Quando eu partir...

Ultimamente tenho pensado muito nos anos finais que me faltam para viver... Confesso que não quero ficar muito velha, mas ao mesmo tempo gostaria de esticar um pouco mais a vida, e desfrutar ainda de muitas pessoas e amigos que cultivo dentro de mim.

Hoje tenho a convicção de que morrer é apenas dormir e não acordar mais... fácil para quem morre e difícil para quem fica... Até hoje depois de quase vinte anos, ainda sinto demais a falta da minha mãe, e fico amargurada em lembrar que ela não teve tempo de desfrutar o crescimento dos netos e a chegada dos bisnetos que ela tanto queria... mas agora sei que ela dormiu para sempre e não pode ver nem ouvir e nem sentir os nossos lamentos...

Como eu gostaria de que quando partisse deste mundo, meus filhos também tivessem esta certeza de que eu acabei de vez, dormi para sempre... Queria que ninguém chorasse e nem se lamentasse por mim, pois fui uma pessoa infinitamente feliz e tive muito mais do que almejei e pedi. Lógico que a vida não é perfeita, os filhos também não são perfeitos e eu também não fui perfeita, o amor não foi perfeito, mas tudo foi muito bom e maravilhoso... Minha mãe conseguiu em vida fazer de nós (eu e meus irmãos) uma família que se quer muito bem e se une na alegria e nas tristezas, e com isso as dezenas de sobrinhos e filhos dos sobrinhos são todos muito queridos entre nós irmãos.

Mas os netos são inigualáveis... são filhos com mel, e com a maturidade e experiência da vida, a gente ama e ama e ama infinitamente sem fronteiras... Com os netos a gente aprende a apagar tudo o que fazíamos na educação dos filhos e que a gente achava que era o certo. Com os netos a gente apenas ama e admira sem nenhuma barreira... Se mostrávamos os filhos com orgulho, os netos a gente mostra como troféus da nossa vida... o orgulho é muito maior e saboroso...

As vezes penso em viver apenas mais uns cinco anos, pois não quero envelhecer muito... depois vejo que o ano passa tão rápido que eu não teria tempo para matar a vontade de viver... Ai começo a fazer umas contas e me amedronto vendo que o fim está muito perto. Não sei se me entristeço mais em saber que meus filhos irão sofrer com minha partida ou se meus netos também sentirão muito minha ausência... Queria ter o poder de tirar a tristeza de cada um deles e transformar em orgulho de me terem tido como mãe e avó. Se eu pudesse escolher o meu fim, seria um grande encontro dos meus amigos, irmãos, sobrinhos filhos e netos no local da cremação (pois quero ser cremada) e com músicas muito lindas apenas tocadas para embalar a minha partida... e que todos pudessem sair de lá felizes e abençoados sabendo que minha missão foi cumprida com louvor e que eu estaria partindo feliz...

Sei que não será fácil se desvencilhar da perda e da saudade, mas para mim seria o caminho da paz, e se tem vida após a morte, queria viver outra vida vendo todos felizes aqui na terra e se não tiver vida após a morte também queria ter a certeza de que eles tocariam em frente seguindo meus ensinamentos, assim como eu segui os ensinamentos da minha mãe.

Walquiria
Enviado por Walquiria em 18/10/2016
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