Proposta em vias de fato 15-A viagem(continuação)

Quando colocou os dois pés na sala que o robô lhe conduziu, passou não vê-lo mais, olhou para frente... o lugar foi tomado de um resplandecer, uma beleza masculina surreal! não aquela contemplação onírica presunçosa, deliberada no afã do despertar dos instintos femininos da atração, mas num sentido mais elevado; seus trinta e poucos anos vividos na pele da terráquea cumpridora dos seus deveres, pagadora das contas, inclusive aquelas que não deu causa, incluindo a experiência do amor incompreendido, não impediu do novo que eclodiu do interior, afeição e respeito pelo masculino elitizado. Igual aquela sensação, “never”.

Avistou um homem sentado numa poltrona vermelha assistido por dois outros, seminus, cobertos somente por uma diminuta tanga, músculos definidos, altos, sérios como estátuas, um branco e outro negro, não era isto que via nos filmes de reis e rainhas, os reis “da terra da qual venho”, pensou, apresentam rodeados por mulheres, aqui, não. E que belos rapazes!. Aquele que sentava ao centro estava com uma daquelas roupas que Lídia viu quando entrou na cena deste novo mundo; bata e calça branca de um linho superior, não era de idade avançada, aparentava ter uns quarenta e cinco anos, olhos negros, apequenados, na medida que fitava os olhos em Lídia adentrando o ambiente, ruborizava as bochechas, corando-as levemente, boca carnuda, cabelos avantajados, negros. Ao seu redor não havia quadros, mobílias suntuosas, somente ele, a poltrona e os dois rapazes, sem contar de uma mulher tocando harpa no canto esquerdo de onde estavam.

Lídia não disfarçou na expressão o impregnar do sentimento de reverência e encantamento, deferência, reconhecimento da nobreza dos espíritos ali presentes, chegando ao ponto de ajoelhar aos pés do homem. Era festa, seu coração batucava como pandeiro nas mãos do músico no desfile de rua em carnavais. O homem imediatamente determinou que levantasse, saindo do seu lugar auxiliando-a na subida. A poltrona era rodeada por grandes almofadas de cetins floridas, parecidas coma as indianas, arredondadas, nos tons de vermelho, amarelo, e verdes. Acenou para que sentasse em uma delas.

Aos prantos, manifestando no choro sua gratidão por ter corrido tanto encontrando seres que fossem dignos de respeito e admiração pelo simples fato de serem(mas não os conhecia?), mesmo assim era como fossem amigos, certa estava que seriam sombra para descansar um pouco dos ”sóis” da vida, atenção de alguém melhor que ela em clarividência interior, e perícia nas coisas da Alma.

Será que teria sido atendida? Mas não pediu; Lídia havia desistido da prece direcionada para algum ser distante, longínquo, materializado num ícone inatingível, cansou da lamúria da fila dos fracassados, não acreditava mais em “duendes”, e nem no mundo do bob vivia, as contas não deixavam. Lídia, apesar de manter intocada a dignidade tinha se retirado de cena, era evadida no mundo visto como o “consciente”. Engenheira, chefe, aguçada nas artimanhas do lucrar a qualquer custo. Mas dentro, renunciado fora o viver do “conto de fada”.

No sonho não, encontrou o limite, aquele que todo bom entendedor pede para externar sua admiração, o cala boca que a alma nova impõe somente por expressar gentilezas quando encontra outra.

Oras! mas eles não haviam aberto a boca para falar? Contudo, foi isto que a primeira impressão que passaram, permitido foi à moça o derramamento das lágrimas. O homem olhava para ela com um leve sorriso, semblante de compaixão. Após alguns segundos, aguardando Lídia retomar o equilíbrio, disse:

____Não precisa dizer nada sobre você, Lídia! sabemos tudo, de onde vem, qual é a estrutura social que está inserida, nível educacional, localização na galáxia do seu planeta, família, gostos, tendências, vontades, carências, sonhos. Decidimos te dar mais uma chance, está aqui porque autorizamos, o conselho deliberativo nosso permitiu este encontro. Fala conosco na língua do lugar que mora.

E aí não parou mais, sua fala soava como canto dos pássaros, Lídia secou as lágrimas, o homem sentou ao lado dela, acomodou-se entre as almofadas, e continuou:

____Somos parte de uma civilização que tem por ideal a vitalidade interior; pautamos nossas ações, inter-relações, conosco e com o outro, cujas bases devem estarem estabelecidas, sedimentadas na plataforma universal da natureza da mente, apesar da busca do melhor para cada subjetividade no mundo exterior, neste que você está conhecendo a livre iniciativa é exercida tranquilamente por cada pessoa de modo que suas ações não colidem com o livre arbítrio do outro, resultado coeso no desenho final feito pelas mãos de todos.

