PRISÃO ESPERANÇOSA

Meio dia segue nesse dia normal, é domingo, como sempre por esse lado da cidade que prefiro não dizer qual, está tudo parado, não há lojas abertas e todas as casas têm muro e grade. Parece até que nesse momento nada existe. Também não há ninguém neste apartamento cinza. Todos viajaram, uns nem disseram para onde, outros saíram, mas não convidaram. Teve até o ultimo que disse que não sabia quando voltaria. Decidi fechar a única janela que desse apartamento vago, não compreendo este instinto, apenas sinto vontade de abstrair-me. Talvez os psicólogos digam que estou doente, que preciso de ajuda o mais rápido possível, ou que tenho traços suicidas. Não sabendo eles que sou um soldado guerreando constantemente contra tal doença, se é que quero me expressar dessa forma. Até mesmo eles lutam contra isso. Oh ser de vidro. Na verdade só há doença quando ela consome, quando ela vence, quando ela cala, mas eu ainda estou vivo, ela não se impôs contra minha vida e esperança.

Me encontro sentado junto à mesa, Está tudo estagnado, o clima aqui é um pouco abafado, mas por compreensão eu aceito o calor breve. Já tentei comer algo, não quero nada. Lembrei que havia uns pães dentro do armário. Peguei, comecei a comer por pedaços, ele é um pão de amor.

Muito do que sinto é cansaço e uma tristeza que queria muito não aceita-la como tristeza. Jurei que seria mais forte e paciente com as pessoas e comigo, o paciente consegui, mas o forte foi bem mais forte que eu, então, não consegui ser forte. Não há ninguém forte, nós nos confortamos que somos por algo que nos prende. Todos nós temos um carcereiro. Todos nós temos um acorrentador, que é até mesmo a corrente em si. Digo isso em dor, hora ou outra percebemos esse sentimento de prisão.

A minha prisão era bela, era um cadeia resistente, por vezes tentei fugir, mas aquele olhar me segurava todas às vezes que eu via aquele sorriso esperançoso, aquele abraço profundo. Foi incrível como eu não esperava por isso, me desvinculei dos meus vícios, de certas certezas. Agora vivo seguro por esse cabo forte que não me deixa cair. Já peguei as facas da gaveta, mas por tua lembrança elas pareciam de borracha.

Começo a mastigar novamente o pão que tu me trouxeste ontem pela manha. Eu quis conversar um pouco mais, mas estava preocupado com a tua saúde e deixei você ir descansar na sua casa. Ser teu prisioneiro está sendo gratificante e divino. Não consigo voltar àqueles princípios pobres e elementares. Tua vida é real e com um grande significado pra minha, tu me segurastes de uma forma que penso em seguir. Meu amor... Sei que não moramos juntos. No entanto, estou ciente que tu me amas eu e te amo, assim, consigo segurar essa barra mal formada.

Assim, paro meus lábios ao apartamento que é, durante esse meio dia, levanto-me e abro uma brecha da janela. Tu me prendeste com amor. Por isso sinto-me liberto diante da tua prisão. Prisão essa que é o valor da tua vida em mim. Estou ansioso pra te ver, Meu amor...

-Eu te amo...

Antônio Freire
Enviado por Antônio Freire em 05/07/2017
Reeditado em 10/12/2017
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