ALEGORIA DO AMOR

Eram cinco no total : quatro homens e uma mulher . Cada qual com seu motivo pessoal . Os motivos masculinos eram mais rasos e superficiais , ainda que houvesse algo de filosófico em para cada qual , satisfazer o desejo mecânico e impulsivo da natureza humana , mesmo que maquiado por uma fina camada de solidariedade para com o caso curioso da garota , se fazia verdadeiro .

O homem de bigode e óculos de grau se mostrou desgostoso quando notou que havia sangue . Fez um bolinho de papel higiênico o esfregou grosseiramente por entre as pernas da jovem .

No final das contas , disse o negro ao lado da janela fumando um filtro vermelho , tudo que uma garota quer é se sentir especial , e acho que fizemos isso por ela . Esse pensamento lhe fazia sentir se bem diante daquela situação .

Do banheiro o japonês que escovava os dentes com a torneira aberta lembrou o negro que o sangue só começou a escorrer depois que ele se aliviou . O mais novo do grupo , um estudante de medicina , comentou que possivelmente o corpo de uma mulher branca não esta fisicamente adaptado para uma relação sexual com um homem negro de quase dois metros .

Achei seu comentário um pouco preconceituoso , disse o homem do bigode . Vocês não poderiam dar uma saidinha , não sei se consigo com vocês olhando . Ele tinha as calças nos joelhos , um pouco constrangido . Ninguém disse nada . A garota esparramada na cama já não tinha a melhor das a aparências . Já fora , ha poucos minutos , muito bonita . O que sobrava agora era a sombra desfigurada da bela mulher que entrara no quarto certa do que queria .

Ela não queria morrer , disse o japonês . E não esta morta , balbuciou o homem do bigode quando mais sangue começou a escorrer . Praguejou quando precisou de mais papel . Mortos não sangram , disso o jovem estudante de medicina . Pelo menos , era o que dizia , ser estudante de medicina , os outros homens ali já duvidavam . De fato isso não importava , não estavam para fazer amizades ou confraternizações. Agora só precisavam dar um jeito de sair sem serem notados .

Eu não tenho problema nenhum que me vejam , disse o negro olhando pela janela o movimento da rua 5 andares abaixo . O mesmo não pensava o japonês . Tenho mulher e filhos , saindo daqui tenho de arrumar rosas brancas para o aniversario da minha filha . Inconformado o homem do bigode subiu as calças , essa garota não para de sangrar , talvez devamos chamar um doutor , disse ele . Quem sabe um tampão , de uma olhada na bolsa dela , mulheres sempre carregam essas coisas , falou o negro . Não sei , isso parece mais uma hemorragia que um sangramento comum , sussurrou o estudante de medicina afastando as pernas da garota . O japonês saiu do banheiro alertando que deveriam dar o fora . Foi ela quem pediu por isso , disse ele , ninguém a forçou nada . No fundo o do bigode se sentiu aliviado por não ter chegado aos finalmentes . Não vou botar a mão nela , deixe que a camareira a encontre e chame por um doutor . Ela está pálida , comentou o negro aproximando o ouvindo ao rosto da garota a fim de sentir sua respiração . Não esta morta , disse o estudante de medicina mais uma vez ,como que se fosse um mantra para afastar a hipótese . Foi então que ela tossiu , pediu por algo , o negro como um gato pego de surpresa saltou para trás assustado . Quase todos riram , menos os dois atores da peça cômica que acabara de suceder . A garota nua começou a tremer , se encolheu em si e chorou . O homem do bigode a cobriu com um lençol e perguntou se estava bem . Não foi bem uma pergunta , foi um ato mecânico e educado previamente ensaiado . Moça , disse o estudante de medicina bem próximo da garota para que ela pudesse ouvir , moça , precisa de alguma coisa ? Seus olhos azuis se escondiam por de baixo dos fios louros caídos sobre o rosto , a luz fluorescente do quarto de hotel sobre a cama iluminava a peça teatral. Enquanto isso na plateia , a conversa pela tela do celular chamava mais atenção da senhora da segunda fileira que até soltou um riso tímido depois de ler algo engraçado .

As luzes se apagaram antes das cortinas fecharem e o publico aplaudir.

16/09/2015

09h20m

Cleber Inacio
Enviado por Cleber Inacio em 16/09/2015
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