Desculpa se te amo - Parte 1

- Não queria que você soubesse dessa forma.

- Eu iria descobrir sozinho, de qualquer forma, eu já esperava.

- O que vai fazer agora?

- Nada, não há nada que eu possa fazer. Não vou contar para ele o que sinto. Principalmente agora.

- Mas..

- Pode me deixar sozinho?

- Claro.

Antes de sair, Angela fez um carinho na cabeça de Paulo, então o deixou sozinho na sala. Com mil pensamentos em sua mente. A casa agora vazia, fazia contraste com seu intimo. Tudo dentro de si parecia querer explodir, como se procurasse uma maneira de sair. A dor de saber que o homem que amava iria se casar, o destruía. Como nunca imaginou ser possível. Foi até a janela e olhou a rua vazia, iluminada pela lua. Sorriu ao lembrar do passado. De como tinha se apaixonado por Ronaldo no primeiro dia que o viu. De como tinham se tornado amigos, até que ele se apaixonou, mas nunca conseguiu revelar seus sentimentos. Porque o melhor amigo estava apaixonado por uma garota. Passou os 4 anos da faculdade vendo ele namorando, mas por maior que fosse a dor de vê-lo com outro, ele sabia que o amigo estava feliz. E era isso que importava. Suspirou forte e foi até o quarto. Não havia nada que ele pudesse fazer. Por maior que fosse seu amor, Ronaldo gostava de outra, e nunca daria uma chance para ele. Tinha que seguir em frente, e manter o sentimento oculto. Já havia conseguido por 4 anos, era só deixar as coisas como estavam.

No dia seguinte ele acordou com o celular tocando. Era Ronaldo. Ele atendeu ainda na cama.

- Você ainda estava dormindo?

- São 08:00 da manhã. Hoje é minha folga.

- Era isso que eu queria ouvir. Preciso te ver.

- O que você quer agora?

- Nossa, você fala como se eu só ligasse para pedir favores.

- Fala logo.

- Mau educado.. escuta não quero falar por telefone. Mas tenho uma surpresa. Podemos jantar juntos hoje?

- Não queria sair de casa.

- Por favor, você mora quase do lado do Shopping. Não custa nada. Eu pago.

- Tudo bem. Mas eu escolho o restaurante, não aguento mais comida japonesa.

- Beleza, te pego ao 20:00

Ele desligou o celular e se levantou. Já sabia sobre o que Ronaldo queria falar. Angela só havia contado sobre o casamento porque eram muito amigos, e também porque ela falava com Jéssica, a namorada de Ronaldo. Mas com certeza o amigo estava esperando o momento certo para contar, eram amigos há muito tempo. Paulo tinha certeza que seria um dos primeiros a saber.

Ronaldo sabia que Paulo era gay, demorou algum tempo mas ele havia conseguido contar. Não mudou nada a amizade deles, pelo contrário. Os aproximou mais. Ronaldo o tratava da melhor forma possível, e sempre tentou ajudar com namorados. Mas nada dava certo, porque ele sempre voltava seus sentimentos para a única pessoa que não lhe daria uma chance. Era torturante ver o amigo com a namorada todos os dias, era como se o destino jogasse em sua cara que nunca seria feliz no amor.

A noite ele estava fechando a porta de casa, quando o carro de Ronaldo parou na frente. Enquanto ia em sua direção ficou admirando o homem que ele considerava o mais lindo do mundo. Ele sorria enquanto Paulo ia em sua direção. Como ele queria estar indo para um encontro com o namorado, e não com o amigo que amava, prestes a dizer que iria casar com outra. Quando entrou no carro, eles se abraçaram como sempre faziam.

- Nossa, você passou o frasco de perfume inteiro só para me ver?

Quase disse que sim, mas ficou quieto e apenas sorriu. No caminho não falaram muito. Até que se sentaram na praça de alimentação do Shopping depois de pegarem comida no restaurante mais próximo.

- Então Paulo, espero que você saiba o quanto e importante para mim. Somos amigos há quase cinco anos, e foram os anos mais incríveis da minha vida.

- Quando você fica sentimental demais, e algo preocupante.

- Tenho uma coisa para te contar, você vai ser a primeira pessoa a saber.

- Conta logo, você está me assustando.

- Eu pedi a Jéssica em casamento.

Paulo sorriu e ficou o mais feliz possível, bateu no ombro do amigo. Tentou aparentar surpresa com a notícia, e percebeu que ouvir ele falando aquilo pessoalmente, era tão ruim quanto ouvir pelos outros.

- Parabéns cara. Você merece toda felicidade do mundo.

- E quero que você seja o padrinho.

