Imaginação, o nosso jogo de amantes.

É madrugada, nas frias paredes do meu pequeno aposento, ouço sua doce voz me chamando:

- VEM!

Entre quadros pendurados e espelhos, uma melodia preenche os cantos ainda vazios de uma mudança recém realizada. Livros espalhados remetem a leitura de romances do passado, e que eu de maneira desordenada e ainda infantil tento recriar. Volto a deitar-me pensando ter ouvido os zumbidos e gritarias da avenida movimentada que corta os fundos de minha nova residência. Rolando de um lado a outro da cama, como se estivesse em meio ao deserto, volto a ouvir sua melódica voz, num pedido urgente para amar:

- VEM!

Levanto-me sobressaltado procurando de onde vem tal voz sedutora, pingos de suor tomam meu rosto. Próximo a mim apenas as sombras de um passado que desejara esquecer para sempre. Tomo um gole d’água, imaginando um delírio pueril ouvir tal voz me chamando, clamando para ser amada. Mais um gole do cristalino líquido e uma enxurrada de pensamentos toma conta de mim. Retorno a meu leito, tentando em vão pregar os olhos para um novo dia que se aproxima. Cantarolo uma balada que toca em minha radiola quando suavemente sua voz invade novamente meus aposentos, meus ouvidos de forma uníssona me chama:

- VEM!

Ainda assustado olho para os lados e vejo apenas a escuridão da noite, pela janela o clarão da lua cheia tenta em vão furar a grossa cortina que cerca meus aposentos. Em meus ouvidos, um novo pedido, sua voz sussurrando, clamando, como se fosse um último pedido:

-VEM!

Em uma fração de segundo, começo a imaginar seus traços, seu corpo bem torneado, sua boca, me chamando como uma súplica para uma amor voraz e que deixaria nossos corpos exauridos por tempos. Já não consigo conter a euforia de meu coração quando sinto suas mãos deslizarem sob meu corpo, tocando-me de forma carinhosa e ao mesmo tempo fugaz. Meus pelos eriçam quando sinto seus lábios tocando os meus, o gosto quente de sua boca com gosto de cravo e canela num misto de alegria e êxtase. Nossas línguas embolando-se numa divertida caça, sem saber ao certo quem seria caça e caçador. Deito-me novamente, esperando que me possua e me faças esquecer do mundo lá fora mas, de forma despretensiosa, você se afasta e às gargalhas e me diz:

- Não agora! Espera mais um pouco.

Me desespero, meu corpo em chamas quer sentir o ardor e o peso de seu corpo, perco meus sentidos, mergulho em labirintos dentro de mim, perseguindo apenas uma voz, um sentido, uma sombra que insiste em fazer parte de mim. Busco um sentido para essa loucura que mexe com meus sentidos, me faz delirar em febre e cólera meu desejo. Você em seu jogo de amantes, dominando meus sentidos e sentindo-se rainha da situação, volta a ecoar sua voz alcançando-me no torpor de meus sonhos:

- Te quero! Te desejo! Vem pra mim!

Novamente no quarto escuro, ainda inebriado pela experiência que acabara de vivenciar procuro respostas que não consigo encontrar. Aguço meus olhos para tentar enxergar-te mas sem sucesso me limito a imaginar o que por mim esperara. Ainda brincando com meus sentidos, atordoados por medo e excitação sua voz volta a aveludar-se e de forma carinhosa e como música angelical volta a visitar meus ouvidos:

- Deite-se, já vai amanhecer. Uma hora eu voltarei.

Depois de levar-me a loucura, ajuda-me a mergulhar no mais profundo sono, recostando-se ao meu lado e acariciando meus cabelos. Meu corpo sente o torpor e sou levado ao mundo dos sonhos, a euforia dá lugar a paz e lentamente me conduzo ao reino de Morpheus. Buscando de forma incessante encontrar a dona da voz que leva minha alma ao delírio, procurando possuir aquele corpo que me envolvera em seu jogo de sedução na noite anterior. Horas mais tarde, em meu quarto preenchido com as ondas do sol, acordo confuso e misturando sensações. Porém em meu subconsciente, aguardo a chegada da aurora, para fazer da minha ilusão uma realidade, e jogar com você mais uma vez o nosso jogo de amantes.

Marcelo Almeyda
Enviado por Marcelo Almeyda em 25/03/2016
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