Socorro, meu príncipe virou sapo

SOCORRO, MEU PRÍNCIPE VIROU SAPO

Francilangela Clarindo

1ª Edição 2012

O conteúdo desta obra

é de responsabilidade exclusiva da autora.

Socorro, meu príncipe virou sapo

A Deus, a quem devo a vida, a existência, a paz.

Senhor, obrigada por tudo que sou, que vivo, que passo.

A minha mãe, pessoa maravilhosa que Deus colocou na

Quinha, obrigada pela dedicação em ser mais que tudo.

A meu pai, grande homem das artes, literatura, música,

cultura e viagens.

Francildo, obrigada por me ensinares que na vida há muito

mais do que nos salta aos olhos.

A meu marido, que me faz refletir o que sou, o que faço, o

que tenho.

Franzé, obrigada por seres o ser que falta em mim.

Francilangela Clarindo

A meus filhos, que são meu tudo, meu ar, minha vida.

Ítalo Anderson, obrigada pelo companheirismo, alegrias e

tristezas que me ter tornaram mãe.

Felipe Gabriel, obrigada pela pessoa maravilhosa que és.

A meus irmãos, que caminharam comigo pela vida.

Dalvinha, obrigada pela irmã, amiga inseparável e dedicada

Naldinho, obrigada por ser tão bom de coração.

Francildinho, obrigada pela atenção e paciência.

Neudinha, obrigada pelas lições de bem viver.

Vaninha, obrigada pela bondade que tuas ações provocam.

Aos meus amigos, que em cada fase de minha vida estão

presentes, ora uns, ora outros.

Amigos, obrigada por estarem sempre comigo, me

apoiando, me ouvindo, me segurando. Queridos, vocês

moram em meu coração.

Socorro, meu príncipe virou sapo

“ [ ... ] até esse ponto nos enganam nossa imaginação e

nossos sentidos! Então os objetos não formam nossas

ideias, nem nós próprios as podemos arquitetar.”

Francilangela Clarindo

SUMÁRIO

Apresentação por.........................................................

Prefácio por .................................................................

Quando tudo começou ...............................................

Criança, eu? .................................................................

E a idade vai chegando.................................................

Mente que não me deixa quieta..................................

Nem com 15 nem com 16 ...........................................

E chegamos aos 17 e nada...........................................

Até que enfim..............................................................

Maravilhoso?................................................................

E afinal de contas, o que foi feito do papel?................

Socorro, meu príncipe virou sapo

“Fui concebida, nasci, cresci e um belo dia virei

mulher no sentido lato da palavra, com desejos, sonhos e

querendo um pouco de romance numa vida monótona. Este

foi meu erro... Ou posso considerar experiência... Ou

mesmo acerto? Bem, não sei! ”

Francilangela Clarindo

Quando tudo começou

Um dia, quando eu tinha quinze anos, a professora

pediu que colocássemos um sonho nosso em um papel e o

guardasse para abrir quando tivéssemos o dobro de nossa idade.

Então eu assim fiz:

“Sou Wina. O que mais quero é que um príncipe

encantado apareça em minha janela e me leve em seu cavalo

branco imponente.”

Hoje, varrendo a casa o encontrei e pensei: Olha só,

faz tanto tempo. Mais do que o tempo que a professora pediu que

o abríssemos. Já tenho 40 anos.

Você deve está querendo saber se realizei ou não meu

sonho. Pois este livro nasceu da vontade de contar o que aconteceu

depois daquele sonho escrito num papel e deixado dobrado e

guardado por 25 anos, uma vida inteira, numa caixinha de relíquias.

Então, vamos lá!

Socorro, meu príncipe virou sapo

Criança, eu?

Lá pelos nove anos comecei a olhar diferente para os

meninos. Muito tímida e acanhada, somente olhava, sem maiores

conotações.

Havia uns cinco meninos interessantes. Sempre que os

via meu coração batia (se não, eu o fazia bater. Afinal, eram as

minhas emoções e eu achava o máximo, mesmo sem ser).

E era tão engraçado o jeito que eu saía de casa. Vestia

um short jeans, uma camiseta e me olhava tanto, achava que estava

maravilhosa com aquele look que, com certeza, faria os meninos

vibrarem com minha presença. (Pense só que eu me achava uma

diva, linda, irresistível naquela roupinha provocativa. Ai, ai, ai...)

Então, de roupinha transada, lá ía para fora brincar.

Sabe que quando eu era criança, há bons vinte e cinco

anos, era bem diferente de hoje o jeito de ser criança e de se ter

dez anos. (Já havia completado dez anos na época do shortinho).