Paulo estava tomando suco quando ele falou aquilo, acabou engasgando. Assustado, Ronaldo se levantou e começou a dar tapas nas costas do amigo. Alguns segundos depois ele respirou aliviado e com o rosto todo vermelho.

- Nossa, eu imaginei que você ficaria feliz com o pedido. Mas não pensei que quase morreria.

Paulo não falou nada. Não sabia o que dizer. Ver o amigo casar já era difícil. Mas estar ao lado dele no altar quando ele trocasse votos com Jéssica, era um dos piores pesadelos da sua vida. Era como se ele fosse o padre responsável por casar o homem que ele mais amava na vida.

- Eu preciso pensar.

Ronaldo murchou surpreso.

- Como assim pensar?

- E algo muito sério, ser padrinho de um casamento.

- Eu sei disso, mas você é meu melhor amigo. Preciso de você comigo.

- Eu preciso ir. Mais tarde eu te ligo.

Sem pensar, Paulo se levantou, pegou a carteira e o celular e saiu quase correndo do Shopping. Ronaldo ficou sem entender nada, e com o choque nem pensou em correr atrás do amigo. Assim que alcançou a rua, Paulo fez sinal para o primeiro táxi que passou. Desceu na rua Augusta e entrou em um bar que sempre frequentava. Pediu Whisky e tomou dois copos seguidos.

Diziam que não mandamos no coração. Que os sentimentos não são controlados da forma que queremos. A realidade era assustadora. Ele estava triste com a notícia do casamento, mas padrinho? Como ele podia ser padrinho de casamento do homem que amava? O padrinho tinha que amar os noivos, ter um carinho especial. O tipo de carinho que ele não tinha com Jéssica. Gostava e até falava com ela, mas não ao ponto de serem amigos. Quanto a Ronaldo, ele amava o amigo, subir ao altar como seu padrinho era quase uma traição aos próprios sentimentos.

Depois de cinco copos de Whisky ele ficou com a visão turva. Sabia que não podia passar a noite ali bebendo porque tinha que trabalhar no dia seguinte. Então saiu do bar aos tropeços. Pegou outro táxi e desceu cambaleando na porta de casa. Notou as luzes acesas, devia ter esquecido de apagar quando saiu a tarde.

Quando fechou a porta e entrou dentro de casa, tirou os sapatos e foi em direção a sala. Ali deu de cara com Ronaldo sentado no sofá.

- O que você faz aqui? Como entrou?

- Eu tenho a chave, esqueceu?

- Ah é verdade.

- Você está bêbado?

- Não. Levemente embriagado. Um pouco tonto. Mas bêbado não.

Se jogou no sofá e ficou olhando para o teto. Ronaldo se aproximou.

- Cara, o que está acontecendo com você? Porque saiu correndo hoje?

- Padrinho. Você quer que eu seja seu padrinho.

- Você não tá bem. Vou te dar um banho.

- Não quero.

- Não perguntei se você quer.

Ronaldo tirou a roupa de Paulo e o levou pelo ombro até o banheiro. Ligou o chuveiro frio e o colocou de baixo. Aos poucos ele foi despertando, como se acordasse de um transe. Quando percebeu que o amigo estava melhorando, ele saiu do banheiro e ficou esperando na sala. Minutos depois Paulo saiu de bermuda e se aproximou sem graça.

- Você está com raiva de mim?

- Porque estaria?

- Porque eu sai correndo do almoço e não te dei uma resposta?

Ronaldo se levantou com as mãos no bolso e ficou de frente para o amigo.

- Já me acostumei com os seus dramas. Acredito que isso seja normal em um cara Gay, afinal você e mais sensível. Mas preciso que você seja sincero, está tudo bem entre nós? Com o fato de que vou me casar?

- Fique surpreso com o pedido. Só isso. Não esperava.

- Você é meu melhor amigo. Como não esperava que fosse você o padrinho?

- Não sei. Paranoias minha. Mas não se preocupe. Eu aceito. Não perderia o dia mais feliz da sua vida por nada.

Ronaldo sorriu e o abraçou. Paulo ficou com a cabeça em seu ombro por um tempo, sentiu o coração acelerar. Quando se soltaram ele tinha uma lágrima brilhando no olhar, o amigo não percebeu. Apenas sorriu.

- Eu vou embora agora, antes que a Larissa ligue.

- Tudo bem.

- Ah, antes que eu me esqueça. Minha despedida de solteiro. Vai ser no apartamento de um colega. Eu te aviso a data. Alguns caras Gays vão. Ai de você se não for.

- Vai ter strippers semi nuas?

- Não, eu prometi a Larissa que seria apenas um momento de amigos.

- Tudo bem então. Eu vou.

