Nas Páginas do Amor - FINAL.

Eram sete horas da manhã quando eu ouvi minha campainha tocar insistentemente. Me levantei mega nervoso e já querendo matar quem estava na porta. Quando abri dei de cara com o Pedro.

- O que você faz aqui ?

Sem dizer nada ele entrou e me abraçou, com a cabeça no meu ombro começou a chorar. Assustado eu fechei a porta com a mão e deixei que ele ficasse ali. Ficamos quase cinco minutos em pé, até que ele se afastou.

- O que houve?

- Meu irmão, morreu ontem. Acabei de vir do enterro.

- Meu deus, porque você não me disse nada?

- Você se afastou não queria falar comigo. Desculpe por vir aqui tão cedo. Mas eu precisava ver alguém, e minha família não estava em condições de ajudar.

- Claro tudo bem. Senta, eu vou pegar uma água.

Quando voltei com o copo ele estava sentado no sofá. No mesmo lugar em que tinha lido meu diário. Tremi com as lembranças que voltaram, mas preferi ignorar aquilo.

- Toma, vai melhorar um pouco.

Ele virou o copo de uma vez só. Depois encostou a cabeça no sofá e ficou olhando para o nada.

- Ele era tudo para mim. Depois que meu pai morreu, era só eu ele e minha mãe.

- Ele está bem agora.

- Sei que está.

Me sentei ao seu lado, então ele me olhou sério. Havia um brilho diferente em seu olhar. Como se me visse pela primeira vez. Me senti estranho, como se uma conexão nova estivesse se criando. Senti algo me puxando para ele, então sem pensar, o beijei.

Pensei que ele fosse recusar, mas ele retribuiu. Colocou a mão na minha nuca e me beijou intensamente. Quando dei por mim estava tirando a camisa dele e ele a minha. Então ele me pegou no colo pela cintura e me levou devagar até o meu quarto. Ali ele me jogou na cama e subiu em cima de mim só de cueca. O calor começou a subir e fizemos amor como eu nunca tinha feito com outra pessoa. Foi intenso, verdadeiro e inesquecível.

Quando chegamos ao final. Ele se sentou ao meu lado. Parecia em choque.

- Algum problema?

- Eu fiz sexo com um homem.

- Você não gostou?

- Eu tô confuso.

- Eu vou entender se você quiser um tempo para pensar.

Me assustei quando ele se levantou e começou a pegar as coisas dele pelo quarto. Então se vestiu e sem dizer mais nada saiu. Eu esperava algo como aquilo, então não disse nada. Eu tinha realizado um sonho. Fiquei com o homem que eu amava e me sentia o mais feliz do mundo. Mesmo que eu soubesse que aquela poderia ter sido a última vez. Agora era ver o que o destino ira fazer quanto aquilo.

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No mesmo dia eu cheguei no trabalho e dei de cara com a Viviane na minha mesa. Como sempre ela esperava fofocas novas. Eu bem queria contar para ela sobre o que fiz com o Pedro, mas achei melhor contar depois que eu falasse com ele.

- O Pedro já chegou?

- Sim, mas já foi embora. Só volta semana que vem.

- Como assim?

- Ele pediu folga. Disse que não estava se sentindo bem.

Surpreso eu me sentei na mesa. Normal, ele precisa mesmo de um tempo. E muita coisa para assimilar, já era uma vitória ele não ter feito nenhum escândalo quando terminamos o ato. Mas eu precisava saber se ele estava bem. Tentei ligar mas só caia na caixa postal.

A semana então passou de forma normal. Eu ainda pensava nele todos os dias, e estava com saudades. Mas consegui trabalhar e fazer as coisas normais de sempre. O Vitor percebeu uma certa distância, mas eu já sabia que não conseguiria levar a frente com ele depois do que tinha acontecido com o Pedro.

No dia que ele iria chegar eu estava sentado na minha mesa em busca de uma noticia nova, quando a Viviane fez sinal para que eu fosse até a mesa dela. Quando cheguei ela virou o monitor para que eu lesse algo. Meu queixo caiu com a matéria. Era uma foto do Pedro aos beijos com uma mulher, em cima a legenda : "Âncora de Jornal e visto aos beijos com colega em praia de SP. "

- Quem é essa garota?

- Repórter de um blog que faz bastante sucesso na internet.

Senti meu coração apertar dentro do peito. O mundo ao redor por um momento ficou turvo.

- Luan? Você tá bem?

