ESPELHO

Era uma vez ...

Encontrei um homem num casarão velho e abandonado. Bem, eu ia de passagem naquele lugar seco, quente, e que nem mesmo os lagartos residiam por lá; acho que há muito não chovia; tava delirante, mas quando vi aquele casarão antigo, histórico e quase rendido aos crimes do tempo e ao desprezo da vida e das pessoas que faziam juras de amor, logo fui levado pelo seu espírito até seus batentes. A subida foi lenta, lenta, lenta, sempre numa preocupação curiosa a cada passo dado: parecia suspense.

Bem, o que interessa é que quando Pedro me viu ficou espantado, parecia ter visto um defunto. Sentei num banco velho na sala onde havia poucos objetos; uma mesa cupinada, alguns ratos e um espelho embaçado. E Pedro? Estava lá calado: apenas me olhava atentamente como que fosse a ultima vez. Seu silêncio me amedrontava e me doía muito; falava telepaticamente. Eu via tudo o que ele dizia; estava escrito em seus olhos úmidos, tensos e ao mesmo tempo indecifráveis.

Perguntei: ei, você quer desabafar?

Apenas lascou no pensamento: quem é você afinal?

Soletrou uma palavra, apenas: Helena. Logo me fez refletir a história: Estava na esquina de 1998 quando esbarrou religiosamente em Helena, a troiana, mas esta nem mesmo o reparou. Seus olhos fitos, servos, adoradores e estelares não seguiam o mesmo caminho que o corpo, mas iam de encontro a Helena até que desapareceu no vão do tempo..................................................................................................tempo que fez ambos viverem e apenas um entregar sua alma ... rejeitada..., fúnebre..., outros amores, outras almas...em vão. O amor platônico de Pedro ordenava-lhe que não amasse outra, enquanto isso uma solidão lhe era companhia fiel, nos momentos alegres e tristes, na dor e na saúde e no buquê. Muito sexo ambos faziam; na cama, no banho, no sofá e no imaginário que ejaculava as ruas próximas.

O último inesperado encontro entre as almas de Helena e Pedro se deu numa noite dos enamorados e dos cupidos: olhar brilhante entre ambas, pareciam que se abraçavam apenas com os olhos. Muito silêncio de Pedro e muita força de amor e esperança e fé e ...Helena, mulher forte, seca mas não sensual, saiu sem mesmo lhe falar.

Pés apressados, fantasias nos dentes, sorrisos nas palmas das mãos, cores vivas na roupa e sua chegada, em sua bela casa com seus jardins floridos do amanhecer, foi cheia de novidades para se contar ao travesseiro..., e logo Pedro e Helena estavam juntos e se amaram bastante e intensamente como ele sempre desejou, enquanto isso a solidão saiu corneada e angustiada para suicidar-se, pois já havia apegado-se demais a Pedro. Helena sumiu depois daquele momento sem falar e Pedro, desesperado, acordou em gritos, estando deitado com sua antiga companheira, que o consolava.

Pedro, assim que terminara de contar sua história para o espelho embaçado, quebrou-se o espelho e viveram separados para sempre...

Magno Holanda