Desculpa se te amo - Parte 2

Paulo foi o primeiro a acordar no dia seguinte. Ainda estava deitado no peito de Ronaldo. Ficou ali alguns segundos sem acreditar no que estava acontecendo. Até que se levantou assustado e começou a se vestir. Aquilo não estava certo. O amigo ia acusa-lo de ter se aproveitado por ele estar bêbado no dia anterior. Terminou de se arrumar rápido e pegou suas coisas na mesinha, então saiu do apartamento como se estivesse fugindo da cena de um crime.

Quando chegou em casa tomou um banho rápido e vestiu uma roupa leve, então se jogou no sofá e ligou a TV. Tentou mas não conseguiu prestar atenção no que estava assistindo. Sua mente não parava de fervilhar com imagens da noite anterior. Passou o dedo nos lábios e foi como se sentisse o beijo de Ronaldo ali. Como se tivesse acontecido há segundos e não horas atrás. O que iria acontecer agora? Será que ele tinha acabado com uma amizade de 4 anos? Com certeza o amigo iria ficar com raiva, e não podia culpa-lo. Assim como também não podia colocar toda a culpa só em si. Afinal ele estava só um pouco bêbado. Poderia muito bem ter impedido, mas deixou Paulo ir em frente. Não iria procurar o amigo ou dizer qualquer coisa, era melhor esperar a reação dele. Pensando nisso ele fechou os olhos e acabou dormindo.

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Ronaldo acordou no sofá do apartamento e a primeira coisa que sentiu foi uma dor de cabeça forte. Sabia que tinha bebido demais ontem e aquilo já era algo esperado. Se sentou no sofá e olhou ao redor, estava sozinho na sala. Foi quando percebeu que estava pelado, e se assustou. Tentou lembrar como tinha ficado daquela forma, mas não lembrava de nada da noite anterior, a última coisa que tinha visto, tinha sido o Paulo conversando com o Ricky na sacada do apartamento. Começou a se vestir devagar e quando terminou foi até o quarto de Pedro, ele estava jogado na cama e dormia como pedra. Sem dizer nada ele saiu.

No carro ele decidiu dar uma passada na casa de Paulo já que ele morava perto. Pensava que o amigo teria esperado ele acordar, mas devia ter ido embora sozinho, ou com Ricky. Ainda com uma ressaca forte ele bateu na porta de Paulo, e aquele mini barulho pareceu um estrondo em sua cabeça.

- Porque você não esperou eu acordar? Eu ia trazer você em casa, deve ter gasto uma nota com táxi né?

- Não foi muito caro.

Paulo deixou ele entrar e tentou parecer o mais normal possível. Ronaldo se jogou no sofá.

- Você tá de ressaca né?

- Você não?

- Não bebi muito ontem a noite.

- Bom para você.

- Quer um sal de frutas?

- Por favor.

Paulo foi até a cozinha e voltou com um copo de agúa junto com um saquinho de sal de frutas, Ronaldo se sentou e depois de jogar o conteúdo na água virou tudo de um gole só.

- Obrigado. Essa dor de cabeça está forte.

- Também, você misturou todas as bebidas que tinha na festa.

- Mas é bom você não ter bebido. Assim pode me lembrar o que fiz na noite. Porque eu acordei no sofá pelado. Não tinha mulheres na festa tinha?

Paulo começou a suar e tremer. Se levantou sem graça e ficou de costas mexendo na estante.

- Não, não tinha mulheres. Eu que tirei sua roupa. Você estava bêbado demais e eu te dei um banho. Só que você não quis colocar a roupa depois, ai ficou no sofá pelado e eu te cobri.

- Entendi. Eu dei muito trabalho pra você então né?

- Claro que não. Já te dei banho outras vezes. Não e a primeira vez que você fica bêbado.

- Verdade, você sempre cuidou de mim quando eu passo da conta.

Ele se virou nervoso e olhou para o amigo.

- Você não se lembra de nada mesmo?

- Nada. A última coisa que lembro foi de ver você conversando com o Ricky na sacada do apartamento.

Paulo ficou triste e aliviado ao mesmo tempo. Mas era bom daquela forma, e iria continuar assim então. Pelo menos eles não brigariam, ou ficariam sem se falar. Por outro lado ele se sentia decepcionado, porque tudo aquilo havia ficado somente em sua memória.

O celular de Ronaldo tocou.

- E a Jéssica. Vou embora agora. Depois eu te ligo. Não esquece que na terça nos temos que ir comprar meu terno para o casamento. Vai ser na semana que vem já.

- Claro, tudo bem.