Todas as noites a rua se enchia da criançada brincando

de carimba, partir o bolo, roda (que incluía atirei o pau no gato,

ciranda, cirandinha, a linda rosa juvenil, fui à Espanha entre outras),

céu e inferno (por aí dizem amarelinha), cai no poço (as mocinhas

amavam esta brincadeira e também a do jogo da verdade.

O momento mais esperado do dia, depois do Sítio do

Picapau Amarelo, era a hora de se encontrar com as amigas para

brincar. Às vezes, íamos uma para a casa da outra, o que também

era muito bom.

De vez em quando reclamávamos quando uma mãe

era chata e não deixava que sua filha saísse com a gente porque

estava doente, não tinha estudado ou coisas do tipo. (De jeito

nenhum entendíamos os cuidados que uma mãe tem que ter com a

saúde e segurança dos seus filhos. Queríamos brincar e pronto. O

resto nos deixava furiosas.)

E entre brincadeiras de correr, ensinar e perguntar,

conversávamos muito, respondíamos disparates e queríamos saber

coisas de gente grande (imaginem só sobre o que estas conversas

versavam). Era o assunto do momento. Quem já tinha beijado,

quem já tinha namorado, como seria o primeiro beijo, quem já

tinha respondido tal e tal disparate e coisas tipo assim que nos

rendia boa parte do tempo. Era uma curiosidade sem fim.

De vez em quando uma treinava no joelho como seria

o primeiro beijo. Claro que uma era bem diferente da outra. Havia

as mais saidinhas e as lesadas. (Em que time eu estava? Mas você é

muito curiosa. Leia e tire suas próprias conclusões.)

Quando nos reuníamos no quarto era para rir muito de

tudo que falávamos e imaginávamos.

Era muito divertido ser criança e sonhar. Tudo era tão

singelo, doce, meigo, infantil, pueril, inocente. Achávamos um

escândalo o que hoje podemos considerar fichinhas. Bons tempos

aqueles que não voltam mais.

Onde estará a inocência de nossas crianças hoje? Já

nascem com um certo tom de malícia, sabem o que nem sonhamos

saberem e agem como verdadeiras adultas em miniatura.

E a idade vai chegando...

Ninguém tem nove ou dez anos para sempre, então fui

ficando mais velha. E o que era só uma paquerinha, uma olhadinha,

foi crescendo para uma vontade louca de namorar.

Já agora tinha quinze anos. Imagine? Estava muito

querendo um namorado, um príncipe encantado me seu cavalo

imponente, branco, lindo (ambos, o cavalo e o príncipe. Ninguém

merece sonhar com um lindo cavalo branco impontente com um

príncipe horrível o montando, ou mesmo um príncipe lindo de viver

num cavalo horroroso. Aliás, já está implícito, príncipe só vale

quando é lindo, maravilhoso, gato, fofo, de fechar o quarteirão.

Mas, venhamos e convenhamos que a realidade não é bem

diferente do que a teoria).

Foi então que, num belo dia, na aula, a professora

pede o sonho escrito no papel. E ainda diz para que o deixemos por

15 anos guardado e depois façamos uma análise se ele foi realizado

ou não em nossas vidas.

Não contei pipoca. Foi lá a história do príncipe

encantado. Não imaginei outra coisa. Hora, só pensava nisto. Nem

aí para a profissão, o futuro, coisas assim do tipo. Príncipe

encantado. Pronto! Simples assim.

A professora respeitou o sonho de cada um. Não pediu

que o lêssemos e muito menos recolheu nosso papel, mas

conversamos muito sobre nossos sonhos, o futuro, o que era legal

ou não de se fazer (claro que a professora não iria perder a

oportunidade de passar bons conselhos para nós, afinal, na idade

que estávamos, não era excesso aconselhar).

E eu gostei muito de ouvir minhas colegas, os meninos

e até a professora. Foi bom, muito bom!

Mente que não me deixa quieta

O fato é que aquela aula não me saiu mais da cabeça.

Acho que era o sonho que pesava. Eu queria! E nada! Coisa difícil

esse negócio de príncipe encantado. Pois que não chegava.

E minha mente pensava, pensava, pensava...

Ai! Como seria ele? E como seria namorar? E como

seria beijar? E como seria me arrumar e esperar por ele? E se ele

não viesse? E se arranjasse outra? E se meus pais não deixassem?

Vixe Maria! Aí pegou! Se papai e mamãe soubessem o

que ando pensando me dariam o maior carão. Deus, tenho que

esquecer. Não dá! Vou estudar que é melhor.

Mas quem disse que minha mente deixava quieto meu

pensamento? Nada, era só nele que eu pensava.

