Nas Páginas do Amor - Parte 2.

- Isso não e desculpa Luan. Não é desculpa.

- Eu tive uma dor de cabeça e fui embora. Para de reclamar, eu fiquei bastante tempo.

- Porque esse dor de cabeça só surgiu depois que você viu eu beijando a Leticia?

- Não surgiu naquela hora tá, eu estava indo te dizer naquela hora, mas eu já estava com dor antes.

- Então porque não disse? Porque saiu como se tivesse visto um fantasma?

Comecei a mexer no computador, ele não ia sair dali até ouvir uma desculpa aceitável sobre o motivo de eu ter saído da festa dele sem dar tchau. Ouvia ele falar no meu ouvido, mas não conseguia entender, eu ainda estava mexido por ter visto ele beijando outra pessoa.

- Eu gosto da Leticia ok?

Ele parou de falar. Então me olhou sério.

- Você? Mas porque não me falou antes de eu beijar ela?

- Porque eu não sabia que você queria ela também.

- Não, mas foi apenas uma ficada. Não vai acontecer de novo.

- Não precisa se preocupar, você chegou primeiro.

- Foi apenas um momento. Eu não quero nada sério com ela. Com ninguém. Mas você ficou me devendo. Vamos sair para beber hoje.

- Eu já disse que não bebo.

- Então é melhor ainda, você dirige.

Ele saiu antes que eu falasse outra coisa. Minutos depois a Viviane se aproximou.

- Não acredito que você disse que gostava da Leticia.

- Não acredito que você estava ouvindo nossa conversa.

- Não tive outra opção.

- Bom, eu não vou falar que gosto dele. Estamos nos aproximando. Se eu não posso tê-lo como homem. Vou tê-lo como amigo.

- Você quem sabe.

A noite eu estava esperando o Pedro no meu carro. Não consegui inventar nenhuma desculpa para não sair com ele. E pensando bem, eu queria aquilo, então não fiz nada. Ele chegou sorrindo como sempre depois de sair da empresa. Ele ficava lindo demais de social.

- Então vamos?

- Onde você quer ir?

- Vamos para um bar. E terça-feira né. As baladas estão fechadas.

- Você não vai trabalhar amanhã?

- Não, estou de folga.

Fomos em silêncio no carro, eu estava ouvindo Bon Jovi, curtia muitas bandas de Rock, e aquela era a minha preferida. Quando chegamos no bar o Pedro pediu um copo de Whisky e ficou bebendo olhando as pessoas ao redor, eu tomava água, e parecia uma criança acompanhando o pai em uma noite louca.

Conversamos um pouco de tudo. Descobri que ele morava sozinho, os pais tinham falecido quando ele tinha 15 anos. Hoje aos 26 ele tinha um bom emprego e uma ótima vida. Quando dei por mim, já era quase duas da manhã e ele começou a ficar bêbado.

- Sabe Luan, eu sempre soube que você era um cara especial.

- Por isso você nunca falou comigo durante esse ano todo?

- E que eu sou tímido.

- Ok então, Sr. tímido. Vamos para casa, Você está muito louco.

- Não vou para minha casa agora.

- Ah, você vai sim.

Paguei o valor que ele tinha consumido e fomos em direção ao estacionamento. No começo ele resistiu, então eu tive que empurra-lo para dentro do carro. Sentei ele no banco do carona e apertei o cinto, sem querer bati minha mão no meio de suas pernas. Percebi um volume que me deixou sem ação. Sem graça eu assumi o volante.

- Então, vou leva-lo para casa. E esperar você dormir. Para não sair de novo.

- Ok Daddy, Lets GO.

Não tinha como ficar com raiva, na verdade eu estava ficando mais apaixonado. Vê-lo tão a vontade comigo, com tão pouco tempo de amizade, era algo incrível. Quando chegamos em seu apartamento, ele estava quase desmaiando e falando mais do que a boca.

- Cara, eu sinto muito pela Leticia. Você quer que eu arrume ela para você?

- Não. Não precisa, eu mesmo falo com ela.