Depois que Ronaldo saiu, Paulo foi até o quarto e se jogou na cama, mesmo tendo bebido pouco, sentia o corpo pesado. Dormiu rapidamente.

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- Oi. Meu nome é Ricky. Prazer.

Era sábado, Paulo estava na sacada do apartamento de um dos amigos de Ronaldo, a despedida de solteiro estava rolando lá dentro, mas ele não estava com animo para ficar no meio da bagunça. Admirava a escuridão de São Paulo quando um dos amigos dele se aproximou.

- Oi. Prazer.

- Também não estava gostando da bagunça lá dentro?

- Ficou meio chato depois de algum tempo.

- Eu achei uma despedida de solteiro bem comportada. Levando em consideração as outras que estive.

- O Ronaldo não quis strippers. Queria uma noite com amigos.

Paulo se virou e ficou olhando para Ronaldo, sentado no sofá com uma cerveja na mão. Os amigos conversavam alto, como se estivessem em um bar.

- Deve ser difícil, ver o homem que você ama casando com outra.

Paulo ficou sem graça, olhou para ele surpreso. Mas ele sorriu, como se dissesse tudo bem.

- Desculpa, não pude deixar de notar. E o meu trabalho. Sou psicólogo.

- Está tão óbvio assim?

- Para mim que tenho experiência com sentimentos, e com pessoas.. sim. Mas pelo visto fui o único que percebi. Porque ele não olha para você da mesma forma. Quer dizer, e notável o carinho que ele sente. Mas não é da mesma forma que você.

- Obrigado por me dizer o óbvio.

- Você é um bom amigo. Por não ter contado.

- Não queria que isso estragasse nossa amizade.

- Sabe, eu acredito que o seu amor, seja o mais lindo que exista no mundo. Porque você quer acima de tudo, ver ele feliz. Mesmo que não seja com você. Você abriu mão de expor esse sentimento. Só para não vê-lo em conflito.

- Ele é tudo para mim. Depois que meus pais morreram, ele foi o único que nunca saiu do meu lado. Tenho medo de perdê-lo para esse casamento.

- Você não vai perdê-lo. E claro que a amizade não vai mais ser a mesma. Mas ele vai continuar como seu amigo. Quem sabe um dia vocês não vão estar dando risada disso.

- Verdade. Espero que um dia esse sentimento saia de mim.

Ricky sorriu e deu duas palmadas no ombro de Paulo.

- Preciso ir agora. Senão meu namorado vem me buscar.

- Você é Gay?

- Sim. Mas não se preocupe, mesmo que isso não seja uma consulta, seu segredo está bem guardado. Nos vemos no dia do casamento.

Ele saiu sem dizer mais nada e Paulo continuou olhando para a bagunça no apartamento. Ronaldo estava sem camiseta sentado no sofá, já estava ficando bêbado. Aos poucos a noite foi passando, e os amigos foram indo embora. Até que o dono do apartamento foi para o quarto, e deixou Ronaldo jogado no sofá. Paulo entrou e se encostou em uma cadeira e ficou ali sozinho pensando, estava quase dormindo quando Ronaldo se aproximou e se jogou no colo dele.

- Acorda viado.

- Porra Ronaldo, que susto.

- Você não vai dormir hoje, é minha despedida de solteiro.

- Notei, mas todos os seus amigos já foram embora.

- Sim, só que o melhor de todos ainda está aqui.

- Você só fala isso porque está bêbado.

Ficaram rindo sozinhos, ali no meio do apartamento silencioso. Até que Paulo o tirou de seu colo, havia um volume crescendo em sua calça, que mesmo bêbado o amigo notaria.

- E hora de dormir.

- Eu não quero dormir Paulo, eu quero dançar.

Ele ligou o som e se aproximou de Paulo, o abraçou e começou a dançar. Rindo da situação, Paulo se deixou levar.

- Cara, você está muito bêbado.

- Não estou não, quer ver?

Ele se soltou e tentou fazer um 4 com os pés, então se desequilibrou , Paulo o segurou mas ele puxou seu corpo para si e os dois caíram em cima do sofá, Paulo por cima. Eles se encararam por alguns segundos, então sem pensar, Paulo o beijou.

Ronaldo não rejeitou, e o beijo ficou mais quente. Quando percebeu os dois estavam sem roupas, se abraçando fortemente no sofá. Paulo deixou ser dominado por Ronaldo como nunca tinha sido por mais ninguém. Fizeram um sexo louco, violento e muito carnal. Quando terminaram, Ronaldo se deitou no sofá e puxou Paulo para si. Ele ficou ali deitado em seu peito. Sem dizer nada. Apenas sentindo o coração acelerado e querendo sair pela boca.

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CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 10/02/2017
Reeditado em 11/02/2017
Código do texto: T5908798
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