Tinha que vir logo para ver se eu vivia noutra.

Que coisa! Príncipe! Príncipe! Príncipe! E príncipe!

Até eu já estava cansada.

Nem com 15 e nem 16

Eras! Não foi com quinze. Será que vai ser com 16?

As meninas todas já paqueraram, beijaram e

namoraram. E eu, nada! Que chato!

Ficam aí todas de namorico, nem conversam mais com

a gente. É só um tal de segredinho para cá e para lá. Que saco!

O pior é que a gente nem pode chegar perto. Tem

umas até que falam algumas coisas, mas se a gente não tem feito,

que adianta? Eu queria era contar minhas experiências e não só

ficar ouvindo as das meninas.

No início até que gostava, ficava pensando em como

faria quando chegasse minha vez, mas depois de um anos, dois

anos, um tempo sem fim, cansa de só ouvir.

Ora, se tem menina já pensando em casar. E eu aqui,

sem nem namorar.

E chegamos aos 17 e nada

Ah, não! Assim já é demais. As meninas não querem

papo comigo. Nem temos mais conversa.

Eu nem namorei ainda e elas já querem agora é filho.

Eu, hein!

Tudo já querendo ir para a faculdade e pensando

nesse negócio de casamento, filhos e o que vem junto com a

Claro que nem querem saber de mim, né?

Eu vou já é ser filha delas. Tanta pureza assim cansa!

E eu odeio quando me excluem e ficam com

conversinha que eu nem sei o que é. Dá vontade de dar o maior

piti. E dou mesmo, grito, falo, esculhambo. Ora, mais! Quem

pensam que são para darem uma de gostosonas para cima de mim?

Só porque já namoraram e sei lá o que fizeram mais,

eu não vou me sentir diminuída.

Até que enfim!

Gente, hoje vi um gato lá no colégio. É novato. Foi seu

primeiro dia. As meninas caíram em cima. Povo oferecido!

O Gustavo é fofo! Entendo porque as meninas ficam

todas em cima dele. Ele nem me dá bola. Deixa pra lá.

Bem, o menino novato, Gustava, foi! Mas, naquele

mesmo dia, à noite, fui passear na pracinha com umas amigas e

conheci um rapaz muito legal. Era amigo de uma das que estava

comigo. Conversamos muito e ele disse que passaria aqui sábado,

para darmos um voltinha na pracinha de novo. Ah! Legal, né?

Pois é, meu príncipe (até que enfim!) chegou! Daquele

encontro casual na pracinha, nos encontramos mais vezes,

passeamos e conversamos muito e acabamos namorando, casando,

tendo filhos e uma vida inteirinha juntos. Maravilhoso!

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Francilangela Clarindo

Maravilhoso?

Tá certo, tudo bem, vou confessar. Não foi tudo tão

maravilhoso assim, mas foi. Na verdade, meu príncipe virou sapo.

Bem, não é assim, de repente, como um passe de

mágica. Posso até dizer que não transformou-se eu que fui vendo

de forma diferente.

É, quando estamos apaixonada, custamos a acreditar

no que nos salta aos olhos. Se você conseguir escapar de um plano

mirabolante para conquistar seu coração, no mais, as coisas já estão

ali, presentes e você não quer ver.

Sempre dará um desconto para algo estranho. Você

quer o príncipe encantado e o vê, o imagina, sonha com ele. E,

quando aparece, é assim que o idealiza. Sendo ou não o que

imaginas, é assim que ele figurará.

Mas não há como o encanto durar para sempre. A

própria natureza e a convivência encarregam-se de mostrar isto.

Os trejeitos vão aparecendo, assim como o jeito

desarrumado, o cabelo desgrenhado, as palavras indecentes, os

cabelos brancos, as dificuldades no andar e no falar, finanças,

incompatibilidades de gênio e muitas outras, enfim, o sonho vai

sendo destruído aos poucos.

Mas, veja só, não é isto somente. Tenha os pés nos

chão. Relacionamentos são assim. Não são de todo maus, não são

de todo bons, são reais. E a realidade não é um sonho, é a vida.

Não veja seus relacionamentos como a pior coisa que

fizestes, nem a melhor. Encare com naturalidade que as pessoas

têm problemas, defeitos, mas que também são cheias de graça e

atitudes boas. Procure em seu par o que lhe é agradável, cultive

isto. Vá deixando de lado coisas que não são construtoras do seu

relacionamento.

Se você porque o viu deixar a escova de dentes em

cima da pia vai, a cada dia que Deus dá, lembrar disto e jogar na

cara, poxa, não vai ter quem aguente, muito menos ele.