Pensei em dar banho nele. Mas achei melhor não. Então apenas o coloquei na cama e tirei seus sapatos. Depois afrouxei sua gravata e o cobri. Ele dormiu em segundos. Admirei um pouco ele deitado. Parecia uma criança que cresceu demais. Nunca imaginei que ele tivesse um coração tão lindo. Sorrindo eu sai do apartamento e voltei para casa. Amanhã eu também estava de folga, e iria dormir o dia inteiro. Antes de dormir no entanto eu peguei meu diário no sofá e escrevi algumas folhas, depois fui para o quarto e me joguei ali e não vi mais nada.

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Era quase 12:00 quando eu acordei com o barulho da campainha. Morrendo de sono eu me levantei e abri a porta, dei de cara com o Pedro na minha frente. Usava bermuda com chinelos e camiseta regata, era estranho vê-lo sem terno. Mas era excitante, porque ele tinha um corpo muito gostoso.

- Bom dia.

- O que você tá fazendo aqui? Como descobriu onde eu moro?

- A Viviane me falou, eu peguei o numero dela com a Leticia. Vim saber se você está bem, e perguntar se quer almoçar comigo.

- Vai demorar um pouco para eu me arrumar.

- Quanto tempo?

- Mais ou menos uma hora.

- Aff, posso esperar na sua sala então?

- Tenho outra opção?

Ele entrou e eu mostrei o sofá. Então fui para o banheiro tomar banho. Depois troquei de roupa e cheguei na sala. Encontrei o Pedro sentado.

- Vamos então?

Ele se levantou assustado e falou sem graça.

- Claro, vamos.

Peguei minha chave e fui até ele. Foi ai que percebi que ele estava nervoso. Nervoso demais.

- Aconteceu alguma coisa?

- Não, claro que não.

- Tem certeza?

Ele relutou, então eu olhei ao redor, foi quando vi meu diário em cima da mesinha de centro. Senti meu coração disparar.

- O que você leu?

- Na verdade eu não ia ler, mas eu vi uma foto minha no meio das páginas, e não resisti.

- Sai da minha casa.

- Escuta, podemos falar sobre isso.

- Sai agora.

Sem pensar eu o empurrei em direção a porta. Então abri e o coloquei para fora. Ele não reagiu e nem falou nada quando eu bati ela em sua cara. Escorreguei para o chão.

Como eu era burro, havia esquecido o diário no dia anterior. A foto era uma que eu tinha impresso da internet. E no diário estava escrito tudo o que eu sentia por ele. Todas as vezes em que o vi. Todo sentimento escondido por tanto tempo. Agora ele sabia de tudo. Como se eu tivesse contado. Mas eu não queria que ele soubesse, e aquilo com certeza iria mudar nosso relacionamento dali para frente.

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Quando as portas do elevador se abriram no dia seguinte eu tirei o óculos escuros sério. Não havia conseguido dormir. Estava preocupado. Me sentia exposto a todos. Como se tivesse feito algo muito errado. Fui até minha mesa e encontrei a Viviane me esperando.

- Nossa, você está horrível, tá de ressaca?

- Não, apenas não consegui dormir.

- Porque?

- Depois eu te conto, preciso trabalhar.

Naquele instante o Pedro chegou.

- Viviane, posso falar com o Luan um instante?

- Claro, com licença.

Quando ela saiu. Ele se aproximou mais e falou baixo.

- Precisamos falar sobre o que houve ontem.

- Não quero falar sobre isso.

- Como você espera que eu ignore algo como aquilo?

- Não sei, isso não é problema meu.

- Então o que está escrito lá e mentira? Não foi você quem escreveu?

Fiquei em silêncio e com a cabeça baixa. Não queria falar sobre aquilo, mas estava parecendo inevitável. Me levantei e falei com a maior normalidade possível.

- Olha, por favor. Esquece o que você viu ontem. Eu vou esquecer tudo isso que sinto. Porque sei que você nunca vai me corresponder.

- Eu só não quero que a nossa relação estrague. Faz pouco tempo, mas eu gosto muito de você. Nos criamos uma relação que eu não tenho com nenhuma outra pessoa aqui.

