A Pérola e a Noite - Parte 02

Outra noite se foi e, como um sonho bom, passou deixando o gostinho suave nos lábios de Yasmin no de Ciaran. Aventuraram-se naquela noite em um estábulo, espalharam-se sob a palha seca, onde fizeram seu ninho temporário e amaram-se intensamente enquanto os astros se espalhavam nos céu.

Yasmin, ainda deitada sob a cama de palha improvisada, sentia o vendo gelado das primeiras horas da manhã lambendo sua perna quente, enquanto observada o corpo robusto, musculoso e negro de Ciaran, que se vestia.

Ela sabia, com o amanhecer, o príncipe das trevas deveria desaparecer. Para onde ele iria? Por que não ficava?

Ciaran não desejava partir, ansiava pela pele delicada de Yasmin, por preencher seus contorno delicados, por beijar sua boca com intensidade e delicadeza, por protege-la e, ao mesmo tempo, proteger-se de si e da solidão que rodeava.

Entretanto, ele não podia, desfrutar o amor era uma dádiva que não estava destinada a ele. Ciaran lutava contra algo muito mais forte e incompreensível, algo que Yasmin não compreenderia.

Com o passar dos minutos, ele se via obrigado a apressar sua partida e, ao mesmo tempo, sentia a insegurança o tomando, seria melhor uma despedida rápida, embora ele soubesse que não seria possível.

É sempre difícil escolher entre magoar um amor com uma partida inesperada ou então desapontá-lo, se ficasse mais tempo, correria risco de ter seu segredo desvendado e, então, correria o risco de desapontá-la, entretanto, se fosse embora como o príncipe da noite, a magoaria, mas não destruiria o amor que construíram.

Ainda que a segunda opção, fosse a egoísta, ele a escolhera, pois não aguentaria viver com a ideia de ter destruído o amor que existia entre ele e Yasmin, que, nesse momento o tenta entender, porém, sem sucesso:

- Você vai embora novamente? Por que não fica? – a voz de Yasmin ecoou na ausência de resposta e, no silêncio de Ciaran, transformou-se em uma pequena lágrima que escorria despercebida em seu rosto delicado.

Vestidos, observaram-se com olhares úmidos. Aproximaram-se, seus lábios se abraçaram e, logo após, seus corpos se beijaram pela última vez. Ele sabia que só traria dor, se não para Yasmin, para ele.

Com o final da cerimônia, tomaram caminhos opostos, embora seus pensamentos estivessem juntos. Yasmin, entrou no seu carro e o viu sumir no horizonte, viu-se no espelho tentando gravar esse momento, que sabia, não voltaria.

Ciaran, caminhou sem rumo, esmagando as gotas de sereno se acumulavam na grama, ao mesmo tempo, no céu, os primeiros raios de luz atravessavam o céu, fazendo-o assumir um tom azul esperança.

Nas árvores, os pássaros acordavam e iniciavam o ritual do

amanhecer, banhando-se de suas melodias incompreensíveis para estranhos a espécie, apesar de Ciaran saber que o invocam: “Ciaran, é hora de partir, é hora de voltar a ser o que se é”.

Com o completo alvorecer, o último raio de aurora irradiou-se sobre Ciaran, fazendo com quem os pássaros se calassem e, envolto em lume, o príncipe da noite desapareceu, deixando suas roupas chamuscadas amontoadas sob a grama.

Visto isso, os pássaros voltaram a invoca-lo: “Renasça, deus das trevas e príncipe dos pássaros. Assuma seu posto, grande rei”

Por baixo das roupas, surge um imponente e vigoroso pássaro-preto, com penas reluzentes, bico maciço e asas fortes. Após seu renascimento, levanta voo e some entre as árvores.

Naquela mesma tarde, Yasmin, deitada novamente embaixo de sua árvore, agora na companhia de um belo pássaro-preto, que cantava para que ela caísse no sono e, assim, em seu universo onírico, reencontrasse o príncipe das trevas, seu amante, seu Ciaran.

Marcelo Marques Júnior
Enviado por Marcelo Marques Júnior em 11/09/2016
Código do texto: T5757972
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