Da mesma forma, querido, que, se ela comprou um

vestido que custou o dinheiro das compras do mês, você passa a

nunca dar-lhe um presentinho que seja por causa daquele. Ah, que

vestido caríssimo é este que em uma vida não é possível pagar?

A verdade é que estragamos muito nossos

relacionamentos com bobagens. Muitas bobagens.

Coisas sérias, sabemos medir quando surgirem.

Mas as bobagens, deixemos para lá e sejamos felizes,

pois vida, só temos uma, e nada melhor do que vivê-la com a

pessoa que escolhemos e com felicidade.

Tenho certeza de que, se uma palavra que se deixa de

dizer ou uma atitude que se deixa de enfatizar vai fazer diferença

quando forem negativas. Ao lado que, quando positivas, se forem

propagadas, elogiadas e incentivadas farão acontecer boas coisas.

Tente, invente, faça um relacionamento diferente.

Saiba que seu príncipe encantado não o será sempre.

Aquele homem maravilhoso já tinha defeitos quando você o

conheceu, mas algo a deixou maravilhada e isto não mudará nunca.

Ame-se, ame e deixe-se ser amada. Isto não significa

ser boba, mas feliz.

Eu não sei dar receita alguma para casamentos felizes.

Nem o meu o é completamente. Provavelmente nunca será. Mas

não é disto que estou falando. Não se trata de uma felicidade

imaginária, irreal, forçada, fictícia.

Meu casamento é meu casamento e eu o prezo. Se

reclamo, reclamo mesmo porque coisas pontuais devem ser

esclarecidas, mas pense no todo, no que ficou durante todo o

tempo que ficaram juntos, vale ou não vale a pena?

O seu relacionamento é o seu relacionamento, quem

sabe vivê-lo é você mesma. Não permita que ninguém o faça por

você porque é você que sabe se é bom ou não.

E, se for bom, se valer realmente a pena, não se deixe

levar, permaneça, segure-o, lute por ele. Deus estará contigo

sempre e, com certeza, seus filhos irão agradecer, a sociedade

também e, principalmente, você, que é a pessoa mais importante

nesta história.

E afinal de contas, o que foi feito

do papel?

Pois bem, eu, Wina, um dia, depois de muitos

anos, entre meus guardados, encontrei o tal papel. Estou

com ele agora em minhas mãos. Poderia ter se pedido pelo

tempo, nessas mudanças que a vida nos leva a fazer. Mas o

fato é que não se perdeu, está aqui comigo hoje e me fez

refletir muito sobre o que vivi, o que fiz e provavelmente

sobre o que farei.

É bom sempre fazermos uma reflexão sobre nossa

vida. Não deixar assim o barco ir correndo sem mesmo

observarmos um pouco para onde ele está indo.

Muitas vezes, uma só mexida no leme, pode

mudar o curso de muitas coisas em nossas vidas.

Refletindo um pouco vejo como fui chata,

intransigente, boba, maquiavélica, maldosa, feliz, infantil,

inocente. Em cada um destes momentos, valia uma boa

olhada no caminho que meu barco estava tomando.

Poderia ter agido diferente se com o pé no chão tivesse em

determinados momentos, ou sido mais leve se tivesse me

deixado levar pela emoção.

Não digo isto como arrependimento ou coisa

assim. Mas quero é que você perceba que podes fazer

diferente do que fiz ou mesmo do que irei fazer. Não

porque agi errado ou certo, mas porque minha vida é

minha vida e a sua é sua.

Parece clichê, mas a verdade é que quem tem que

realmente fazer a vida acontecer é quem a tem.

Eu, por exemplo, amo tudo que tenho, amo a meu

Deus, principalmente, meus filhos, meu marido, minha

família. Amo também meus amigos, meu trabalho e tudo o

mais. Posso ser a mais inocente das criaturas por gostar do

que é belo e simples. Mas é minha vida e é assim que

Se você gosta de algo diferente, ótimo. Não existe

um padrão, um conceito determinado. Mas ser feliz é a

meta. Encontrar-se em sua vida e lutar por ela como sendo

a vida que você quer ter.

Guardo de novo o papelzinho que a professora um

dia pediu que eu o escrevesse e, certamente, olhando para

ele em mais uns anos, dez, quinze ou mesmo vinte,

provavelmente em cada uma delas algo diferente pulse em

Não somos seres estagnados, mas renovados,

brilhantes, inteligentes e autênticos. Descubra-se!

FIM

Francilangela Clarindo
Enviado por Francilangela Clarindo em 22/05/2016
Código do texto: T5642926
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