Um Conto Sobre Fidelidade

Capítulo 1

O Cara Que Eu Não Sou

Ser um cretino pode as vezes custar caro, mas não tanto quanto tentar ser um cara legal. Talvez por isso eu tenha resolvido trair minha namorada na ultima terça-feira, dia 23 do mês corrente, em uma festa na casa de Blumenau, meu melhor amigo. Certo, sei que o nome dele chamou a atenção, mas explico isso mais tarde. A questão é que pouco depois da meia noite, estive acompanhado de uma moça da escola chamada Virgínia, na cama dos pais do meu melhor amigo.

Minha namorada chamava-se Flávia, tinha dezessete de idade e estudava na sala do segundo ano. Nos conhecemos há dois anos, na festa junina da escola. Ela era o par de um rapaz chamado Juliano, e eu, que como dançarino era um ótimo fotografo, fiquei de registrar algumas imagens daquela noite. Contudo, na noite da apresentação, Juliano acabou faltando, e como não tinha reservas no time, sobrou pro rapaz das fotos. Não foi a melhor das apresentações, na verdade, até queda teve, mas valeu a pena porque servira não somente para que eu me aproximasse de Flávia, como também que tivesse algo que a fizesse sorrir durante nossas conversas. Foi num desses sorrisos que acabou nascendo o amor que joguei no lixo, tal qual um escritor faz com uma bola de papel em que existe um texto ruim. Eu gostava dela, eu realmente a amava. Mas em algum momento do nosso relacionamento, acabei me cansando. Caramba, um rapaz com a minha beleza e meus dotes de conquistador não devia se prender somente a uma. Claro que Flávia era a garota perfeita com quem eu poderia casar, ter uma família, mas ela era como uma lasanha, que mesmo sendo a melhor coisa do universo, enjoava se servida todos os dias. Meu paladar ansiava por novos pratos.

Na noite em questão, ela me telefonou as sete perguntando se poderia passar em minha casa para assistirmos a maratona de filmes de zumbi. Como eu não estava com a menor paciência para isso, tive que inventar a desculpa de ter que visitar uma prima doente. Ela compreendeu e desejou melhoras, o que havia garantido minha liberdade até o dia seguinte.

O esquema foi arquitetado por Bernarda, amiga de Virgínia e por Blumenau, que acobertara tudo. O momento, os álibis, a oportunidade, tudo favorecia um crime perfeito. Mas como dizia a música: crimes perfeitos não deixam suspeitos, e aquele não fora um. Alguém acabou me vendo entrar de mãos dadas com a moça para dentro do quarto, e pela brecha de sabe-se lá onde viu algumas coisas que por restrição de idade não posso contar. E como se não fosse o bastante, sussurrava para ela todos os defeitos que Flávia tinha e não tinha, como era monótono as vezes ter que ficar ao lado dela, ou ainda, como ela ficava insuportável na TPM. Dentro daquele quarto, o mundo era só Virgínia e o resto era resto. Minha namorada não era exceção.

Não chegou a passar um cêntimo sequer de arrependimento. Eu simplesmente sempre tinha sido alguém que não valia nada, só não tivera, até aquele instante, a oportunidade de descobrir isso. É isso caro leitor, se até esse ponto da história você já elaborou sua lista pessoal de baixos adjetivos para me definir, peço que continue deixando-a guardada, porque há algo que precisa saber sobre essa noite em questão, antes de dizer “nossa, como esse Pedro é cafajeste!”: eu não havia saído de casa.

Tudo o que foi dito acima, fora minha afirmação de que eu não havia deixado minha casa é um boato. Naquela noite eu estava mesmo prestes a assistir a maratona de zumbis e Flávia realmente havia me ligado para saber o que eu estava fazendo. Convidei-a para assistirmos juntos, mas ela disse que estava meio gripada e que era melhor ficar em casa. No dia seguinte, quando a visitei pela manhã para saber se estava melhor, fui recebido com um tapa tão forte que deve ter danificado meu ouvido interno e entortado a mandíbula. Ela pediu que, se eu tivesse o mínimo de vergonha na cara, nunca mais fosse procurar ela, então bateu a porta e se fechou. Só na escola descobri que tinham inventado todo esse enredo com a intenção de sabotar meu namoro, mas restavam perguntas: quem? Por que? E acima de tudo, como eu iria conseguir provar minha inocência?

Continua...

Neudson Nicasio
Enviado por Neudson Nicasio em 17/04/2017
Código do texto: T5973747
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