- Claro, por mim tudo bem. Não vou me afastar de você se esse é o seu medo. Eu o respeito acima de tudo. E sempre vou respeitar.

Ele apertou minha mão e saiu calmo. Eu me levantei e fui até a mesa da Viviane. Então a puxei pelo braço e fomos para a sala de descanso. Enquanto ele tomava café eu contei tudo o que tinha acontecido.

- Caramba. Que barra.

- Nem me fala amiga. Eu estou tremendo até agora.

- Como você foi burro em deixar isso acontecer.

- Não sabia que ele ia na minha casa no dia seguinte.

- Bom ,pelo menos ele se preocupa com você. Faz quantos dias mesmo que vocês se falam?

- Doze dias.

- E pouco tempo. E já estão bem íntimos. Quem sabe um dia ele não te dá uma chance.

- Para de ser idiota. Ele e hétero.

- Sim, mas eu já li o que você escreveu sobre ele. E se ele leu também. Existe uma grande possibilidade dele querer algo.

- Para de sonhar.

- Tem uma maneira de descobrirmos.

Ela me olhou com cara de malícia, a que ela usava quando queria aprontar algo.

- Vamos fazer ele ficar com ciúmes de você.

- Como assim?

- Simples, o Vitor do RH morre de vontade de ficar com você, e você vive se negando a dar uma chance pro cara mais gostoso desse prédio...

- Não, o cara mais gostoso daqui é o Luan.

- Só você acha isso. Tudo bem né. Mas voltando, você podia chamar ele para sair. Dar uma chance.

- E depois fazer o que?

- Não precisa fazer nada. Nessa empresa as fofocas voam. Então com certeza o Pedro vai saber que vocês estão ficando. Ai vemos a reação dele.

- Não sei, não quero usar o Vitor.

- Não é usar o Vitor, ele e bonito, você não fica com ninguém a tempos. Então vai ser uma ótima oportunidade de ficar com alguém.

- Espero que isso não de errado.

- Agora vai logo no RH antes que o nosso chefe chegue.

Me levantei e fui pelos corredores em direção ao departamento de RH. Pensando bem, não era uma má ideia. Sair com outros homens era uma ótima maneira de esquecer o que eu sentia pelo Pedro. Me aproximei do balcão, o Vitor atendia um funcionário. Quando ele saiu eu me aproximei sorrindo.

- Oi Vitor. Tudo bem com você?

- Olha quem resolveu aparecer.

Ele apertou minha mão com força. Realmente ele era lindo. Talvez por eu amar o Pedro nunca colocaria o Vitor em primeiro lugar. Mas aquele olho verde por detrás do óculos de grau que o faziam parecer o Clark Kent, e me deixavam louco.

- Posso ajudar você em alguma coisa?

- Sim. Quinta-feira a noite. Eu você e um jantar excelente na minha casa.

Ele fez cara de curioso.

- Um encontro?

- Sim. Pode parecer estranho, mas eu preciso que você me de uma chance. Eu cansei de dispensar você. Acho que preciso de alguém que realmente goste de mim. Se você ainda quiser é claro.

- Por mim tudo bem então. Eu passo na sua mesa as oito.

- Vou esperar ansioso.

Quando cheguei na minha mesa eu tremia. Como se tivesse ativado uma bomba e começasse a contagem regressiva para que ela explodisse. Mas a noticia não vazou, e eu não vi o Pedro na quarta e nem na quinta porque ele tinha ido para o Rio de Janeiro fazer uma reportagem externa. Na quinta a noite no entanto ele voltou e passou na minha mesa bem na hora que o Vitor vinha me encontrar.

- Vamos Luan?

- Claro, me espera no elevador. Eu tô finalizando um relatório e já vou.

Quando ele se afastou o Pedro se aproximou curioso.

- Para onde vocês vão?

- Ele vai na minha casa, vamos jantar junto.

- Um encontro?

- Mais ou menos.

