Ele não veio e daí?

Na estação de trem a "moça" aguarda o rapaz.

Vestido marfim, discreto, uma pequena mala, pouca maquiagem; apenas batom cor de rosa e rímel para realçar os olhos apaixonados.

Chegou uns minutos antes.

Pediu licença e sentou- se ao lado de um senhor aparentando ter uns 73 anos.

Lembrou-se do livro emprestado por uma amiga; "a menina que roubava livros", acomodou-se, começou a folhear e logo foi interrompida pelo senhor.

- boa tarde senhorita.

Distraída, Luísa responde

- boa tarde senhor

- Jeneci, esse é o meu nome

Ela faz um manejo de cabeça

e volta-se para o livro.

- quando eu tinha a sua idade, eu era um 'sonhador'. Fui um 'aventureiro', deixei um grande amor, por medo, sim, medo do 'novo'.

Luísa não mostra interesse pela história de Jeneci, mas ele continua a falar.

- conheci uma bela morena por quem meu coração nunca deixou de pulsar, era muito jovem, garboso e imaturo. Nunca esqueci aquele sorriso; parecia me convidar todos os dias para ser feliz. Ah, doce Cora.

Luísa fecha o livro e passa a prestar atenção em Jeneci que parecia não se importar se ela o escutava ou não.

- nos conhecemos na primavera. Foi inesquecível aquela estação. Lembro quando nossos olhos se cruzaram pela primeira vez, ela usava um vestido azul leve, que ao vento, nos meus pensamentos, parecia lindas borboletas azuis.

Uma lágrima 'escapa' dos olhos de Jeneci.

Luíza emociona-se e o encara.

- desculpe-me 'menina', como disse fui um sonhador e como tal, trago comigo resquícios.

Ele continua

- Cora conseguia fazer com que aquele homem 'rude', se tornasse um  'galanteador' uma vez ou outra. Eu sabia o quanto ela era paquerada, mas não tinha noção da jóia rara que era.

Jeneci para por aí.

- ah, moça, acabei me empolgando e acho que enfadei você com minha história.

- meu nome é Luísa. Não enfadou.

O trem se aproxima.

- ei moça, deixe-me ser um cavalheiro e carregar sua mala.

- obrigada Jeneci, mas não vou nesse trem.

- entendi. Aguarda alguém para o próximo? Chegou cedo demais, o próximo trem será daqui...deixe-me ver as horas... duas horas.

- seria esse trem mesmo, se ele tivesse vindo.

- acha que aconteceu algum imprevisto e ele não conseguiu ligar? Não vi você olhar o celular nenhuma vez.

Isso não é da minha conta.

Bem, foi um prazer Luísa.

- o prazer foi meu Jeneci.

- ah, se um dia for a João Pessoa lembre-se de me avisar.

Ele sorri e caminha para o trem.

Luísa fica ali parada vendo o trem partir.

Reflexiva, pega sua mala e retorna.

- ele não veio e nem virá, mas o que isso importa? Foi uma escolha dele. A vida segue. E eu seguirei.

...porque tudo passa. Até ele.

24/03/2017 sexta-feira 08:58

Tati Vitorino
Enviado por Tati Vitorino em 24/03/2017
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