Mais do que tristeza é a desordem

O dia verde:

Era outro dia quente nessa cidade quando o som parou. Com as janelas fechadas não se ouvia o barulho dos carros, das pessoas, dos animais que pir ali habitavam. Só havia o silêncio e um quarto cheio de memórias inventadas.

Falharam duas horas para sua prova oral, e nada se mantida em sua cabeça. O curso de Direito já não era mais importante, assim como o cheiro da comida que passava pelas brechas da porta, e que lhe embrulhava o estômago. Você levantou, pegou a mochila e os livros, esqueceu os fones, pois nada era importante, não quis comer, e as palavras das outras pessoas se quer poderiam ser entendidas. Então você apenas andou, desceu as escadas, tomou o elevador e não escutou o bom dia do porteiro. Mas era outro dia quente nessa cidade, e só havia o silêncio.

As cartas sobre a mesa:

Estava chovendo quando nós nos encontramos pela primeira vez. Você era o sorriso mais lindo do mundo, e os seus pensamentos se fundiam aos meus. Eu vi a única felicidade que poderia ter na minha vida e tive medo. Mas eu nunca a neguei. Estive feliz hoje como nunca fui na vida, e talvez nunca serei. Tentei ser o mais verdadeiro possível, mas o mundo é cruel, assim como as pessoas que sofrem a influência dele podem ser. Mas eu vi o seu sorriso e a chuva não cessou. Não importa, porque eu só queria estar ali, como diz uma obra da Yayoi Kusama, Amor Para Sempre.

O dia verde:

Você estava deitado sob o sol com o seu casaco azul. Neste local as pessoas as pessoas estão felizes. Há crianças gritando, casais se encontrando, e o cheiro de terra molhada te trazia conforto. Eu li esse livro duas vezes, e a história sempre termina da pior forma. A mulher mais velha, que incluiu a jovem no seu relacionamento com o renomado ator não se sente feliz. No seu coração só há tristeza e desordem. Porque a mente e o coração não se conectam em relações de afeto. Mas A Convidada é um ótimo livro de Beauvoir.

Seus braço envolvem o livro da capa velha afundando no casaco azul. As lágrimas chegam nos seus olhos, e você não sente o ar. Você não faz parte desse lugar de alegria, mas ele não te rejeita. Como você sabe, essas histórias acontecem todo o tempo, e embora tenha acontecido com você, você sabe que o amor nunca foi sua prioridade. Mas nem você pode controlar sua mente.

As ondas chegam perto, e você quase pode sentí-las tocando seus pés. Embora a areia seja quente e limpa, a água do mar de Botafogo chora com você. Seus olhos semiserrados por causa da luz do sol começa a querer estar fechados. Você lembra do disco que você garimpou, dos livros que você comprou, da caneca preta que ele não deve mais usar, mas todos os presentes que você deu e ele recebeu com olhos de felicidade. Seu coração aperta quando ainda sente os braços dele de punhos fechados contra o seu corpo, sendo esmagados pelo seu abraço. O cheiro da coroa da cabeça dele encostando no seu nariz. Seu caractere de coração azul. Não há nuvens no céu.

Alguém se aproxima, faz sombra sobre você. Não é alguém desconhecido. Você se conforta com essa voz grossa e empática.

As cartas sobre a mesa:

Eu vi você se afundar na sua própria confusão, rapaz. Como você me disse, eu sempre estive no seu primeiro lugar. Eu nunca quis roubar a sua mente, mas eu quis fazer parte dela. A minha felicidade era tão grande, que eu quis gritar pro mundo o meu amor por você. Eu absorvi o seu carinho e o seu conforto. Eu me senti mais amado que qualquer outra coisa no mundo. Mas seu medo comum procurou pela lanterna dos afogados, e eu quis te salvar. Tentei ser uma coisa boa para você, enquanto você roubava a minha alma, e se trancava dentro de você. Tudo o que você precisava era saber que alguém estaria sempre disponível, alguém inacessível, e esse alguém sempre fui eu. Você estava errado, porque meu acesso fácil pras coisas boas, justas e do mundo te fizeram permanecer aqui. Eu não vi meu egoísmo em você, eu vi um coisa boa no mundo. Então você roubou a única coisa que ninguém poderia roubar. No meio de tanta história, tanta tristeza que integra essa história, na qual eu sempre soube onde estava, e não deixou nada lá. Você me deixou vazio. E dentro de mim só há a desordem. E em algum lugar há alguma coisa que eu conheci como amor nesse coração vago.

Yuri Santos
Enviado por Yuri Santos em 17/06/2016
Reeditado em 17/06/2016
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