Amaldiçoado
Tu me salvaste. De mim mesmo. Tu não tem culpa. Talvez a culpa tenha lhe carregado, com seu sorriso atemporal, até a nave do meu desejo. E, assim salvaste-me. Dos demônios que conspiram para nos convencer da existência de almas perfeitas. Gêmeas.
Não há precisão do seu inicio. Nunca há. Nem como foi que isto se alimentou até tornar-se a desventura primeira de qualquer um. Antes mesmo das reclamações do corpo. Aliás, este aí é torcido até a insânia. Ao tênue véu de tudo que nos lembra o sensato. O calmo e ponderado.
E agora? Onde tu está? Vou dizer. Corroendo, obsedando, opugnando, devastando e amolecendo-me. Tudo isso em um endereço perdido. Ali, onde nem mesmo os correios da agonia chegam.
- Oi.
- Oi.
- O que tá fazendo?
Mensagem não visualizada. A eternidade para responder.
- Tô incomodando?
Mensagem visualizada. A eternidade, mais um, e a reposta vem arrastada.
- Não, que isso.
Sem exclamação. Sem, por isso, interesse.
- Tô ocupada, na verdade. Arrumando umas coisas aqui.
- A, tá. Certo. Depois nos falamos, então.
Um emoji "joinha" foi a resposta. Nada pode ser mais explícito.
Arrasto-me em todos os problemas que estar amaldiçoado pode acarretar. E são muitos. Mais do que podemos contar. Quando sabemos sua aritmética.