Um balão vazio

Tudo passou a ser passageiro. A voz. As palavras. As sombras. As batidas do coração. O tempo. As pessoas. Só o que ainda resta é amor, e por mais que eu tente fazer dele passageiro, o mesmo insiste em ficar, sendo forte, esmagador, destruidor. Tentei leva-lo para longe. Tentei dizer “me deixe”. Mas ele continuou, observou, avaliou. O que será que ele viu?

Meus passos, antes passageiros, agora são rápidos demais. Parece que procuro algo, busco algo. Parece que desde que você se foi, tenho urgência em ser alguma coisa. Sem você me sinto vazio, falta algo, percebo que sim. Antes eu me sentia alto demais, porém, agora me sinto tão pequeno no meio de todos. Comecei a ter claustrofobia, acredita? Mas essa é diferente, me sinto preso nesse mundo grande demais, sabendo que não posso tocá-la nem senti-la. Tudo agora acontece em excesso. É calor demais, e frio também. É barulhento e silencioso demais. São tantas coisas em excesso, entretanto, sou apenas eu, só. Acompanhado, mas só. Eu era mais que completo, e nunca percebi isso. Quando amei, sabia que tudo estava em jogo, era tudo ou nada. Era uma montanha russa, um balão enchendo e esvaziando, até que um dia ele espocou. Ah, foi triste, porque esse jogo teve um fim, trágico, ainda por cima. Agora sou um balão vazio, jogado por aí, impossibilitado de ser cheio novamente. Já não a tenho para me encher igual todas as outras vezes. Ninguém é capaz de encher, os furos são demais.

Acho que sempre fui um balão. Antes cheio, hoje vazio. Hoje eu sou um balão cheio de amor, com o coração machucado. Sou um balão maltratado por ter amado demais. Você me estourou quando se foi. E agora? Quem irá encher? Talvez meu destino seja ser vazio, igual tudo ao redor. Talvez eu não merecesse seu amor. Nos estouramos, nosso mundo se estourou. O amor não, ele é tudo o que restou. Eu queria enchê-la novamente, mas não posso. Você está longe demais, perdida, eu também. Desculpa ser um balão frágil demais.

Hoje sou um balão vazio, só querendo ser enchido por você novamente. Só querendo ser como antes.

Me encha.

Me encha.

Ainda a amo.

Leticia Moura
Enviado por Leticia Moura em 17/10/2015
Reeditado em 19/10/2015
Código do texto: T5418196
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