Caminhos Opostos

Uma doce brisa agitava as folhas alaranjadas da alameda Cinco de Maio.

O bailar das amendoeiras e cerejeiras, seduzia seus espectadores lhes proporcionando um belo espetáculo enquanto caía o entardecer. Em uma das varandas, alheia ao evento natural do fim da tarde, Janaína ouve uma canção de nostalgia enquanto uma lágrima teimosa insiste em lhe saltar dos olhos. Seus pensamentos de forma desordenada soam o nome de Fernando, seu ex-amante, um alguém com quem reluta voltar a se relacionar mas por quem ainda nutre uma paixão avassaladora.

As horas parecem infinitas enquanto Fernando encara sem expressão um café na estação de trem local. Seus 30 anos e amores errantes não tiram sua convicção em encontrar um acalanto para seu coração. Apressadamente corre em direção a plataforma pois seu trem com destino à Londres partirá em poucos instantes. Durante o trajeto seus olhos faiscam e um sorriso malicioso se escancara quando se recorda dos momentos que passou junto à Janaína. Esta breve memória lhe aguça os sentidos e de forma intempestiva lhe faz tomar um novo rumo.

Os olhos azuis de Janaína procuram em vão respostas para sua angústia romântica sob o céu nublado. Uma estrela solitária irradia seu brilho por entre as nuvens, fazendo a garota dar um suspiro solto enquanto volta a mergulhar em pensamentos. Em dado momento, a luz da lua clareia o cômodo deixando evidentes os objetos do quarto e a pele branca e quase pálida de uma garota sentimental demais. O rádio continua entoando baladas românticas enquanto a imagem de Fernando invade de forma intensa os pensamentos de Janaína. Passam das cinco da manhã quando a moça de traços finos e cabelos vermelhos cor de fogo adormece em meio a lágrimas e soluços delirando de febre e amor.

O sol começa seu ciclo e o dia surge ao horizonte quando o trem que leva Fernando chega ao seu novo rumo. Seu coração vibra de felicidade em rever a mulher que um dia chamou de sua. O destino em contrapartida conspira traçando caminhos opostos, aos corações apaixonados e carentes. No quarto das memórias, uma música alta revela a tênue linha entre a loucura e o amor. Janaína, já cansada de tantos pensamentos e lembranças partiu deste mundo deixando como legado acessos de loucura e lucidez. Já Fernando traído pela incerteza do destino, mais uma vez deixou a mercê sua sina e seu coração ainda vaga mendigando migalhas de amor.

A primavera traz de volta as cores e odores e o sol como um abraço envolve as ruas da velha alameda. Na varanda do desvario do amor hoje fica o vazio, e pelas ruas um moribundo sem brio, entre a loucura e o cio, procura de forma intensa o amor. O destino e seus caminhos tortuosos mais uma vez tratam de enredar nas teias do medo e desespero, dois corações em cólera.

Marcelo Almeyda
Enviado por Marcelo Almeyda em 01/03/2016
Código do texto: T5560607
Classificação de conteúdo: seguro