Um conto que nunca será de fadas

Gostaria de começar essa história com "Era uma vez" e termina-la com "E viveram felizes para sempre", mas a idade e a vida, Walt Disney que me perdoe, já não me permitem mais sonhar. Pois então deixe-me contar na versão adulta e sensata.

A conheci como em qualquer conto de fadas que encontramos por aí: pelas redes sociais. Como disse, a vida já não me permite mais sonhar, tampouco, viver.

Sempre achamos que a mocinha estará lá, esperando no topo do castelo, escovando os cabelos e cantando enquanto fazem um lindo vestido para nossa chegada. Sempre queremos ser os únicos, por isso os contos de fadas são tão fáceis: não existe passado. No máximo uma madrasta má, um caçador ou duas irmãs rabugentas, mas nunca um amor antigo ou presente.

E é essa a realidade que os sonhos não conseguem destruir. Seria muito mais fácil tirar uma espada de minha armadura e dizer "Vim lhe resgatar dessa torre e matar o terrível dragão guardião do castelo!", conseguiria matar um dragão fácil se fosse para ter o amor de uma mulher que aguardava anos só para minha chegada. Contudo, o que fazer para matar um amor de uma pessoa que nem sequer sabia que você iria aparecer? Não faz.

No momento em que eu cavalgava com meu mouse pela floresta da rede social e encontrei a menina mais linda que já poderia ter visto, jamais saberia que naquele momento estaria fazendo um conto digno dos clássicos Irmãos Grimm, onde a felicidade, sequer existe.

Fantasiei. Me vesti de mim mesmo e dei o melhor que pude. Foi como se um dos sete anões estivesse apaixonado pela Branca de neve, ou o Chapeleiro se apaixonasse pela Alice. Fui um coadjuvante de um conto de fadas que não era meu, e por não ter entendido direito a história, quis pular direto para o "Felizes para sempre", e não era comigo que ela era feliz.

O engraçado é que nunca acreditei nessa besteira de felicidade, e fui embora. No momento em que descobri que no final do livro eu estaria longe de ser a última página, sai correndo e fui escrever novas histórias. Só que ela estava em todas elas.

Voltei, fiz questão de voltar e ver como estava seu mundo desde que o deixei. Na verdade, pareceu que eu nem tinha partido. Hoje, continuo sendo um dos anões, tão pequeno, mas tão pequeno, que só apareço nas entrelinhas de seus dias. Não me culpo por ter entrado na história errada, afinal, não prestei atenção no resumo.

Só me culpo de não conseguir faze-la enxergar que nesse mundo de fadas, sou eu que devo assumir o papel principal.

É um conto de fadas onde não existe felizes para sempre. Onde a princesa no topo do castelo se apaixonou pelo dragão e o mocinho aguarda na fila de espera com sua espada cravada em seus pés.

Afinal, quem no mundo ficaria sentado esperando alguém decidir se vai aparecer, ao invés de virar as costas e ir simplesmente embora?

Talvez exista contos de fadas onde o dragão mata o mocinho. E não há nada que o escritor possa fazer.

(...)

E tentou ser feliz para sempre.

Luana Costa dos Santos
Enviado por Luana Costa dos Santos em 04/09/2015
Código do texto: T5370493
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