Ele abriu a boca para falar algo, mas fechou em seguida. Então pegou a pasta e sem dizer tchau foi embora. Eu terminei meu relatório e fui me encontrar com o Vitor. Eu sinceramente esperava que aquele encontro desse certo. Eu precisava esquecer o que sentia pelo Pedro, mais do que fazer com que ele sentisse ciúmes.

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- Vocês fizeram sexo?

- Fala baixo, as pessoas vão ouvir.

- Eu não acredito que você deu para o cara no primeiro encontro.

- Nossa, seu linguajar as vezes me assusta.

- Foi tão perfeito assim? Porque pelo seu sorriso.

- O que foi perfeito?

O Pedro tinha acabado de chegar e se intrometeu na conversa, desde que começamos a nos falar ele passava todos os dias na minha mesa para me cumprimentar. Ia responder que não era nada, mas a Viviane foi mais rápida.

- O encontro dele com o Vitor do RH.

Ele pareceu surpreso, mas outra vez não disse nada e saiu em silêncio. A Viviane pareceu feliz com a reação.

- Você viu isso?

- Não quer dizer nada.

- Claro que sim, ele está confuso. Não quer dizer nada para que você não pense que ele se preocupa com isso. Mas eu li no rosto dele que ele está preocupado.

- Se você diz isso.

O tempo passou e minha relação com o Vitor foi ficando mais intima. Quando dei por mim ele já tinha dormido em casa várias vezes e nos estávamos quase namorando. Eu gostava dele. Era carinhoso, romântico e parecia mesmo gostar de mim. Enquanto isso o Pedro tinha se afastado, como a Viviane tinha previsto, todos sabiam do meu lance com o Vitor, e o Pedro parecia não ter gostado. Preocupado que ele estivesse com raiva de mim. Eu fui até a sala dele em uma sexta-feira. Bati na porta de vidro, ele olhou e não respondeu, então eu entrei sério.

- Posso falar com você um momento?

- Estou ocupado no momento.

Me sentei em frente dele que não esboçou nenhuma reação.

- Porque você se afastou de mim?

- Não me afastei, apenas ando muito ocupado.

- Você sempre esteve ocupado. Isso não e desculpa. Nem na minha mesa você passa mais para me dar boa tarde.

- Olha. Eu sou o mesmo ainda ok. Desculpa se me afastei. E que andei meio cansado. Agora pode me deixar trabalhar?

Ele me olhou um pouco bravo. Me assustei, então levantei e fiz que ia sair. Até que ele falou atrás de mim.

- Pensei que você me amasse. Pelo menos era o que dizia naquele diário.

Me virei. Então cruzei os braços.

- Você quer mesmo falar sobre aquilo né.

- Só quero entender. Estou confuso.

- Sim, eu te amo. Tudo que estava escrito naquele diário era verdade.

- Então porque está ficando com outro cara?

- Porque você e hétero. Porque não existe a chance de ficarmos juntos um dia.

- Sim, eu sou hétero, mas também sou seu amigo. Me preocupo com você.

- Escuta Pedro, eu gosto muito de você. Mas nos não somos amigos tá? Nos temos apenas uma relação de trabalho legal, que algumas vezes saiu da empresa. Mas não faz nem dois meses que nos falamos.

Ele se levantou, então se aproximou de mim.

- Escuta, eu gosto de você. Antes daquele dia no elevador eu apenas tinha colegas aqui.Mas depois daquele dia, em que ficamos tão próximos. Eu percebi que podia ter um amigo. Me magoa muito que você não ache o mesmo.

- Eu nunca vou conseguir te ver só como amigo. Eu estou namorando com o Vitor, e ele me faz muito bem.

- Mas você não ama ele. Está em uma relação em que nunca vai ser completamente feliz.

- Você também não me ama Pedro, pelo menos eu estou com alguém que me faz bem e que um dia eu posso gostar. Não se preocupe, eu vou esquecer você.

Sai da sala e o deixei em pé sozinho. Percebi que ele estava triste. Mas eu não podia fazer nada quanto aquilo. Eu precisava seguir em frente. Um ano com aquele sentimento oculto dentro de mim não tinha me feito bem.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 18/02/2017
Código do texto: T5916806
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