Deram um abraço rápido e Ronaldo foi embora, deixando Paulo em pé totalmente frustrado com a situação. Se jogou de cara no sofá e ficou ali imaginando como seria de agora em diante. Independente de qualquer coisa, ele tinha um casamento para ser padrinho. Ia entregar o amor da sua vida a outra pessoa. E não podia fazer mais nada quanto a isso.

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- Não acredito que você não sabe dar nó em gravata.

- Eu quase não uso roupa social, e quando eu usava era minha mãe que dava.

- Você é um lerdo mesmo.

Paulo e Ronaldo estavam em uma loja comprando a roupa de casamento para o noivo. Estavam frente a frente enquanto Paulo dava um nó na gravata de Ronaldo. Tentava ficar normal ao senti-lo tão próximo. Com um sorriso tão grande para ele. Até que o amigo fechou os olhos e mexeu a cabeça confuso.

- O que foi?

- A dor de cabeça, desde domingo que estou assim. Acho que vou ter que ir no médico. Não estou conseguindo me concentrar nas coisas.

Paulo começou a se preocupar, e se aquilo fosse um indício de amnésia alcoólica?Depois do que tinha acontecido entre eles, ele havia pesquisado e descobriu que algumas pessoas bebiam e no dia seguinte não se lembravam do que tinham feito, mas com o passar dos dias algumas memórias voltavam em forma de flashes ou sonhos. Aquilo não podia acontecer, sabia que Ronaldo gostava muito dele, mas isso não o impediria de ficar com raiva e até mesmo partir para violência.

- Deve ser algo passageiro, você já teve dor de cabeças mais longas, não se lembra da festa da faculdade em que você ficou cinco dias de ressaca?

- Verdade né, deve ser algo normal. Se até sábado não melhorar eu vou no médico.

- Terminei.

Ronaldo se virou de frente para o espelho e olhou seu reflexo. Paulo abaixou a cabeça para não deixar explicito o embaraço por vê-lo tão lindo, todo de branco.

- Sabe, acho que mesmo depois de casado, você ainda vai continuar comprando minhas roupas.

- Não. Isso vai ser a função da sua esposa.

- Acho que nem ela tem um bom gosto como o seu.

- Não deixe ela saber disso.

- Não vou.

Eles riram um para o outro. Paulo já tinha escolhido o terno que usaria no casamento. Descobriu que ele seria o único padrinho do noivo, e isso o deixou feliz e ao mesmo tempo nervoso.

Quando terminaram as compras, Ronaldo deixou Paulo em casa. Paulo já estava descendo do carro, quando Ronaldo o segurou.

- Não existem segredos entre nós, existe?

- Claro que não. Você é meu melhor amigo.

- E só isso que eu sou para você? Quer dizer, não sente nada mais que isso por mim?

- No momento eu sinto confusão, não estou entendendo a conversa.

Ronaldo o encarou por alguns segundos, então o soltou.

- Deixa. Não é nada. Até domingo.

- Você está bem mesmo?

- Sim. Estou. Deve ser a dor de cabeça. Se cuida.

- Você também.

Paulo desceu do carro e Ronaldo deu a partida, estava tremendo e sabia o porquê. Havia algo de errado com Ronaldo, e ele tinha certeza que era por causa do que tinha acontecido entre eles.

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Na sexta-feira Ronaldo acordou assustado e se sentou na cama respirando forte como se tivesse tido um pesadelo. A noiva ao lado acordou assustada e acendeu o abajur.

- Amor, você está bem?

Ele não respondeu, se levantou da cama e começou a se vestir.

- Estou, mas preciso fazer uma coisa. Já volto.

- Amor, são três da manhã.

- Eu sei, não preocupe, eu estou bem. Preciso resolver um problema. Já volto. Pode voltar a dormir.

Ele saiu rápido do quarto e deixou Jéssica sentada sem entender nada, tirou o carro da garagem e saiu em alta velocidade pelas ruas de São Paulo, pensou em ligar para Paulo, mas precisava ter aquela conversa pessoalmente. Precisava ouvir do amigo que ele estava errado, que os sonhos que vinha tendo com eles dois fazendo sexo eram mentira, uma ilusão.

Parou o carro bruscamente na porta da casa de Paulo e correu para a porta. Bateu mais de cinco vezes fortemente, até que o amigo abriu assustado.

- Ronaldo, o que faz aqui? O que houve?

Ele entrou sem dizer nada, Paulo fechou a porta e o seguiu, ele começou a andar de um lado para o outro na sala.

- Ronaldo? O que aconteceu?

