As Rosas Falam

 
No momento em que eu secava o suor da testa, depois de preparar as dezoito covas, para o plantio das dezoito mudas de rosas vermelhas, brancas, rosas, compradas na Flora Jardins do Éden, Débora arrumava as malas.
   No momento em que eu terminava de plantar a última rosa, um mensageiro me entregou um envelope com uma mensagem de Débora, que li após beber um copo de água cristalina e limpar novamente o suor da testa com um lenço de papel. Na pressa de saber o conteúdo, fiz uma leitura dinâmica. Como o meu coração parecia querer sair pela boca, respirei e li pausadamente cada palavra. Olhei as rosas e, por um instante, tive a impressão de ver lágrimas escorrerem das pétalas.
Débora era assim: para certos assuntos preferia as cartas manuscritas, seladas e enviadas de forma tradicional, ao invés do correio eletrônico ou celular. Acontecia de pagar um mensageiro, quando o assunto era urgente.
    Quando me sugeriu, quase em tom de súplica, o plantio das dezoito rosas enfileiradas, que nos conduziriam ao limiar da porta de entrada de nossa nova casa, cujos ambientes foram pintados de acordo com as cores das rosas, Débora disse, após beijar-me sensualmente, que éramos o casal mais feliz do mundo. Ela quis o nosso quarto cor de rosa rosa; eu pintei a sala e a copa de branco, enquanto ela pintava a biblioteca de vermelho. A maior parte da pintura foi eu quem realizou, mas as pinturas de Débora ficaram primorosas. Na parte externa distribuimos as três cores e fizemos o mesmo com as grades e o portão. Nós a chamávamos de A Casa das Três Cores, que daria um novo alento ao nosso amor, que nos últimos três dos dezoito anos de casados, caíra em uma rotina tediosa.
    Plantei-as intercalando as cores como Débora pediu-me. Na verdade, os pedidos dela eram exigências. Eu não contrapunha, pois ela tinha um senso estético extraordinário. A casa estava bonita. Só faltavam os móveis. Combinamos botar fora os antigos, para apagarmos as boas e más lembranças deste periodo. Vida nova, dizíamos entre beijos e abraços.
   No momento em que refletia sobre o nosso novo projeto de vida, Débora pegava um taxi e se dirigia ao Aeroporto Internacional, rumo à França, onde faria pós graduação em arquitetura na Universidade de Paris. Débora detestava despedidas.
    Quando fui ao Jardins do Éden escolher as rosas, o florista orientou-me como tratá-las: Rosas são frágeis como o amor. Se não cuidar delas com zelo, elas morrem.
    Escolhi uma por uma, as mais viçosas. Eu as queria homogêneas e esplendorosas, para formar uma linda passarela. Comecei a andar em círculo, refletindo sobre a mensagem de Débora, quando reparei,que havia algo mais dentro do envelope. Era um pequeno envelope de papel crepom lilás. Ao abrí-lo, levei um baque: lá estavam as alianças destinadas a selar os nossos compromissos e o anel de brilhante que eu lhe dera, quando completamos três anos de casados.Todas as noites, ao deitar-me, adquiri o estranho hábito de retirar a aliança e depositá-la sobre o criado. Acontecia de esquecer de colocá-la no dedo ao me levantar e ir para o trabalho. Débora não se conformava.
    Dentro do pequeno envelope havia um bilhete em um minúsculo papel, com as letras miúdas de Débora, obrigando-me a colocar o óculo. Débora pedia para que eu enterrasse as alianças na primeira rosa vermelha e o anel na primeira rosa branca. Na primeira rosa rosa eu deveria plastificar o bilhete e enterrá-lo.
     Tive dificuldades de ler a última frase: "compre alianças grossas do mais puro ouro e me surpreenda com um novo anel. Até breve, beijos de quem muito te ama".
  Fiquei um longo tempo admirando as rosas enfileiradas e ouvi elas dizendo entre si: Isso é amor!



Este conto integra o meu livro Crônicas do Amor Virtual e Outros Encontros, página 28 - Editora Protexto - 2012 - Primeira edição.

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