Romance em Riviera

O final de semana prometia sol e tempo agradável quando Cesar decidiu descer a serra em direção ao litoral. Mesmo no inverno e com essas loucuras de El Ninõ e mudanças tropicais, certamente conseguiria pegar um bronzeado, tomar uma água de coco e ver as ondas quebrarem ao fim de tarde.

Em um veículo que trafegada rapidamente pela Serra do Mar, Gisele guiava seu carro esportivo em busca de um pouco de paz e divertimento. As atividades em seu escritório de advocacia aliadas à falta de tempo livre a estavam deixando louca. Visitar a praia naquele fim de semana representava esquecer os problemas, experimentar novos biquínis e colocar a cor em dia, coisa que não fazia com frequência por conta do maçante trabalho que realizava. Quando avistou a imensidão do mar ao longe, acelerou e assim como a potência do carro seus pensamentos voaram em direção à doce Riviera.

O vai e vem das pessoas no calçadão anunciava que o final de semana seria de fortes emoções. Garotas com variados biquínis e seus corpos esculturais disputavam centímetro a centímetro qual delas seria a princesa daqueles dois dias. Famílias com suas farofas e crianças amontoavam-se por um espaço e faziam uma bagunça que para aquela época do ano não era de se esperar. Alheio as pessoas que se amontoavam pelas areias, César caminhava aéreo bem próximo as águas deixando as ondas quebrarem em suas canelas. O fim de seu recente relacionamento e uma tristeza aparente eram dissolvidas no insistente vai e vem das ondas. Pensamentos aleatórios passavam como flashes em sua cabeça quando avistou Gisele de forma graciosa passar a sua frente e correr em direção ao mar. Seu biquíni cor de rosa, bem distribuído por seu corpo e seus olhos azuis chamaram sua atenção e eriçaram os pelos de seu corpo. Horas mais tarde ao pôr do sol ainda imaginava uma cena de amor com a bela mulher tendo como testemunhas o colorido do céu e as poucas estrelas que despontavam na imensidão.

Passavam das vinte e uma horas, o céu estrelado e a brisa litorânea de sábado à noite convidavam os residentes da Riviera para uma incursão à beira mar. Gisele, vestindo uma roupa que valorizava suas curvas caminhava despreocupadamente quando foi atraída por um animado pagode que tocava em um dos quiosques. Ao adentrar o recinto como estava abafado, pediu uma bebida ao garoto que servia às mesas e foi misturar-se às pessoas que dançavam animadamente. Sua graciosidade e beleza não passaram desapercebidas, chamando a atenção dos homens que estavam no local.

Desacostumado à agitação na cidade grande, César resolveu conhecer os atrativos da vida noturna da Riviera depois de pedir instruções em um aplicativo de seu smartphone. Casas noturnas, bons restaurantes e feiras de artesanato, nada chamaram tanto sua atenção quanto um quiosque à beira mar que tocava músicas de seu tempo de adolescente. Seduzido pela melodia de cavacos e tantãs, adentrou o recinto deixando que a nostalgia lhe envolvesse. Pedindo um drink de seu apreço, avistou ao longe Gisele e seu gingado que enfeitiçava os já presentes. De forma rápida seus pensamentos voltaram-se totalmente à mulher que destacava-se das demais pela malemolência e sensualidade, queria aproximar-se daqueles olhos azuis faiscantes que deixavam o brilho da lua em segundo plano.

O intervalo entre as faixas músicas foi o gatilho necessário para César de forma fortuita oferecer uma bebida a Gisele direcionando a atenção da loira para si. Começaram ali um bate papo sobre amenidades que foi se intensificando a cada rodada de cervejas e caipirinhas. Durante a alta madrugada, quando a música já não era mais o entretenimento entre eles, e com os olhos faiscando desejo por possuírem afinidades decidiram caminhar a luz do luar. Apesar do calor, poucos jovens aglomerados com seus violões e bebidas baratas ainda persistiam cantando músicas do antigo rock nacional.

O vai e vem das ondas molha os grãos de areia na noite estrelada quando César e Gisele, íntimos no desejo de entregar-se param a altura de uma grande pedra. O som da maré, o tilintar das estrelas e uma doce brisa tocam o rosto dos amantes que na súbita paixão de entregar-se deixam seus corpos tornaram-se apenas um. Enquanto amam-se enroscando bocas e mãos, pernas e suor, trocam juras de momento, tendo como testemunhas o céu estrelado, as ondas que batiam na pedra onde se amavam e a lua cheia que naquele momento brilhava com maior intensidade. Passaram o domingo fechados no apartamento que César alugara deixando que o desejo criasse a atmosfera perfeita. O fim de tarde colorido em laranja e azul marcou a despedida de ambos que mesmo em direções diferentes partiam para o mesmo destino.

Fechado em seu quarto em uma madrugada qualquer, César ainda se lembra dos momentos passados com Gisele. Sente em sua boca o gosto do beijo ardente e em sua pele o cheiro do perfume Chanel. Do outro lado da cidade, mas não muito distante, Gisele rola de um lado para outro na cama, fazendo com que os momentos vividos fossem como um flash back ao som de uma deliciosa melodia. O sono só lhe invade quando os primeiros raios de sol penetram suas persianas e janelas.

A quinta feira avança frenética com seus carros e compromissos, pedestres e caos quando Gisele chega ao parque para um leve exercício. Sua rotina de processos e tensões se extinguem quando está em contato com a natureza. Do outro lado deste mesmo parque César realiza seu alongamento treinando para uma grande maratona. Os dois não sabem, mas a qualquer momento e de forma inesperada se reencontrarão. É a oportunidade que o destino lhes dará para matar a saudade e resgatar a chama das lembranças que ficaram daquele final de semana em Riviera.

Marcelo Almeyda
Enviado por Marcelo Almeyda em 20/03/2016
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