Um grande nada

Drenada, a mente. Os pensamentos estão vazios. Sempre pensei que não seria possível pensar em nada. Acredito que pensar em nada, ainda assim é pensar em algo. No nada. Na antiga parede branca, agora desenhada grossos galhos negros, folhas soltas, e alguns retratos, que na maioria ainda não foram trocadas as fotos ilustrativas. Onze meses. O relógio marca onze meses, massageia a história, não me conta que você não gosta de Proust.

Às vezes me vejo em crises que não compreendo como se foram construídas. Não firmo a memória. Me torno construtor de uma moldura absurda, e então fixo fotos nas paredes brancas com galhos negros. Você, num momento o fotógrafo, no outro a paisagem. Tudo se torna confuso, porque você não faz o que quer quando quer, embora isso não signifique coisa nenhuma? Mesmo num significado egoísta isso significa um grande nada.

E esperando a madrugada chegar, você lê o seu grosso livro de grosserias. E quando a madrugada chega você espera que quando você abrir a porta da frente, o alarme não toque, porque você não sabe o código para destravar. Então nessa luta sobre o que te faz ou não confortável, você me pede distância. Eu me afasto. Deixo livre o espaço que você pensa nunca perder. A cabeça está vazia, e em algum momento vai planejar um novo desastre. Você fará um novo discurso sobre como ser livre, e eu vou mudar o modo como faço as coisas acontecer. Pelo menos da forma como vejo as coisas. E tudo se readapitará, esperando até você mudar novamente o seu modo de pensar.

Existem momentos, como esse, em que eu procuro os pontos com o qual eu vejo os erros. Eu me retomo. Não me deixo manipular. Você toma consciência de que estou só novamente, e provavelmente as coisas agora irão acontecer. Você volta, pede por carinho, cria sua dependência. Já é tarde. O dia amanhece, escuto os passos nas ruas. O sol em confronto com a persiana marca o tempo. Tudo está fora do seu controle, e consequentemente dentro do meu. Tudo muda.

Drenada, a mente, os pensamentos estão vazios.