Este processo não vem do sofrimento histórico, seqüelas das guerras em meio as conquistas que o povo adquiriu em liberdade, fraternidade, e igualdade, igual ao do seu mundo; somos habitantes que na linha evolutiva de cada um, vivemos até o exaurimento em civilizações parecidas com a sua. Aqui, a criança que nasce, o velho que morre, tem o mesmo nível de aspiração, a busca pelo autoconhecimento e da sabedoria no viver.

Guerras, traições, trapaças, ganâncias, cobiças, invejas, preguiças, desídias, depressões, doenças da alma apodrecendo os comandos para o estar de qualquer individualidade, não existem. Conseguimos radicalizar esses males, e muitos outros, pelo simples fato de cada um atuar no seu “campo” de modo preventivo, autopreservação, a integridade do corpo vital, que para vocês é encarado dentro de visões consideradas como: sistema nervoso do corpo, alma, espírito, corpo sutil, e decorrentes.

As classes sociais aqui, ricos e pobres, no sentido da circulação e apropriação de riquezas, as referidas classes convivem de forma pacífica; ter muito ou pouco materialmente não interfere no espírito fraterno que existe desperto nas entranhas de cada ser, estamos definidos no que queremos para nós, canais com instâncias superiores, fontes do saber, a ciência aqui é religião, prece e estudo seguem juntos, inadmissível a fragmentação dos mundos, a intuição e a ação; nossos cientistas são nossos mestres, riqueza imensurável.

Os problemas que estamos envolvidos residem na proteção das barreiras entre nós e os planetas próximos, há comercialização intensa de matéria prima para investimentos e aplicação em ciência e tecnologia no nosso mundo. Tem produtos de natureza específica que não encontramos no nosso solo, vem de fora. Temos laboratórios privativos no subsolo em áreas restritas, outros, como ambulatórios públicos, aquele que você viu pelo corredor do edifício, há sistema de monitoramento em todos os recintos do prédio, vimos sua movimentação desde quando estava na cobertura do prédio.

Há que se esclarecer menina(arrumou o cabelo de Lídia), que a desmaterialização de corpos é comum aqui, contudo, isto é privativo somente para alguns, ainda, arrematou.

Continuou:

Na área da medicina investimos no trabalho do melhoramento e avanço nas pesquisas em especialidades da genética, e neurociência, neste campo desculpe a franqueza, vocês estão primitivos, esqueceram de resgatar a dinâmica que pressupõe o processo investigativo, aquela que deve existir na mente do cientista, parceria harmoniosa do corpo, mente e espírito. Nossos especialistas desde tenra idade são educados num ambiente biopsicossocial propício a manter desperto e saudável a dinâmica interna dos seus seres no afã de buscar sempre na pesquisa o caminho indagativo ligado nestes três mundos, indissociavelmente interconectados por natureza.

Aquilo que é prioridade em seus mundos, no tratamento, manutenção e qualidade enquanto objeto de valor para manutenção do homem, e longevidade saudável dos seus membros, aqui é conseqüência do trabalho interno, não tratamos as folhas da árvore, simbolicamente exemplifico, mas a raiz e tronco. A constituição corpórea são as flores e frutos, estas vivem se reprocessando periodicamente, se a raiz é saudável, levará vitalidade para o tronco e galhos, sendo os frutos dados em abundância. Eis o nosso trabalho. Naquele ambulatório tratamos o corpo sutil dos nossos pacientes.

Lídia estava atenta, não perdia um movimento daquele homem, não hesitou em perguntar:

___Corpo sutil, troncos, constituição corpórea, mente, espírito... Isso não é campo da religião, teologia, ontologia, ou coisa parecida?

Respondeu:

___Respeito as nominações dadas às especializações da ciência, sei que fragmentaram para facilitar o processo investigativo no seu planeta, mas aqui não identificamos previamente o que é da religião, filosofia, ou qualquer outra ciência afim, o trabalho é voltado para o objeto determinado com olhar medido ao critério do observador, ele seleciona, engloba ou subtrai as ciências na investigação, poderia dizer que o zom do olhar é aumentado ou diminuído sem paradigmas prontos e acabados para agir, a humildade do explorador em valer-se de qualquer área que escolher como suporte para a análise, é a regra, seguida como uma das virtude supremas dos grandes pesquisadores nosso.

Lídia foi direta, quis saber do porquê daquele procedimento no morto-vivo naquele laboratório. Daí que o “bicho pegou”.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 29/07/2016
Código do texto: T5712911
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