- Estou, eu vou no banheiro, já volto.

Quase corri para o banheiro mais próximo. Assim que entrei me olhei no espelho e comecei a chorar. Senti uma dor que não entendia, mas que eu sabia que iria acontecer um dia. Aquela era a consequência de se apaixonar por um hétero. Por saber que eu nunca teria chances de ser feliz com ele. Mesmo sabendo o que eu sentia, ele insistia em manter a imagem de hétero, e pior, nem havia me dado uma satisfação sobre o que passamos juntos.

Ouvi a porta do banheiro abrir e sequei as lágrimas correndo. Quando olhei para o espelho, vi ele na porta, olhando para mim. Me virei para sair, mas ele me segurou pelo braço.

- Precisamos conversar.

- Não quero falar com você.

- Você merece uma explicação.

- Tudo bem Pedro, sério. Eu sabia que seria assim.

Me soltei do braço dele e voltei para minha mesa, a Viviane estava lá me esperando e ficou surpresa ao me ver com o rosto de choro.

- Não acredito que você foi chorar por causa daquele babaca.

- O que esperava que eu fizesse?

- Você tá com o Vitor agora, vai ter que superar isso.

- Tem razão.

O Pedro passou naquele momento mas nem olhou para minha mesa. O resto do dia foi tranquilo. Com um copo de chá na mão eu sai e fui encontrar com o Vitor no estacionamento, quando estava quase perto do carro dele, eu o vi conversando com outro cara, reconheci o colega dele, Leandro. Eu estava um pouco longe ainda, quando vi eles se aproximarem mais, e darem um longo beijo. Meu copo foi para o chão, e eu me senti tonto. Por sorte eu estava distante o suficiente e eles não ouviram. Em choque eu fui até o meu carro que estava do outro lado do estacionamento. Ali eu vi o Pedro abrindo a porta do dele. Já chorando eu peguei a chave do meu carro e tentei abrir, mas não consegui e elas caíram no chão. O Pedro percebeu e veio até mim.

- Ei, você tá bem? O que houve?

- Nada, eu estou bem.

Ele se abaixou e pegou as chaves para mim. Ficamos frente a frente, a dor em meu peito crescendo, buscando formas de sair. Até que eu não aguentei e chorei mais.

- Sabe, eu não vou deixar você sair, até que me conte o que houve.

Sem pensar eu me joguei no abraço dele. Chorei como criança em seu peito. Senti ele me apertar com força, como quem diz que eu poderia ficar ali o tempo que eu quisesse. E eu fiquei, apenas alguns minutos, que pareceram uma eternidade.

Quando me soltei e ficamos frente a frente, ele enxugou minhas lágrimas com as mãos.

- Melhor agora?

- Sim, muito obrigado.

- Sabe, minha casa não e tão longe daqui. Eu comprei lasanha congelada para o jantar.

- Sua nova namorada não vai gostar disso.

- Claro, agora sei porque você estava chorando no banheiro.

- Não era por causa de você.

- Aquilo não significou nada ok? Foi apenas um beijo. Aconteceu e não vai se repetir.

- Porque você pediu folga? Sua confusão era tanta que precisava de uma semana para decidir que não é Gay? E para isso, precisou pegar a primeira que apareceu na sua frente?

- Eu não sou Gay.

- Ah claro, você fez sexo comigo porque e normal héteros fazerem isso de vez em quando.

- Você que me beijou.

- Não fale como se eu tivesse te obrigado. Você teve muitas chances de não levar adiante.

Naquele momento eu vi por cima do ombro dele o Vitor me procurando pelo estacionamento, então sem pensar puxei ele para mim e o beijei. No começo ele se assustou, mas depois retribuiu. Então o Vitor se aproximou bravo.

- O que é isso?

- Como assim o que é isso?

- Eu pensei que estivéssemos juntos.

- Eu também pensava isso, mas ai eu vi você beijando o Leandro como se fizesse isso todos os dias.

O Pedro olhou para mim surpreso, então percebeu o que eu tinha feito e sorriu maliciosamente. Vitor ficou vermelho, e abaixou a cabeça. Eu me aproximei e dei um tapinha em seu ombro.

- Não se preocupe cara, não estou triste. Na verdade estou aliviado. Eu nunca te amei mesmo.

Ele deu as costas e saiu rápido. Quando me virei o Pedro estava com os braços cruzados.

- Sabe isso não foi legal.

- O que?

- Me usar para terminar o seu namoro.

