eu estava rezando o Pai Nosso, como todos os presentes, a única diferença era que meus olhos estavam atentos a minha volta.

Olhava cada pessoa, tentando te encontrar e quando não consegui ver mais preá frente, eu deixei meu canto e fui para a outra ponta, onde eu conseguia ver o altar e o padre com mais precisão.

Vislumbrei a primeira fila, olhei cada pessoa, rezando para você estar lá, entre elas e assim, sem mais nem menos, você sentiria que alguém estivesse te olhando e então você olharia para trás, e quando nossos olhares se cruzassem, você daria aquele sorriso lindo e a gente se encontraria na saída...

Aí você me daria aquele abraço apertado. Quem sabe você me dava uma carona pra casa, e antes de chegarmos onde moro atualmente, você pararia o carro e ficaríamos observando as crianças na roda gigante.

Então você deitaria a cabeça no meu colo e me contaria sobre sua vida, sobre seus sonhos, suas desilusões, suas conquistas...

Eu estaria fazendo cafuné em você, e quando você me olhasse nos olhos, eu contaria aquela piada velha que você costuma rir... Você sempre foi a única pessoa que ria dessa piada...

E então eu iria me perder novamente... Iria me perder no seu sorriso lindo, iria ficar encarando seus lábios, viajando ao som da sua risada que eu tanto gosto. E desenhando com os olhos o formato das suas covinhas.

Nesse momento você ficaria vermelha e me chamaria de tonto. Iria se sentar e me empurrar, mas nossos olhos ainda estariam unidos. Em silêncio você me pediria um beijo que eu não poderia recusar, e entre um abraço e um beijo, você encostaria seus lábios na minha orelha e sussurraria.

“Eu te adoro, morro de saudades de você todos os dias.”

E eu totalmente emocionado responderia sem pensar.

“Eu também, eu também.”

Então num espasmo de felicidade eu abro meus olhos e percebo que a missa terminou, as pessoas já estavam saindo. Olhando ao redor, sem perder a esperança de te encontrar, eu encaro as pessoas.

Não, você não estava lá... Respirei fundo e olhei pro céu noturno, num misto de tristeza e solidão coloquei minhas mãos no bolso, e com a saudade em dobro no meu coração tomei meu rumo.

Quem sabe na quarta que vem?

Fim?