- Segunda-feira de manhã, eu acordei assustado por causa de um sonho, nesse sonho nós dois fazíamos sexo. Eu acordei com nojo, não por ser você. Mas porque era com um homem. Consegui esquecer, e não falei com ninguém sobre isso. Mas na terça, enquanto comprávamos o terno, quando você me olhou e eu devolvi o olhar, eu me senti tonto, foi como se a sua presença ativasse algo na minha mente, algo que estava escondido dentro de mim. Continuei ignorando, pensei que fosse a ressaca, uma ilusão. A dor de cabeça diminui na quinta, mas de tarde eu cochilei e de novo, os sonhos voltaram.

Ele parou e olho para Paulo que estava mais branco que papel.

- Eu fiz uma pesquisa, sobre sonhos e ressaca. Descobri algo chamado amnésia alcoólica, existem casos que são temporários, onde as pessoas lembram de algumas coisas que aconteceram durante a ingestão do álcool em forma de sonhos ou flashes.

Ele começou a se aproximar de Paulo devagar.

- Eu tive sonhos em que nós dois fazíamos sexo, nos beijávamos. E o sonho acontecia no apartamento do Pedro onde foi minha despedida de solteiro.

Agora eles estavam a centímetros de distância. Paulo continuava sem dizer nada, dava para sentir o corpo dele tremendo. Com medo, assustado.

- Não são só sonhos né Paulo? Nós realmente fizemos sexo.

Paulo não respondeu, não sabia o que dizer. Então Ronaldo o pegou pela camiseta e o jogou contra a parede.

- Como você pode fazer isso comigo? Como teve a coragem de se aproveitar da minha bebedeira para abusar de mim?

- Você não estava tão bêbado assim, não adianta colocar a culpa só em mim.

- Então é verdade? Meu Deus, meu melhor amigo.

Ele soltou Paulo. E se virou, Paulo começou a chorar.

- Eu não consegui contar para você. Quando eu vi que você não se lembrava, achei melhor não dizer nada. Porque imaginei que você iria continuar sem lembrar.

Ronaldo mexia nos cabelos nervoso, parecia um louco tentando aliviar a raiva.

- Eu não queria, mas nós ficamos próximos, você me abraçou e eu acabei te beijando, eu pensei que você não deixaria, mas você retribui e quando dei por mim.. aconteceu.

Paulo se aproximou e segurou o braço de Ronaldo, ele soltou nervoso.

- Foram 4 anos suportando. Vendo você ficando com outras mulheres. Vendo seu sorriso todos os dias, tendo seus abraços. Mas sempre da forma errada. Porque não importava o que eu fazia, nada tirava esse sentimento de mim. Nada apagava o amor que eu sinto por você. Quando você me falou do casamento, foi como se meu mundo tivesse caído, como se tudo tivesse acabado. Foi a maior tristeza da minha vida.

Ronaldo se virou com os olhos arregalados, então se afastou com as mãos estendidas.

- Espera, você está dizendo que me ama? Que se apaixonou por mim?

- Desde o primeiro dia em que te vi.

Ronaldo começou a rir, mas não uma risada debochada ou irônica, um risada de nervoso, de surpreso, de choque por ouvir aquilo.

- Por isso você saiu correndo do Shopping naquele dia, quando te convidei para ser padrinho. Por isso tem evitado falar comigo sobre o casamento.

- Como você queria que eu ficasse? Vendo o homem que eu amo prestes a se casar com outra?

- Você sabe que nunca vai acontecer nada entre nós, eu gosto de você. Mas e como amigo. Nada além disso. E pensei que você acima de tudo quisesse a minha felicidade. Por isso escolhi você para ser meu padrinho.

- Mas eu quero a sua felicidade. Por isso não te contei o que houve. Por isso nunca te falei sobre os meus sentimentos. Porque eu não queria que você ficasse com uma bomba dessas na mão. Porque eu sabia que nunca seria correspondido. O que houve entre nós foi um erro. E eu não vou exigir o seu perdão.

- Que bom, porque você não o tem.

Ronaldo atravessou a sala e foi até a porta, abriu e antes de sair, ele disse sem olhar para trás.

- Por favor, não vá ao meu casamento. E não me procure mais.

Paulo não disse nada, quando a porta se fechou ele caiu no chão de joelhos, gritou de tristeza em uma tentativa de colocar para fora a dor. Uma lágrima caiu no tapete da sala. Um registro da maior dor que ele já tinha sentido na vida. Do lado de fora Ronaldo batia com as mãos no volante, sentia o coração apertado no peito como se tudo tivesse acabado. Encostou a cabeça no volante e chorou forte, nada parecia bem. Havia acabado de perder uma das pessoas mais importantes da sua vida, e o vazio que invadia seu peito, nunca mais iria embora.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 11/02/2017
Código do texto: T5909625
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