Na companhia da saudade

A casa estava vazia, ao seu lado o cachorro dormia. Não sabia há quanto tempo estivera ali, sentado, sozinho... Seus olhos expressavam uma leve tristeza, rememorava momentos, não tão distantes, em que sentira o calor do corpo dela junto ao seu. A sensação que ele tinha, era de que o seu cheiro ainda estava impregnado em suas narinas, em seu corpo... O cachorro ao seu lado abanava o rabinho, ele esboçou um movimento de carinho e, por um momento esqueceu as lembranças, a saudade que sentia.

Ela se foi num dia qualquer, para que saber quando? Ela se foi... Ainda se lembrava da sua voz e das palavras que ela havia dito, não conseguia entender... A verdade é que o seu coração não aceitava os argumentos que ela usara. Havia segurança em sua voz, ela realmente sabia o que queria, o seu amor não lhe interessava mais, não nutria por ele o sentimento que antes os unia. Não o amava mais, havia dito. Ele não conseguia entender, o seu amor era tanto... Não, havia percebido uma frieza sim, mas acreditava que era apenas algo sem importância e que passaria. Seus pensamentos agora o confundiam e a sensação da presença dela de novo se fazia bem forte. E a saudade era tanta... As lembranças estavam vivas em sua memória, o dia em que se conheceram e o sentimento que logo sentiram. Foram dias felizes, aqueles... O desejo os unia. Precisava aceitar que o fogo que os consumia havia passado para ela e que o pouco que ficara não era suficiente para que permanecesse ao seu lado. Só ele amava...

Agora ali, sentado na varanda, absorto, compreendia, ela não mais o queria. Sempre foi determinado, seguro das suas convicções, mas ela havia conseguido derrubar todas as suas barreiras e penetrar em seu mundo de homem solitário. Naquele momento procurava chamar à razão o seu coração, sempre tão sensato, mas o seu coração ainda não aceitava as ordens da razão. Era um homem maduro, nunca foi de sofrer por amor, havia saído tão bem de tantos outros relacionamentos... Rememorou os momentos felizes e lhe veio a certeza de que havia valido a pena ter estado ao lado dela. Sempre foi inflexível em suas decisões, seguro dos seus objetivos e agora sabia que tinha que retomar a sua vida, como antes de conhecê-la. Estava certo de que ela não mais retornaria.

O cachorro dormia de novo ao seu lado, voltou o seu olhar para ele, com carinho. A lembrança dela surgiu forte outra vez, ela ficaria assim, por algum tempo, mas seguiria depois, até se tornar apenas uma simples lembrança. Não, não havia dor, apenas saudades e uma leve sensação de vazio. Mas, ele sabia que aquele momento também passaria. Seu coração não sofria, aquelas lembranças iriam alimentá-lo por um tempo, mas perderiam a sua força devagarzinho, ele sabia...

Seu olhar seguro o sustentava naquele momento e a sensação de vazio aos poucos foi sendo substituída por uma leve nostalgia. Havia valido a pena sim, ele sabia e sabia também que, além dela, das lembranças, da saudade, havia uma vida, que era a sua. Havia a necessidade de olhar para a frente e retomar a sua vida, com a certeza de que aqueles momentos não mais voltariam. Sim, assim seria, ele sabia...

Ana Campos
Enviado por Ana Campos em 16/11/2015
Reeditado em 12/09/2021
Código do texto: T5450107
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