Eu te odeio

– O que você está pensando? – ele perguntou.

– Você não quer saber – ela respondeu.

– Claro que quero. Se não eu nem perguntava.

Ela só o encarou em silêncio e não disse nada.

Estavam sentados em uma mesa de um Starbucks, com seus cafés a sua frente.

– Diz a primeira coisa que vier a sua mente – ele insistiu.

Ela continuou encarando-o e ponderando.

– Eu te odeio – ela disse por fim.

Aquela resposta pegou-o tão de surpresa que ele não conseguiu dizer nada.

– Foi você quem pediu – ela deu de ombros.

– Você não me odeia.

– Já pensei em várias formas de te matar – ela completou. – Uma delas acontecia num Starbucks, aliás.

Ele riu, mas ela continuou séria.

– E como seria? – ele perguntou curioso.

– Você morreria engasgado ou queimado por esse café horrível que eu jogaria em você. Temos algumas opções.

Ele tentou não rir, pois ela parecia estar falando muito sério. E considerando o quanto odiava Starbucks e café, ele achou que ela, realmente, poderia fazer algo do tipo com aquele café que comprara para ela.

– Tudo bem, então você me odeia de verdade.

– Odeio – ela confirmou.

Os dois ficaram em silêncio. O olhar que ela dirigia a ele era duro e frio.

– Ou eu só me odeio por ainda te amar – ela sussurrou mais para ela do que para ele.

Aquela frase pegou-o mais de surpresa do que a primeira declaração dela.

– Você pensa em métodos de matar alguém que ama? – ele levantou as sobrancelhas.

– O tempo todo. Especialmente se for um babaca como você.

– Ai, essa doeu.

Ela deu de ombros, tomou um gole do café e fez uma careta. Como odiava aquilo!

– Mas acho que você tem razão – ele ponderou.

– Claro que tenho.

– Decidiu como vai me matar?

– Estou pensando ainda. Mas algo dramático.

– Óbvio que sim. Estamos falando de você, o drama em pessoa.

Ela revirou os olhos. Pegou suas coisas e se levantou para ir embora, mas ele a segurou.

– Não vai embora – ele pediu.

– Você quer ficar no mesmo ambiente com uma pessoa que quer te matar?

– Quero.

– Você é louco.

– Você também. Mas eu também te amo. E não me odeio por isso.

– Bom, mas eu sim.

Ela se soltou e foi embora, deixando-o sozinho com os cafés horríveis que deveriam ser jogados na cara dele.

Flávia Tomaz
Enviado por Flávia Tomaz em 27/04/2016
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