- Não usei você.

- Mas foi o que pareceu.

- A lasanha na sua casa ainda está de pé? Eu estou morrendo de fome.

Sorrindo eu peguei minha bolsa e fui até o banco de carona no carro dele. Quando entramos eu olhei e disse sorrindo:

- Agora estamos quites, você me usou para ter certeza que e hétero. E eu para terminar um namoro.

Quando chegamos na casa dele eu me sentei no sofá e tirei meus sapatos. Ele foi para a cozinha e quando voltou se sentou ao meu lado.

- Coloquei a lasanha no forno.

Ficamos alguns segundos em silêncio. Até que ele me olhou sério:

- Eu não usei você. Eu gostei muito do que fizemos. Foi incrivelmente perfeito.

Eu não conseguia ficar com raiva dele. E era incrível como em pouco tempo, o que eu sentia só tinha aumentado. Era para eu estar na casa do Vitor jantando ou talvez vendo séries em qualquer canal ruim que ele tinha. Mas ali estava eu, ao lado de um homem que tanto fez por mim em tão poucos dias.

- Sabe Pedro, o que sinto por você é tão grande, que eu não consigo dizer, e como se tudo fosse nada quando estou ao seu lado.

Ele me encarou sorrindo. Parecia querer dizer algo. Mas eu coloquei meu dedo em seus lábios.

- Não precisa explicar, eu sei que você nunca vai me amar como eu te amo.

Ele segurou minha mão, e uma lágrima desceu de seus olhos quando ele disse sorrindo:

- É tarde demais, eu amo você.

O silêncio veio como se estivéssemos em uma sala de cinema após a revelação de algo que mudava por completo a trama. Senti meu coração disparar no peito.

- Você tá de brincadeira né?

- Não, eu jamais brincaria com algo tão sério.

- Mas você me disse a minutos que não e gay.

- E desde quando interessa o que eu sou? O que importa e que eu te amo, e é com você que eu quero ficar. Ser gay seria ficar com vários homens. Mas eu quero só você. Porque você é tudo para mim. E eu demorei demais para perceber isso.

- Mas...

- Mas nada Luan, eu passei uma semana pensando em você, querendo seu abraço, seu beijo. E ver você hoje tão vulnerável, me fez perceber que sou eu que tem que estar ao seu lado. Nos momentos bons e ruins. Porque você é tudo para mim. Quando você me beijou hoje, mesmo que para fazer ciúmes para o Vitor, eu senti que não quero mais ficar longe de você.

Nós dois estávamos chorando, emocionados. Eu havia sonhado tanto com um momento daquele. Que nem conseguia dizer mais nada.

- Dizem que demora para percebemos que a pessoa que precisamos está bem ao nosso lado, eu demorei um ano Luan, um ano e alguns meses para perceber que é você essa pessoa. Tanto tempo ali do meu lado, mas eu nunca nem tinha olhado para você duas vezes.

- Chega, você já me fez chorar demais hoje.

- Pelo menos foi um choro de alegria.

Ele se aproximou e me beijou, ficamos ali por minutos, até que ouvimos o barulho do micro-ondas. Ainda em cima de mim ele disse sorrindo:

- A lasanha tá pronta.

- Perdi a fome.

- Assim do nada?

- Digamos que a boca de uma certa pessoa é muito mais gostosa do que uma lasanha.

- Pena que eu não posso dizer o mesmo, sabe eu amo lasanha.

Fiquei puto, empurrei ele para o chão, e ele ficou ali rindo alto de mim.

- Não tem graça Pedro.

- Desculpa, não resisti.

A noite depois de fazermos amor, eu me deitei em seu peito e ficamos ali conversando enquanto ele fazia carinho em meus cabelos.

- Pedro.

- Sim.

- Como vai ser isso? Você vai me assumir, ou vai querer algo as escondidas?

- Claro que vou assumir, não tenho problema nenhum com isso. Todos irão saber que somos namorados.

- E isso que somos já?

- Pensei que já estivesse confirmado. Ou você quer que eu faça um pedido formal?

- Não bobo, tudo bem.

Havia uma janela em frente a cama, o vento entrava com força e fazia as cortinas subirem alto. Meu coração acelerado dizia que eu estava feliz, e eu tinha certeza, que estava. Mais feliz do que nunca estive em toda minha vida.

Fim.

CleberLestrange
Enviado por CleberLestrange em 18/02/2017
Código do texto: T5916813
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