Eu só tinha dezoito anos, e o desejo por aquele garoto era ininteligível. Nos conhecíamos a tão pouco tempo que não pude entender exatamente como tudo aconteceu. Passava horas e horas ouvindo as mesmas canções naquele mp3 que nem me pertencia, aquela trilha sonora de uma paixão que nem sequer poderia existir, mas foi assim que tudo começou. Me lembro que teve um começo e era como nos filmes de contos de fadas, não propriamente dizendo até porque os contos de fadas são escritos fantasiosos e esse é tão real que sinto ainda o calor do beijo que o dei naquela tarde, no fim de expediente, aquele abraço, aquela camiseta amarela, aquele cheiro de perfume que jamais vou esquecer. Consigo me lembrar de tudo.

Mas eu não sei, é como se todas as coisas não tivessem sido reais e fruto de minha imaginação ambígua. “Ele existiu?” Me questiono. É pretérito que sim. “Porque certas vezes soa como uma lembrança.” Pensei. De fato, eram lembranças, legítimas, do imaginário que se realizou. Enfim, eu era jovem demais, mas carregava um romantismo exacerbado sobre as paixões, essas que me consumiam e quebravam a minha cara quando recebia um não, ou quando o sim não valia tanto a pena. Quero dizer que sempre valeu a pena, aliás, sempre vale a pena.

Certa vez encontrei um rapaz e fomos ao cinema, ele era fofo e gentil, tinha uma fala mansa, estatura mediana e uma voz suave. Ele pegou uma de minhas mãos e a beijou, depois a fez carinho enquanto meus olhos o observavam com um brilho especial, àquele dia nada havia mudado para mim. E, novamente, me ocorrera fato semelhante quando aquele rapaz, aquele lá que eu mal conhecia, pegou uma de minhas mãos pela primeira vez, era como se meu coração quisesse saltar, como se meus olhos fossem explodir e meu estômago não parava de girar. Frisson. “Meu Deus!” Era o fim. Que fim nada, era só o começo! Jamais esqueceria, talvez, quem sabe, eu me esqueça da cor dos seus olhos, mas daquela sensação do toque das nossas mãos, não! Isso não.