Proposta em vias de fato 9(continuação)

Voltou para casa. Que nada! Queria saber do porque daquela impressão misteriosa, acompanhava-a desde quando entendia por gente. Na infância, assistindo ao filme a “marca do zorro”, em a casa de amigos e da avó( não tinha TV em sua residência), passava pela imaginação como integrante do filme na pessoa de algum dos atores. Assistindo à reprise do filme então? aquele cavalheiro impetuoso, fazendo e acontecendo em ato heróico em nome da justiça. O duelo no fio da esgrime travado com o inimigo, aquela máscara, todo entorno, em suas entranhas fazia sintonia com um presente que transpunha a tela da televisão, parecia participar da mesma videira. Estranho!

Depois, “gato de botas”, com aquelas tremendas botas, o chapéu. E o olhar circunspecto e magoado, que gracinha! Cada movimento seu, seus sentimentos, oscilações de humor, ira, alegria, quando amava...ficava como manteiga derretida diante da gatinha. E ela, à medida que correspondia ao afeto, reagia em outras circunstâncias como guerreira imbatível, mesmo com as patas sem as garras...que foram arrancadas em batalhas pelo adversário, saia vencedora. Lídia identificava o espírito do povo espanhol nela.

Mas, e agora? quando Lídia se viu em corpo presente assistindo aquela dança, a reação em sua consciência foi como de um “Déjà vu”, surpreendentemente sentiu como nos pés das dançarinas, estava naquela consciência dançante. Teria vivido isto em experiências passadas? Mas, onde? O máximo que fez foi aprender os passos mais simples do tango e do samba, isso quando tinha dezessete anos. Mas igual ao sentido naquela noite. Não!

Lídia, investida na inquietude da sua personalidade, aguçada pelo espírito investigativo, foi reler seus livros antigos. Entusiasmou-se encontrando posicionamentos que à época do primeiro contato(período universitário), não sentiu mobilizada com o tema. Agora, tudo era novidade; à medida que lia um e outro entendedor do assunto, crescia em si a curiosidade. Homens, da ciência, da espiritualidade, e da filosofia. Foi a campo buscar respostas, e não é que fizera festa?

É magnífica a elasticidade das cabeças notáveis no mundo do conhecimento, refletia Lídia. Deram atenção especial a uma pequenina peça do cérebro; Glândula Pineal...ou simplesmente epífise. René Descartes, um dos maiores pensadores do mundo ocidental, aquele que revolucionou o pensamento científico ocidental, por volta do final do século XVII, dizia que a glândula é o ponto de união substancial entre o corpo e a alma. E não é que a danadinha fica estrategicamente posicionada entre os hemisférios norte e sul do cérebro? perto do centro do cérebro?pensou a “abellhuda”. E mais, porque o filósofo, físico e matemático, aquele que revolucionou o pensamento científico, na lógica analítica do “penso, logo existo”, foi um pouco mais afirmando que ela era “um órgão com funções transcendentais” ? Tudo foi tomando caminho novo, eis que a dúvida, a exposição ao confronto de verdades independentes desaguaram em um oceano tempestuoso dentro da mente de Lídia.

Nas noites posteriores àquela, no decorrer da semana, leu revistas e livros atualizados no assunto. Não havia nada de novo significativamente. Em pleno início deste século XXI, há a divisão como dantes nos posicionamentos; No rol dos estudiosos, dentre eles: cientistas do corpo humano, neurocientistas, físicos, pensadores e espiritualistas, as conclusões são diversas. Para uns há alteração no funcionamento deste órgão em determinado número reduzido de pessoas, daí o porquê da capacidade diferenciada para clarividência, mediunidade, inclusive identificaram alterações nela em algumas doenças neurológicas, reconhecem outros até a possibilidade da captação de experiências de vidas passadas. Conservando o tradicionalismo do método científico da ciência ocidental, mantém esta na afirmação, dentre outros, de que a epífise tem papel importante no desenvolvimento sexual e reprodutivo, servindo até de antena para as aves no processo migratório.

No domingo à noite, lendo a última página do livro que tratava do tema, quase convulsionando de tanta informação processada, jogou o livro longe. Dormiu na preguiceira.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 21/07/2016
Reeditado em 21/07/2016
Código do texto: T5704927
Classificação de conteúdo: seguro