Ela 2.4 - Entre Sorrisos e Bonecas de Porcelana

Jeito cativante, olhos decididos e cabelos rebeldes que esvoaçam contra o vento enquanto ela sem jeito procura prendê-los com uma presilha azul. Seus vinte e quatro anos escondem os trejeitos de moça calma, mas que por dentro possui uma loba que insiste em pular de seu peito. Ela caminha por entre as alamedas de uma grande avenida e o seu desejo é apenas viver.

A sua volta, enquanto o vai e vem frenético dos carros insiste em perturbar seus ouvidos, ela despreocupada cantarola uma canção dos tempos de outrora, imaginando se em meio a espadas e cavaleiros ansiando pelo resgate do encantado príncipe, fazendo-a esquecer toda tristeza que insiste em magoar seu coração. Uma brisa doce toca seu pescoço, transformando em poesia e graça uma fração de segundo.

O relógio caminha desenfreado e o entardecer revela a imensidão da noite enquanto ela adentra uma pequena loja de souvenir na busca por um mimo pessoal. Desfilando entre os corredores, meus olhos a seguem, buscando vestígios, retorno e quem sabe uma luz para a escuridão que se transformara minha vida. Tocando objetos, imagino-me em suas mãos, sentindo seu toque macio, no caminhar singular das maçãs do meu rosto. Subitamente, sou acordado pelo som harmonioso e melódico de sua voz me dizendo olá, e me perguntando onde ficavam as bonecas de porcelana.

Frações de segundo passam quando chegamos ao corredor das bonecas. Enquanto seus olhos curiosos pairam sobre as prateleiras, minhas mãos já aninhadas em seus ombros lhe mostram a direção dos artefatos para sua apreciação. Ao sair das compras, satisfeita e com um sorriso que irradiava felicidade e poder, seu nome e telefones já estavam anotadas em meu pequeno caderno de anotações.

Foram noites e dias até o dia do esperado reencontro na praça das cerejeiras defronte ao parque central. Para matar as saudades, mensagens eletrônicas e telefonemas cuidaram de descobrir seus medos e anseios, felicidades, dissabores, além de revelar qualidades e curiosidades formidáveis.

O sol preparava-se para mergulhar entre às nuvens quando ela, cabelos ao vento, vestido florido e sorriso encantador preencheram o vazio do outono e dos espaços provocados pelo caminhar dos pedestres no fim da tarde. Uma troca de olhares foi suficiente para revelar a saudade que sentira durante todo aquele tempo.

Caminhando pelas ruas de flores caídas, ela revelou seu arrebatador desejo, enquanto ele mais tímido, sentia o ardor das têmporas e o gelar das mãos a cada palavra proferida por aquela moça. Fora embaixo da cerejeira mais antiga do parque que o primeiro beijo aconteceu, explodindo todo o sentimento guardado a sete chaves. A cada carícia e toques delicados a lembrança daquela primeira visão, da boneca em busca de algo mais perfeito que ela, em graciosidade, beleza e criação. Revelava-se a noite enquanto caminhavam rumo ao incerto, em zigue-zague nas sinuosas curvas que fazem parte do coração daqueles que estão apaixonados.

Marcelo Almeyda
Enviado por Marcelo Almeyda em 07/03/2016
Reeditado em 14/03/2016
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