O Primeiro e inesquecível amor

No início foi a proximidade mágica e silenciosa, sem muitas palavras era somente uma apreciação tímida e sem jeito. Éramos muito jovens e nos faltava, tanto a mim quanto a ela os traquejos que somente com o tempo e com a experiência se adquire, mas o instinto nos levava um ao outro em um débil tatear.

Estávamos na faixa dos 17 anos e regulávamos de idade, ela era uma novidade na sala de aulas lotada de alunos, eu já era um veterano naquela escola, primeiro me chamou a atenção a elegância natural daquela garota, eram os gestos muito delicados e um falar quase murmurante, e como eu costumava sentar nas ultimas cadeiras da sala o traço mais marcante foi claramente o cabelo Chanel. Como combinava com aquela garota (até então sem nome) o Chanel, esguia alta e de ombros largos e pescoço digno de estátuas gregas.

Demorei em minha silenciosa apreciação, sempre que a via não era somente a pessoa mas todo o conjunto de elementos que fui somando em minhas observações e que compunham um quadro muito mais complexo, sabia que ali dentro daquela pessoa habitava uma alma que deveria possuir um mundo muito rico interiormente, claro eu as vezes suspeitava de meus pensamentos e a dúvida me fazia ficar distante com medo de ver todos os meus pressentimentos sumirem no ar quando fosse de fato conhecê-la.

Certa vez resolvi me arriscar, meus pensamentos estavam cada vez mais fixos naquele mistério, e resolvi me aproximar de tanta curiosidade acumulada durante meses.

Foi com muita perplexidade que me dei por conta que Iara era realmente muito amável e delicada, eu notava algum sofrimento ali que não transparecia nas suas falas, mas nos olhos castanhos e sonhadores.

Nossa afinação na conversa impedia qualquer pergunta muito íntima seria muito invasivo, tínhamos que ir descobrindo indiretamente as coisas que queríamos saber pescando uma frase aqui e outra ali que nos davam pistas, percebi com o tempo que ela fazia o mesmo comigo e nesta área nebulosa entre o medo e a pontinha de um amor juvenil que me dava vertigem.

Acabei sempre me sentando ao lado dela, essa proximidade física deu uma outra dimensão a nossa estranha amizade. Os gestos de Iara eram agora somados ao perfume que logo reconheci e as imagens que furtivamente eu memorizava, seus cabelos lisos caíam-lhe sobre o rosto, seus olhos fixos no caderno ignoravam meus devaneios, e sua boca rosada de lábios finos alvo de meus sonhos mais secretos. Iara se tornara para mim tão desejada e temida que me incomodava, sua aparente fragilidade me comovia e enchia-me de ternura.

Demorei para compreender que eu a amava, como somente se ama na juventude, com grande intensidade e desejo, mas era um terreno novo para mim aquele sentimento imenso e o medo de me perder naquela garota ficava igualmente gigante.

Deparando-me com esta barreira intransponível para mim, fiquei parado ali como um boneco esquecido, apenas admirando aquele mistério em forma de Iara de rosto fugidio nas pontas brejeiras do Chanel.

Certo final de ano, quando meu sentimento retido era como uma barragem transbordando e me pegava chorando pelas noites cheias de pensamentos devotados a ela, criei coragem para tentar tocar no assunto.

Muitas vezes conversávamos de rostos colados, tão próximas eram nossas conversas e graças a esta intimidade que eu na época suspeitava que fosse um sinal, falei em tom sumidio na garganta: Iara me ajude...ela não compreendeu, era intervalo de uma aula para outra, não era o momento porém era um pedido de socorro real, calei-me e esperei até o fim das aulas daquele dia.

Sai da sala na frente dissimulado, entre amigos fingindo estar distante e a dúvida pairava em minha alma, e se eu fosse recusado?...como me recuperaria de um choque desta estatura?...

Subi a rampa de saída da escola e fiquei encostado ao muro debaixo de uma árvore, aquele seria o dia que minha tortura teria fim, fosse qual fosse o futuro. Subitamente eis que a vejo subindo a rampa displicente abraçada ao caderno, olhando para o chão com os cabelos balançando em frente ao rosto, esperei segundo que pareciam horas até que eu pudesse chamá-la: Iara...

Ela ouviu,sorriu e veio até mim, estendi minhas mãos e segurei suas mãos entre as minhas, ela me olhou indagando com os olhos, minha voz era um murmúrio de súplica.

Trouxe-a bem perto de mim e repeti: Iara me ajude...eu....

-O que foi? - ela perguntou a esmo

-Eu... - Olhei-a intimamente.

O tempo parou e o silêncio era a resposta para todos os pressentimentos, ainda tentei falar mas logo fui calado pelo beijo com o qual tanto sonhara. Correspondi da melhor forma que pude e até hoje acho que poderia ter sido muito melhor, porém foi o primeiro beijo de infinitos beijos que trocamos em uma longa história de vida da qual eu nunca mais estive só...

Cris Chanel e José de Assis Carvalho
Enviado por Cris Chanel em 07/01/2017
Reeditado em 10/01/2017
Código do texto: T5874470
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