A EMPREGADA NOVA - parte 4

Até pouco tempo atrás, bater papo com ela, era algo parecido com um monólogo, qualquer pergunta, por mais elaborada, pensada e repensada que fosse, logo era respondida com um singelo ´´sim,`` um despretensioso ´´não,`` um delicado ´´talvez,`` um inocente ´´ não sei`` e às vezes até um esperançoso ´´quem sabe,``dependendo da pergunta, é assim que se resumia o vocabulário da moça tímida vinda dos rincões do interior desse país, um lugar esquecido no tempo, sem eletricidade, sem telefone e quase que sem contato algum com o mundo exterior, isolado de todas as novidades e das modernidades viciantes que poluem a alma e a mente dos jovens, portanto, Letícia é pura de corpo, alma e sentimentos, por isso, tão recatada e tão recolhida, então, Júlio precisava encontrar alguma forma capaz de aproximar- se ainda mais da moça, não só fisicamente, mas em todos os sentidos, ele tinha que mostrar-se diferente dos outros, tinha que envolvê-la em seus sentimentos, tinha que provar para si que não via ali só uma linda morena cor de canela, olhos grandes, castanhos cor de mel, cabelos grandes e lisos que escorriam pelas costas querendo tocar as nádegas, corpo escultural, um violão ambulante, sempre com um sorriso contagiante, apaixonante, mas o que? Apaixonante? Então estaria ele apaixonado? Achava que não, mas estava, de corpo alma e coração, mas como assim, se nunca estivera antes? Foi amor à primeira vista, flechada certeira que fulminou violentamente seu coração.

Como o momento exigia urgência, sacrifícios e entrega, e a concorrência praticamente batendo a porta, Júlio agiu, além de vir ligeiro da escola, não trazer mais ninguém em casa e não sair mais, passou a realizar algo inimaginável para alguém em sua posição, teve que descer um degrau em sua na sua concepção social, passou a ver a vida de uma outra forma, por um outro ângulo, talvez até, pelo modo mais sórdido encontrado, passou a ajudá-la na faxina, nos afazeres domésticos, a lavar a garagem sozinho e a calçada de frente a casa para que ninguém mais passasse, parasse, ficasse reparando e admirando os atributos generosos e trejeitos de sua linda amada, passou também, sozinho, sempre que podia, a realizar as compras no comércio e com isso, a evitá-la do olhar agressivo da concorrência.

Era preciso coragem para conquistar a moça, não aquela coragem de um guerreiro feroz em combate, mas uma coragem sublime, fina,sutil, uma coragem capaz de ultrapassar a região fronteirissa ao abismo, capaz de romper conceitos e preconceitos existentes nos limites entre a razão e a emoção, e cada vez mais corajoso, ele ia chegando de mansinho, devagarinho para não assustar aquela fera, aquela tigresa selvagem, devagarinho amansá-la em seus braços.

Agora,leitor, já temos diálogo, é claro que uma coisa ainda tímida, nada de conversas extensas,intermináveis, se narrasse os diálogos antes, tornaria a estória chata e vaga recheado de monossílabos, um quase monólogo.

E de mansinho, com um papo besta, de quem não queria nada, ele ia, aos poucos, se aproximando e se enchendo de coragem e encorajando a moça, roubando-lhe alguns sorrisos, segredos e quem sabe também seu coração.

Depois de algum assunto banal, a moça deixa de sorrir e pergunta:

- Por que você tem me ajudado tanto, com os meus serviços?

Ele não sabia o que responder, foi pego de surpresa, com a demora da resposta, ela continuou insitindo, queria saber o motivo de tanta disposição daquele rapaz que até pouco atrás nada fazia.

- hein? -Continuou ela

- e porque sua mãe não pode saber que você me ajuda?

Júlio parece ter perdido a voz e como ele nada repondia, a pobre e igênua moça continuou:

- se aqui na cidade é proibido homem fazer isso, não pecisa ajudar.

Ele ficou mesmo surpreso, ela nunca perguntava nada demais, pensou em abrir o jogo, falar a verdade, que estava gostando dela e que aquela foi a única forma encontrada para ficar o tempo todo ao seu lado, mas nesse momento não teve coragem, ainda assim balbuciou algumas palavras;

- é que eu gosto de

- de quê? - insistiu a moça.

- de ajudar, é tanto trabalho aqui.

Ela, sismada, por medo de se repreendida pela patroa, se algum dia chegasse e visse o filhinho ajudando nos afazeres domésticos, pensou, se não podia falar para a patroa sobre as gentilezas dele, é porque tinha alguma coisa errada, apesar de toda a ingenuidade de uma moça vinda do interior, com outros costumes, disso ela tinha plena convicção, que algo estaria errado e então emendou;

- se você ajuda por dó de mim, num carece não moço, eu dou conta do serviço, é muito, mas dou conta sozinha.

Era muita coisa dita por quem só monologava, ele ficou impressionado, agora, não estava mais só apaixonado pela moça, aquela voz singela soava como melodia, também era apaixonante.

GILMAR SANTANA
Enviado por GILMAR SANTANA em 12/08/2015
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